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II SÊRIE-C — NÚMEEO 35
de informação, que, como sabe, é um nicho do mercado de hoje de alto crescimento. São ideias que estão na mesa
c que podem vir a ser concretizadas ou não, mas isto
dentro desta área estratégica. Portanto, é isto que está em causa na PORTUCEL.
O Sr. Nogueira de Brito (CDS): — Sr. Ministro, nunca foi pensado, nessa perspectiva do papel, porque, sem dúvida, 6 realmente um sector importante no contexto da nossa economia, o alargamento da influência da indústria do papel a montante, para as indústrias do equipamento e da própria concepção e de engeneering da indústria? Tenho a impressão de que, nessa matéria, estamos a perder esse comboio. Isto é, trata-se de uma indústria em que fomos inovadores, em que tivemos uma grande influência nos mercados mundiais, em que temos o domínio da tecnologia dos mercados mundiais, mas se ela um dia acabar — e ela está em crise neste momento, não sabemos o que é que vai acontecer—, se lambem essa marchar para o Sul, para África, por exemplo, o que é que nos fica? Enquanto noutros países, como na Finlândia, ficou, por exemplo, a tecnologia do equipamento e a tecnologia da própria concepção, no nosso caso o que é que fica? Há ou não essa preocupação na sua política industrial? Aí, justifico inteiramente a existência de uma política industrial!
O Orador: — Sr. Deputado, essa é uma questão pertinente. Foi por isso que nós, no quadro do PEDIP, desenvolvemos um programa, o Programa de Desenvolvimento da Indústria de Bens e Equipamento (PRODIBE), que justamente listava, de uma forma talvez voluntarista, quais os casos em que nós apoiamos e majoramos os apoios, damos todas as facilidades.
Posso dizer que na Finlândia tentei convencer, por exemplo, a VALMET a investir em Portugal neste sector. Não consegui tudo, mas ela veio investir em tractores! Consegui que viessem fazer a fábrica de tractores no Montijo, isto é, foi na sequência dessa minha viagem que eles vieram para Portugal com os tractores. Não consegui que viessem com as máquinas, até porque, na altura, estavam a vender a máquina à SOPORCEL. Era essa uma das ideias que tínhamos.
Mas o problema que temos aqui, como disse há pouco, é o de que os industriais portugueses sozinhos não o fazem, não serão capazes, possivelmente! Não o conseguimos alé agora, mesmo com estes programas, majorando e dando maiores apoios do que no quadro normal do PEDIP. Aliás, em lermos de investimento estrangeiro, também não conseguimos ainda captar projectos para Portugal nesta área. Mas não lenha dúvidas de que é uma das nossas prioridades,
com todas as dificuldades que isto tem. Corremos o risco de uma indústria destas poder emigrar devido às dificuldades e de ficarmos sem ter domínio sequer sobre os bens e o equipamento, tal como acontece com os outros.
Aliás, nesta matéria, há outra grande discussão sobre a integração da pasia em papel, ou seja, se essa integração deve ser física ou se deve ser em lermos dc mercado. Como sabe, há outras estratégias, em lermos de empresas de pasta de papel que não integram fisicamente em papel ou que vão comprar papelarias nos mercados para os quais exportam. No fundo, é uma integração junto do mercado consumidor. Isso constitui uma discussão que é feita, mas compreendo que, no quadro de uma empresa que era pública, é muito difícil ter estratégias destas.
Portanto, temos estas três empresas — a PETROGAL,
a Siderurgia c a PORTUCEL — que estão, neste momen-
to, numa fase mais adiantada de privatização; lemos tarrs-bóm os estaleiros navais de Viana do Castelo, e temos a reestruturação da EDP, que está a ser feita, e da qual podem
depois sair empresas que poderão sei õbjèCtò dfe pva&açãG parcial. Mas os Srs. Secretários dc Estado da Indústria e da Energia poderão acrescentar algo sobre esta matéria.
Ainda antes de terminar, cu gostaria dc falar sobre o problema que me colocou acerca da COELIMA e dos sectores industriais «tradicionais», solicitando desde já aos Srs. Secretários de Estado, respectivamente, da Indústria e da Energia que, depois, completem as minhas palavras no que toca a estas duas matérias.
Sr. Deputado, da última vez que estivemos reunidos, levantou o problema da COELIMA, tendo-lhe eu respondido — e essa é a verdade — que esta matéria foi tratada ao abrigo do decreto-lei sobre a gestão controlada. O que aconteceu foi que houve um conjunto de bancos que aceitaram reduzir os seus créditos para valores da ordem de 10 % do total. Claro que se põe aqui o problema de saber o que é o valor de mercado de um crédito. É óbvio que os créditos não têm o valor nominal por que estão inscritos. Então, quanto valem?
Alé hoje, infelizmente, tem havido um grande drama para conseguir reestruturar financeiramente as empresas. Ora, tenho experiência deste problema, até por ter trabalhado na banca e saber o que acontecia no passado. É que os bancos não estavam provisionados para estes créditos incobráveis, portanto, resistiam a fazer write-off, fugindo disto como «o diabo da cruz». Assim, em termos dos seus resultados, havia uma excelente cosmética. Alé acontecia que os resultados melhoravam porque inscreviam juros de mora do que já eram créditos incobráveis. A situação chegou a tal ponto que um governador do Banco de Portugal me disse que os bancos estavam com activos extremamente rígidos, tendo-lhe eu respondido: «Sr. Dr., em linguagem de engenheiro, isso significa que não têm clientes, mas só devedores.» Portanto, era isto que sc passava nos tempos difíceis da economia em Portugal.
Felizmente, a recuperação da economia portuguesa que se registou e também o seu crescimento permitiram à banca fazer provisões sobre os tais créditos incobráveis. Assim, hoje em dia, a banca lem à-vontade e facilidade de fazer write-off, visto que isto já está provisionado.
Portanto, Sr. Deputado, não deve admirar-se de que, neste momento, a banca possa fazer operações que, em termos de solução financeira, não conseguia fazer há uns anos atrás.
Agora, o problema que se põe — ainda não foi resolvido nem a solução vem nos livros — é o de saber qual é o valor de mercado destes créditos. A discussão é simples:
se a empresa for à falência, os bancos nada recebem, pelo que os créditos valem muito menos do que o seu valor nominal inscrito.
No caso da COELIMA, foi assim que os bancos públicos procederam, alé porque eram os que tinham créditos sobre esta empresa, pois, como sabe, a banca privada só começou a trabalhar há pouco, pelo que não teve tempo para participar em operações deste tipo, à excepção de um ou outro caso, mas de pouca monta. Portanto, este problema envolve, naturalmente, bancos públicos porque são os que já existiam na estrutura nacional.
O Sr. Deputado poderá é dizer que, quanto a esta matéria, poderá ter havido algum interesse por parte de algum membro do Governo que terá estimulado os bancos públicos a procederem a uma avaliação de mercado dos seus créditos. Mas é óbvio que os bancos aceitaram