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II SÉRIE -C— NÚMERO 31

O Sr. António Campos (PS): — Depois, foi o Sr. Dr. Eduardo Maia Tavares .quem ficou, responsável pelo animal. ■ .

O Sr. Dr. José Carlos de Azevedo Pereira (Técnico do Agrupamento de Defesa Sanitária da Cooperativa Agrícola de Barcelos): — Exactamente!

O Sr. António Campos (PS): — Muito obrigado.

O Sr. Presidente (Antunes da Silva): — Sr. Dr. José Carlos de Azevedo Pereira, muitíssimo obrigado pelo seu depoimento, e pela disponibilidade manifestada.

Pausa.

Entretanto, deu entrada na Sala o Sr. Prof. Doutor Manuel Cardoso Laje.

Vamos agora ouvir o Sr. Prof. Doutor Manuel Cardoso Laje, ao qual, em nome da Comissão,.agradeço a disponibilidade que manifestou para prestar aqui o seu depoimento sobre a existência ou não, em Portugal, da encefalopatia espongiforme bovina.

Seguindo a metodologia utilizada até agora, o Sr. Prof. Doutor Manuel Cardoso Laje fará, se assim o entender, claro, uma intervenção inicial e, depois, os Srs. Deputados colocarão as questões que entenderem.

Tem a palavra, Sr. Prof. Doutor Manuel Cardoso Laje.

O Sr. Prof. Doutor Manuel Cardoso Laje (Investigador--Coordenador do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária): — Em primeiro lugar, quero cumprimentar o Sr. Presidente e os Srs. Deputados e colocar-me à disposição, com toda a simplicidade, para responder ao que souber, porque ao que não souber terão de se confrontar com a minha ignorância, que vai sempre sendo muita.

Se me dessem licença, começaria por fazer uma pequena introdução, para situarmos o problema, e depois estaria à vossa disposição. ' ' .

Sou investigàdor-coordenador do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária há mais de 30 anos e as pessoas ligadas ao campo, como é o caso do Sr. Engenheiro António Campos, já me conhecem, pois nem sempre estou no Laboratório, também vou para o campo. Fui professor de Histologia da Faculdade de Medicina Veterinária durante 14 anos. Preparei o meu doutoramento em Itália, precisamente em neuropatologia aviária. E, neste momento, sou professor catedrático convidado da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, no curso de Veterinária, de Patologia e Anatomia Patológica. Todos estes empolamentos são só para os situar, não têm qualquer importância...

O Sr. Presidente (Antunes da Silva): — Têm, com certeza, importância, Sr. Professor. Peço desculpa por interrompê-lo.

O Sr. Prof. Doutor Manuel Cardoso Laje (Investigador--Coordenador do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária): — É que eu tive a felicidade, que outros não tiveram, de ter acesso a estas fontes dé estudo.

Entrando agora no problema da encefalopatia espongiforme dos bovinos, queria fazer uma pequena introdução, necessariamente, não muito agradável, mas é para VV. Ex.'* saberem até que ponto poderei prestar alguns esclarecimentos.

Com a recente polémica na Assembleia da República e nos órgãos de informação sobre a chamada «doença

das vacas loucas», a encefalopatia espongiforme dos bovinos (BSE), ficou a impressão, na opinião pública, de que o ex-director do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, Dr. Matos Águas, não tinha declarado até agora a existência da encefalopatia espongiforme dos bovinos em Portugal, apenas por imposição do ex-director-geral da Pecuária, Dr. Machado Gouveia. Creio que não foi o caso.

O Dr. Matos Águas, como técnico consciente que é, sabe

perfeitamente que, na altura, não dispunha dc dados suficientemente seguros para fazer tal declaração. Certamente, também por culpa própria, já que, quanto a nós, o processo de diagnóstico da BSE foi mal conduzido, a nível do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, desde o início.

O Dr. Matos Águas, sem consultar o Departamento de Patologia do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, uma vez que de diagnóstico histológico se tratava, envia para o Central Veterinary Laboratory of Weybridge, no Reino Unido, para aprender as técnicas de diagnóstico histológico da BSE, o Dr. Alexandre Galo, que, dos patologistas, é o menos qualificado e sem prática de diagnóstico em histopatologia.

Como investigàdor-coordenador, na área da patologia, com mais de 30 anos de prática de campo e laboratório, com cerca de 20 anos a ensinar Histologia a centenas de veterinários, como professor da Faculdade de Medicina Veterinária e mais alguns anos como professor catedrático responsável pela Patologia e Anatomia Patológica do curso de Medicina Veterinária da UTAD e ainda, por coincidência, com um doutoramento em Neuropatologia preparado em Itália, na Faculdade de Medicina Veterinária de Milão, penso que seria curial eu ter sido ouvido. Mesmo assim, alertei na altura o Dr. Matos Águas aconselhando-o a ter cuidado e prudência na escolha dos técnicos, na interpretação dos dados e no diagnóstico da BSE. Daí resultou, embora a minha intenção fosse a melhor, a hostilidade e incompreensão do Dr. Galo e o meu afastamento de todo o processo pelo Dr. Matos Águas.

Comigo foi também marginalizado o Departamento de Patologia, onde trabalham, como chefe de departamento e chefe de serviço de Anatomia Patológica e Histopatologia, respectivamente, o Dr. Rui Baptista e a Dr." Madalena Monteiro, dois dos nossos melhores histopatologistas veterinários, também eles postos de parte sem nunca terem sido consultados nem informados sobre o assunto.

Passado algum tempo, vieram a confirmar-se os meus receios — foi enviado para o Central Veterinary Laboratory of Weybridge o Dr. Azevedo Ramos, director do Laboratório do Porto, esse sim, um histopatologista veterinário com larga experiência para, finalmente, alguém aprender as técnicas de diagnóstico da BSE. Nunca mais fomos consultados sobre o assunto e, até agora, apenas duas análises de vacas suspeitas de BSE deram entrada no Departamento de Patologia do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, uma das quais há poucas semanas.

É, no entanto, nossa convicção que devem existir em Portugal bovinos importados do Reino Unido com BSE. Como técnico, é essa a nossa convicção sem qualquer dúvida! Só que, até agora, não nos consta que tenham sido realizadas no Laboratório Nacional de Investigação Veterinária as provas laboratoriais necessárias e suficientes para declarar com fundamento científico seguro a existência de uma doença num país como Portugal, até agora oficialmente isento. E não é que o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária não disponha dos meios humanos e materiais necessários e suficientes para o poder fazer; para