19 DE JUNHO DE 1993
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diagnóstico histopatológico, háoutros exames a fazer e se a análise epidemiológica pode eventualmente vir dar ou não uma confirmação da doença. ' -
Gostava também de saber as datas precisas em que os dois animais foram enviados para o seu Departamento, qual o ponto da situação em relação ao diagnóstico e que exames estão a ser feitos.
O Sr. Presidente (Lino de Carvalho): — Tem a palavra o Sr. Prof. Doutor Manuel Cardoso Laje.
O Sr. Prof. Doutor Manuel Cardoso Laje (Investigador--Coordenador do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária): — Há pouco referi dois casos, porque,, como disse a VV. Ex.x, o meu Serviço de Patologia foi marginalizado em relação ao processo. Tenho conhecimento, designadamente através dos jornais, que em alguns animais a necropsia foi feita no Porto e na propriedade da Tocha, onde o Laboratório tem uma instalação. Mas os técnicos do' Laboratório de Investigação Veterinária do Serviço de Patologia não foram convocados para essas nècropsias.
Quanto a estes dois casos que entraram —e é possível que haja mais —, diria o seguinte: de um deles há material, não tendo eu conhecimento do resultado, e o outro foi precisamente o de um animal que foi enviado para o Laboratório de Investigação Veterinária para aí ser feita a necropsia. Por acaso, assisti a ela, tendo o animal sido abatido (como convém) para se poder fazer o diagnóstico. O animal foi abatido com uma injecção endovenosa e depois foi-lhe retirado o cérebro para a histopatologia poder ser feita nas melhores condições.
Dada a situação em que foi colocado o Departamento de Patologia, todo o processamento, de material de BSE, em termos de histopatologia, esteve a cargo dos Drs. Alexandre Galo e Azevedo Ramos. Portanto, os diagnósticos são da sua inteira responsabilidade. Neste último caso, o chefe de departamento assinou o boletim de saída. E tenho conhecimento (não directamente) de que, como V. Ex.a disse, num deles vinha lá que as lesões se enquadravam na BSE. Ora, nós, histopatologistas, empregamos muitas vezes essa expressão precisamente quando não temos uma garantia de que se trata dessa doença. Quer dizer, afirmamos que as alterações lesionais são lesões sobreponíveis, idênticas às da BSE. Só que não temos elementos suficientes que nos permitam afirmar que se trata de BSE, porque nos faltam muitas coisas, designadamente porque não temos possibilidades de jogar com os dados epidemiológicos a nível do laboratório ou porque não foi feito um estudo de fibrilhas (o que se justifica nos primeiros casos). Portanto, dizer que se enquadra não significa que seja um dado adquirido.
Quanto às afirmações que têm saído em comunicados de haver ou não a doença, como V. Ex.a deve compreender, a minha posição é um pouco melindrosa. Apenas diria isto e mais nada: uma coisa é os comunicados feitos por autoridades sanitárias e por colegas meus com responsabilidades;.outras é os que são feitos por mim como cientista, como histopatologista. Um boletim, um diagnóstico, um resultado, um relatório feito por um histopatologista, tem de ser feito de uma forma diferente do relato-, rio que é elaborado por um responsável pelos serviços, que terá razões que desconheço, mas que não são as minhas. Felizmente, os meus superiores — presto-lhes essa homenagem — nunca coarctaram a minha liberdade de fazer as afirmações que entender em termos científicos. Creio que a
ciência é para os cientistas e, com o devido respeito, a política é para os políticos. Se todos fizermos isso bem feito, penso que até as vacas agradecem.
Risos.
O Sr. Presidente (Lino de Carvalho): — Só colocava uma questão para precisar melhor o sentido daquilo que V. Ex.° afirmou.
Disse que ao seu Departamento tinham sido levados dois casos mas que não tinham elementos suficientes, do ponto de vista cienüTico, que lhes permitissem dizer que havia a doença em Portugal.
Tendo eu em conta o somatório dos casos que os depoentes anteriores aqui vieram trazer (só os dois depoentes anteriores trouxeram quatro casos ou quatro suspeitas de casos) e dizendo V. Ex.a que não tem elementos suficientes para determimar se a doença existe, pergunto: isso deve-se a uma falta de elementos estatísticos ou porque o número de casos que teve em seu poder não foi suficiente para determinar a existência dessa doença? É capaz de dar as suas razões por que o Departamento de Patologia, que tem os melhores investigadores do Laboratório, foi marginalizado num processo que se destinava a conhecer com exactidão a dimensão da doença e a própria doença?
O Sr. Prof. Doutor Manuel Cardoso Laje (Investigador--Coqrdenador do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária): — Em relação a esse termo «marginalizados», queria precisar que um técnico do Departamento foi escolhido pelo director, sem a nossa opinião. O director entendeu que esse seria o melhor, nós entendemos que não. Portanto, foi esse técnico que conduziu o processo.
Quanto a estes dois casos, relativamente a um deles tenho conhecimento do boletim de entrada de material mas não tenho conhecimento do boletim de saída de resultados; no segundo o resultado é estritamente histopatológico: nós só nos limitámos a fazer a necropsia — nem fomos nós que fizemos, foram os Drs. Alexandre Galo e Azevedo Ramos. O Departamento.deu saída ao boletim de análise, com o respectivo quadro histopatológico. O resto é da competência dos outros departamentos do Laboratório, que fazem a microscopia electrónica, a virulogia, a bacteriologia. Isso transcende-nos, pelo que não sei se foram ou não feitos outros exames. Este boletim a que me refiro foi feito estritamente pelo Serviço de Histopatologia. Nós limitámo-nos a fazer uma fixação do cérebro e a sua observação macroscópica e as pessoas responsáveis, os Drs. Azevedo Ramos e Alexandre Galo, verteram para o boletim as alterações que entenderam que viram no exame histopatológico. Portanto, isso é estritamente do âmbito da histopatologia. Agora, a pessoa que está à coordenar o processo é que terá de fazer o puzzle, juntando este boletim com os dados epizootológi-co e com os de outros exames que eventualmente possa ter mandado fazer. Essa pessoa é que terá, depois, de dar o resultado final. Não somos nós: nós limitamo-nos apenas a dar a nossa participação para o resultado.
O Sr. Presidente (Lino de Carvalho): — Como não há mais nenhum Deputado inscrito, dou por terminado o depoimento do Sr. Prof. Doutor Manuel Cardoso Laje, a quem agradecemos a presença e a disponibilidade para vir a esta audição.
Lembro aos Srs. Deputados que amanhã, sexta-feira, prosseguem os trabalhos, com a audição, às 10 horas, do Dr. Matos Águas.
Está encerrada a reunião.
Eram H horas e 55 minutos.