19 DE JUNHO DE 1993
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ça, em Novembro de 1986, na Inglaterra, onde os animais estiveram submetidos a uma contaminação por via alimentar, pelo agente etiológico que estaria na origem desta doença:
Em Novembro de 1986, a Inglaterra identificou e caracterizou a doença;
Em Outubro de 1987 fez a primeira publicação no Veterinary Record;
Em Abril de 1988, a constituição de um grupo de trabalho presidido por Sir R. Southwood, que elaborou um relatório que seria, por assim dizer, seguido por todos aqueles que se debruçam sobre esta matéria;
Em Maio de 1988 fez a notificação à OIE;
Em 2\ de Junho de 1988 existiam 867 casos confirmados de BSE e a doença foi tomada como de declaração obrigatória;
Em 18 de Julho de 1988 houve interdição de incluir farinhas de carne como fonte de proteínas para os ruminantes;
Em 18 de Agosto de 1988, o abate obrigatório dos animais suspeitos de BSE e destruição total das carcaças;
Em 30 de Dezembro de 1988, interdição de venda e utilização do leite tirado de animais suspeitos de BSE, assim como para consumo humano ou animal;
Em 31 de Dezembro de 1988 já havia 2160 casos identificados em 1667 rebanhos;
Em 30 de Junho de 1989, 5375 casos em 4080 rebanhos;
Em 27 de Novembro de 1989, 8100 casos.
Convirá insistir em que os dados, epidemiológicos indicam que a encefalopatia espongiforme dos bovinos deriva da scrapie dos ovinos e caprinos, e que a doença pode ser devida a uma estirpe bovina do agente adaptada aos bovinos e responsável por uma forma subclínica não detectável.
Na Grã-Bretanha a doença é comum e está largamente espalhada. Desde 1981-1982 que se sabe terem estado os bovinos expostos, mas os primeiros casos da doença só ocorreram em 1985-1986, tendo sido responsabilizado, pela contaminação o consumo de farinhas de carne e osso, produzidas industrialmente para a alimentação do gado bovino.
Esta farinha de carne e de osso foi proveniente de carcaças e despojos de pequenos ruminantes, vítimas da scrapie.
Os criadores ingleses viram ser abatidas 5500 vacas, vítimas de um processo degenerativo do sistema nervoso central, tendo já em 1988 a encefalopatia atingido 3000 rebanhos, distribuídos por todo o território, sendo que nesta data a doença progredira à razão de 350 novos casos por mês.
Porém, a doença não se transmite horizontal ou verticalmente, e a maior parte dos casos clínicos deveram-se à contaminação alimentar dos animais antes de atingirem a idade adulta, situando-se a sua maior incidência na idade de 4-5 anos.
Embora se saiba que o agente patogênico da BSE não é veiculado pela placenta, estão neste momento em curso os estudos destinados a admitir ou não esta eventualidade.
Daqui que eu admita que o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, ou a ex-Direcção-Geral da Pecuária, tenha comprado a vitela de um animal que esteve doente, e abatido por encefalopatia.
No entanto, o diagnóstico da BSE baseia-se em: sinais clínicos, que não são demonstrativos nem específicos mas que dão evidentemente uma indicação do que é um processo nervoso; demonstração post mortem, em lugares apropriados do sistema nervoso central, dos .vacúolos; deve ter--se em conta que o aparecimento de neuronas vacuolizadas
nos ruminantes é relativamente frequente, em condições normais, em encéfalos normais que são capazes de dar vacuo-lização no neuropilo e em neuronas, ou por artefactos da própria técnica histológica. Por isso, alguns autores, como Garcia de Jalon e outros, recomendam a quantificação do número de vacúolos existentes.
Daqui que se possa afirmar que a espongiose não é considerada significativa porque pode ser facilmente obscurecida por alterações autolíticas — já aqui referidas — e pela desagregação ou disrupção dos tecidos nos processos técnicos de fixação do material.
Relativamente à fixação de material, sabemos que há colegas que mandam para o Laboratório fragmentos ou mesmo o encéfalo fixado. Aqui põe-se logo a questão: fixado em que quantidade de líquido? É porque, para fixar o sistema nervoso de modo a que as células nervosas não sofram a autólise, é necessária uma quantidade bastante grande de líquido, de 1 para 10, aproximadamente — isto está definido por indicação universal. São necessários cerca de 81 de soro fisiológico salgado para a imersão do encéfalo dos bovinos. Depois, o encéfalo fica durante três semanas em fixação e só ao fim desse tempo se podem fazer os cortes e a técnica histológica apropriada para fazer o diagnóstico.
Isto tudo implica esta ideia: é que, realmente, se não houver uma competência de ordem técnica que garanta, à partida um tratamento adequado do material que se envia para o laboratório, há muitos problemas que podem surgir e induzir em erro os técnicos e os especialistas que tenham de fazer o diagnóstico.
Por outro lado, tem interesse, no capítulo do diagnóstico, não menosprezar a intervenção da microscopia electrónica, que é essencial, sobretudo num país em que a doença ainda não foi detectada. Quando num país se faz o estudo de uma doença pela primeira vez, devemos recorrer a todos os meios auxiliares de diagnóstico, porque, de contrário, poderemos ser precipitados, não actuar com bom senso e elaborar um diagnóstico que, à partida, esteja errado.
Não digo que no caso em discussão até nem possa haver, de facto, problemas relacionados com a encefalopatia espongiforme. É natural que haja pois importámos de Inglaterra um determinado número de animais, um número bastante apreciável de animais, mas é preciso que, quando se detecta pela primeira vez uma doença num país, nos rodeemos de todas as cautelas para que o assunto seja estudado como deve ser. Se eu tivesse sido o director do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, nessa altura, pese embora ao Sr. Dr. Matos Águas, não teria consentido na saída do diagnóstico para fora dos muros do Laboratório, nem mesmo para a Direcção-Geral da Pecuária. Eu ter-me-ia rodeado de todos os meios indispensáveis para que o Laboratório actuasse, servindo-se de todos os meios, desde a microscopia electrónica, com todas as técnicas por mais demoradas que fossem, até chegar a um diagnóstico positivo. De contrário, estaríamos a contribuir para criar um alarme à volta de uma decisão que já de si poderia ser alarmista. Isto está errado. Eu não actuaria como fez o meu colega, Matos Águas, por quem tenho a máxima consideração e estima — ele sabe-o e digo-o na sua frente, face a fa.ce, oara que não possa haver dúvidas sobre esta matéria.
Evidentemente, o Sr. Dr. Matos Águas falou no recurso ao murganho, ao ratinho. É evidente que poderia haver, de facto, uma certa demora. Falou em 500 dias, não iria a tanto, iria a 126 dias, mas, de algum modo, até podia recorrer, tentar encontrar estirpes adaptadas para que o período de