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II SÉRIE -C— NÚMERO 31
' O Sr. Presidente (Antunes da Silva): — Sr. Deputado António Campos, peço-lhe que não interrompa o Sr. Professor quando ele está no uso da palavra,
O Sr. Prof. Doutor António Agostinho Dias Correia
(Professor da Escola Superior de Medicina Veterinária): — Em função das análises que o Sr. Director-Geral tinha na mão — até há dias tive oportunidade de ver nas mãos do distinto investigador Azevedo Ramos fotografias da BSE obtidas no microscópio óptico e idênticas a outras que tenho na pasta —, e dado que, para mim, como disse há pouco, e bem, o Sr. Deputado, este é um processo que está a ser estudado há relativamente poucos anos. Essas lesões podem hão ser inequívocas e manifestam apenas um efeito do processo, e não reflectem nada em relação ao agente. E é por isso mesmo que proponho —e já propusemos em 1990 — que fossem feitos outros exames, que não caracterizassem efeitos mas sim o agente responsável pela BSE, que são as tais microfibrilhas, a tal microscopia electrónica, a tal electroforese, etc. Portanto, em 1990, todas essas questões tinham sido levantadas.
Aliás, essas metodologias não são de rotina, e é claro que a utilização da microscopia óptica, tal como o LNTV fez depois de terem ido a Inglaterra investigadores frequentar dois cursos em que obtiveram aprovação — os cursos podem ser frequentados e as pessoas não serem aprovadas e podem não ficar capacitadas para fazer um diagnóstico —, é um diagnóstico que tem um valor igual às análises clínicas em que por vezes se faz uma e posteriormente são precisas outras para clarificar todo o processo.
E é por aí, repare, que eu, pessoalmente, e dada a minha formação bioquímica, senti que era necessária mais qualquer coisa pois para mim não era suficiente, neste contexto e neste momento, agarrar apenas no exame histopatológico porque este exame pode não transmitir essa certeza, embora o Dr. Azevedo Ramos me tenha dito que esta situação, com um grande grau de certeza, estava correlacionada em 90% com situações de BSE.
Todavia, acho estranho, por duas ordens de razões. Em primeiro lugar, o material tem de ser colhido em condições muito especiais. Repare que no primeiro caso, em 1990, o animal fez uma fractura femoral, foi abatido e só cinco dias depois é que o material foi enviado ao LNTV. Mas para um diagnóstico da BSE é preciso unv processo de fixação especial. Tenho dúvidas, embora depois no dignóstico histopatológico se tivessem confirmado aspectos lesionais característicos. É estranho num animal que teve já um certo grau dé autólise e após a morte há um quadro característico que
coincide com a BSE, e de duas uma: ou esse quadro pode aparecer em situações que não sejam específicas de BSE ou então não há dúvida de que a informação dos ingleses, quando nos dizem que não pode ocorrer autólise, não é suficiente.
Portanto, tentei responder à primeira pergunta, mas não sei se está satisfeito.
O Sr. António Campos (PS): — Mas é que são cinco casos! Em relação a um ainda podíamos admitir.
O Sr. Prof. Doutor António Agostinho Dias Correia
(Professor da Escola Superior de Medicina Veterinária): — Mas continuo a dizer-lhe o mesmo. Para mim há fortíssimas suspeitas mas é necessário esclarecê-las. Todavia, tenho re\utância em só com aquele exame assumir internacionalmente a posição clara de dizer que há. É que os ingleses, em 1989, quando nos apareceram em Bruxelas e
lhes- foi proibida a exportação de bovinos, já tinham feito o resto, já tinham visto o prião em microscopia electrónica,
tinham feito electroforese, inoculações, etc. .Portanto, eles já
tinham caracterizado e identificado o agente.
E isto encaixa na pergunta, muito interessante, que me fez há pouco: «se fosse em Inglaterra como era? Este animal, se fosse em Inglaterra, tinha BSE ou não?» Sr. Deputado, eu não sei se ele teria BSE. Sabe que por vezes paga o justo pelo pecador, como viu há dias na televisão em relação à peste suína africana e em que animais suspeitos, mas dos quais não se tinha certeza de terem a doença, são abatidos.
Portanto, esta prova, este exame histopatológico é magnífico como rotina para fazer uma prospecção, especialmente em Inglaterra, um país onde já está declarado o processo. Quanto a mim; utilizar apenas este processo, para dizer que existe... Para mim era necessário ir mais além. E oxalá que os Srs. Deputados consigam, com a vossa força, impulsionar a investigação científica para que isto venha a ser confirmado, porque teremos, nessa altura, provas seguras de que este exame histopatológico foi realizado nas melhores condições: ■
Passando à segunda pergunta, sobre a importação de priões realizada pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, e que o Ministro proibiu, devo dizer que não estou bem dentro do assunto...
O facto de o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária querer fazer as coisas, isso podem ser questões de hegemonia. Não percebo por que razão todos os sectores, laboratórios e pessoas interessadas no processo não o hão--de estudar. A grande autoridade mundial nesta matéria é um homem da neuroquímica humana que trabalha num laboratório de bioquímica e biofísica nos Estados Unidos da América: o Dr. Prusiner.
Há pouco, quando falava na microscopia electrónica, não referi os cientistas portugueses que identificaram isto com grande facilidade em 1968. São o Professor David Ferreira, que está na Faculdade de Medicina, e a esposa, uma senhora sueca que colabora com ele. Portanto, não percebo o facto de o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge querer e não...
O Sr. António Campos (PS): — Também não percebo!
O Sr. Prof. Doutor António Agostinho Dias Correia (Professor da Escola Superior de Medicina Veterinária): — Pois! Quantas mais pessoas estiverem a trabalhar nisto, melhor. Mas o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária é que se opôs. Tenho o maior respeito e admiração pelo Laboratório, onde trabalhei alguns anos, e pelo Dr. Matos Águas, que é uma pessoa que se tem preocupado, de alguns anos a esta parte, com esta matéria e é um profundo conhecedor em matéria de priões. Sei isso.
A terceira pergunta está respondida. A prova serve para efeitos de triagem. Quando, em 1989, os ingleses reconheceram na CEE que o processo lá existia, não se basearam apenas no exame histopatológico, todos os outros exames tinham sido feitos: as microscopias electrónicas, as microfibrilhas, as SAF estavam caracterizadas, tinha-se visto com alguns reagentes químicos, etc.
Quanto à quarta questão, sobre se o director sonegou dados à comunidade por razões mais importantes em termos de consumo, não o sei esclarecer sobre esse assumo
porque não- estou dentro dele, mas penso que a preocupação do director-geral da Pecuária, na medida em que não criou alarmismos na opinião pública...