19 DE JUNHO DE 1993
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Águas caracterizou mesmo alguns deles. Diz ele que, para além da necessidade de analisar a vacuolização do cérebro, é também preciso analisar as fibrilhas associadas.
Por é que o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária não fez isso desde há três anos? Disse-se que o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária tem priões, tanto assim que o Laboratório Ricardo Jorge quis importar priões, mas o director-geral da Pecuária não permitiu tal importação dizendo que o Laboratório Nacional de Investigação Veterinária os tinha. O Laboratório Nacional de Investigação Veterinária tinha esses priões? Se os tinha, por que não os utilizou?
O Sr. Presidente (Antunes da Silva): —Tem a palavra o Sr. Dr. Alexandre Galo, a quem solicito a brevidade possível, uma vez que já registei as inscrições dos Srs. Professores Amaral Mendes e Apolinário Vaz Portugal, que cumprimento desde já, pedindo-lhes desculpa pelo atraso que está a verificar-se nos nossos trabalhos.
O Sr. Dr. Alexandre Galo (Investigador Auxiliar do Laboratório Nacional de Veterinária): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Tentarei ser breve, o que pòr vezes não é fácil.
A prevalência da doença não é já de 0,1 % a 0,2% Essa foi, no Reino Unido, a prevalência da doença no seu estado inicial. Suponho que neste momento a prevalência da doença se situa entre os 0,4 % e os 0,5%. E, pois, possível que, de acordo com o período de incubação da doença, venhamos a ter mais casos de encefalopatia. O problema é detectá-los. Creio que os veterinários do campo já estão um pouco mais alertados para o problema e é possível que os venham a encontrar.
De resto, penso mesmo que iremos ter muitos casos suspeitos que nada têm a ver com a doença em causa. Estes problemas também têm o seu reverso. Se até aqui as pessoas tinham alguma dificuldade em suscitar este tipo de suspeita, é possível que agora a suscitem demais e venhamos a ser assoberbados com um número de casos e amostras que nada têm a ver com a doença, mas com outras coisas.
Assim sendo, é possível, Sr. Deputado Carlos Duarte, que a actual prevalência da doença se altere, porque o período de incubação da doença é muito longo. Como é muito longo, tem, numa fase inicial, uma determinada dimensão e à medida que o tempo vai passando prolonga-se o tempo de incubação e acaba por ter uma prevalência diferente, que é a que se regista agora. Creio, no entanto, que não iremos ter excessivamente muitos casos. É um pouco difícil dizer quantos iremos ter, mesmo fazendo alguma aritmética rápida, porque — devo dizer-vos — muitos destes animais importados têm um ciclo produtivo e um tempo de vida curto: uns vão para o matadouro e outros morrem por outras causas, pelo que muitos deles terão sido já abaüdos.
Por isso, dizer-vos agora quantos mais casos irão aparecer é fazer um pouco de futurologia, o que não gostaria de fazer. Uma aritmética, sem futurologia, poderia levar-me a dizer que aparecerão mais 10 ou 11 casos, se forem detectados.
No que respeita à questão colocada pelo Sr. Deputado sobre os cinco dias para o material entrar no laboratório, dir--lhe-ía que a ideia transmitida é absolutamente incorrecta. Não interessa quanto tempo demora o material a entrar no laboratório. O que interessa é que o material, quando é colhido (tem de ser colhido fresco, na altura da morte do animal), seja imediatamente fixado em formol a 10%, a solução própria para este efeito. Esta fórmula sofreu hoje, aliás,
uma modificação, mas continua a ser a solução mais comum (o formol a 10%). Se esse material for colhido e imediatamente fixado em formol a 10%, não interessa saber se esse material dá entrada cinco horas, cinco dias ou três meses depois. De resto, é nesse período de fixação em formol que deixamos o material durante três semanas. Não interessa se ele se encontra no laboratório ou no sítio onde se abateu o animal. Não interessa, pois, se o material entrou no laboratório cinco horas ou cinco dias depois. Deve é ter sido fixado imediatamente após a sua colheita.
O Sr. Carlos Duarte (PSD): — Mas não havia autólise, não é assim?
O Sr. Dr. Alexandre Galo (Investigador Auxiliar do Laboratório Nacional de Veterinária): — Sim, Sr. Deputado. Se o cérebro foi colhido logo após a morte, não há, com certeza, autólise.
A autólise começa, em qualquer tecido, imediatamente após a morte, mas o material é mais ou menos fresco conforme o momento em que se colhe e se fixa. Aliás, a fixação é, segundo alguém dizia, a última expressão da vida, porque quando se fixa um tecido ele fica exactamente como estava no momento em que foi fixado. Se, de resto, a autólise for prolongada, esta também é visível no exame histo-patológico. Uma coisa que aprendemos é a distinguir as lesões da autólise de outras lesões, o que não gostaria que fosse posto em causa.
Questionou-me depois o Sr. Deputado sobre as análises que referiam a meningite purulenta. É verdade, Sr. Deputado, que uma dessas análises mostrava lesões macroscópicas (aquelas que se vêem à vista desarmada) de opacidade das meninges, de tal forma que, quando as vi, pensei mesmo que poderia ser porventura uma meningite.
O que acontece é que qualquer processo patológico provoca sempre uma quebra de resistência orgânica, ou seja, uma quebra no organismo do animal. Em consequência dessa quebra de resistência, é fácil o enxerto de outros processos que designamos por complicações secundárias, que na maior parte das vezes são provocadas por aquilo a que chamamos microrganismos oportunistas. Foi isso provavelmente o que aconteceu. Havia nesse animal uma meningite purulenta, tendo-se inclusivamente isolado o seu agente causa),
o streptococcus. Só que isso não impede que seja feita a observação histopatológica, que tem as suas lesões características. Não era minha intenção nem meu interesse, de forma alguma, estar a inventar BSE no País. Não tenho dúvidas — reafirmo — de que existiam processos concomitantes no caso desse animal, um dos quais era esse processo de meningite.
Quanto à necessidade ou não de outros meios auxiliares de diagnóstico, é evidente, Srs. Deputados, que, se amanhã aparecer em animais nascidos em Portugal qualquer coisa que se pareça com a encefalopatia espongiforme dos bovinos, serão feitos, com certeza, estudos detalhados, exames complementares e todos aqueles exames que possam auxiliar e coadjuvar o diagnóstico histopatológico. É, com certeza, lícito pensar, propor e fazer esses exames a vacas nacionais, que aqui nasceram e nunca saíram daqui. Tais exames' terão de ser feitos. Não há é qualquer necessidade de estar a desenvolver trabalhos em vacas importadas do Reino Unido (com toda uma história pregressa atrás de si) que não seriam feitos, com certeza, em Inglaterra, seu país de origem. Não é o facto de as vacas terem sido transportadas de Inglaterra para Portugal que irá implicar necessariamente a feitura de outros exames.