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19 DE JUNHO DE 1993

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meiro doutoramento em Inglaterra nesta área —, em que tive como tutor o Prof. Rottblat, que os senhores não conhecem mas foi um físico nuclear, colaborador do Prof. Oppenhei-mer, que concebeu a primeira bomba atómica e que era uma pessoa com uns recursos mentais fabulosos. Tive de fazer um doutoramento em Radiobiología, com bases físicas muito avançadas, que me deu um insight e uma realização extremamente exigentes.

Portanto, quando trouxe para Portugal esse tipo de preparação, tive sempre muita dificuldade em que todos esses conceitos fossem introduzidos. Mas, por exemplo, de 1957 a 1965 fiz o primeiro rastreio, ao nível do nosso país, da poluição, da contaminação radioactiva do ambiente, como resultado das experiências atómicas no fim dos anos 50. Fi-lo em colaboração com o Instituto de Alta

Cultura e o Instituto Português de Oncologia. Os cerca de 11 ou 12 trabalhos que publicámos foram completamente esquecidos, nunca ligaram nada. Tivemos os níveis radioactivos mais elevados de todo o Ocidente e foi preciso esperar 16 anos, com o acidente de Chernobyl, para que alguém começasse a compreender que a radio-actividade é um problema que existe e que, ao nível científico, foi identificado no nosso país.

Eu era um patologista experimental comparado, porque sempre tive a noção de que não existe a patologia humana ou a patologia animal. A patologia tem de ser integrada num contexto científico e, a partir dela, temos de tirar as conclusões. Isto é muito importante para que todos estes processos possam ser analisados.

Devo dizer-lhes que, quando me refiro à toxicologia, à agressão do ambiente, da sociedade em que vivemos, tenho contacto directo, porque trabalhei, durante seis anos, numa clínica de radioterapia do Dr. Heraldo Ribeiro, que está integrado nos Hospitais Civis. Portanto, durante seis a sete anos trabalhei com cancerosos, acompanhei-os, vi morrer dezenas deles, porque tive de os acompanhar em estudos, e isto marcou-me profundamente. Por isso, escolhi a área da toxicologia como uma área da minha dedicação e é isso que tenho procurado trazer para a Direcção-Geral da Pecuária, que é um departamento do Ministério da Agricultura e, ao mesmo tempo, colaboro, através do CESTA do Ministério da Saúde. Não há interface, são áreas transdisciplinares e a responsabilidade do Ministério da Agricultura nestes aspectos é importantíssima, porque atentemos que a maior parte da cinogénese ambiental é feita através da nossa alimentação. Daí, o cuidado e a insistência que tenho tido em apresentar estes projectos. Por que é que não foram para a frente? Isso não me compete a mim estar agora a discutir.

Em relação ao BSE sucedem coisas muito curiosas porque, em 1957, integrado numa missão de estudo da FAO sobre estes problemas da radioactividade, fui acompanhado pelo engenheiro Almeida Alves — que está hoje jubilado, que é um distintíssimo químico, foi um dos que trabalhou na Estação Agronómica Nacional — e, numa das visitas que fizemos a Inglaterra (a utilização de isótopos e das radiações em ciência animal, naquela altura tinha um grande impacte), visitámos em Compton, na Pathology Study Stati-on do Ministério da Agricultura, um antigo hangar da aviação, onde fui encontrar cerca de 600 animais divididos em células, e cada célula correspondia a uma das diferentes raças de ovinos e caprinos de Inglaterra.

Nessa altura, os patologistas veterinários alemães que me acompanharam disseram que os ingleses estavam a estudar «uma coisa muito bizarra, o scrapies», e perguntaram-me se tal existia em Portugal. Respondi-lhes que não sabia do que se tratava.

Estou convencido de que este problema deve ter começado já nessa altura — por volta do fim dos anos 50 — em Inglaterra. Como sabem, depois desta experimentação maciça que os ingleses tiveram, houve o aproveitamento das carcaças, designadamente para farinha de carne e rações. Ora, o controlo da unidade infecciosa do vírus — ou do que lhe têm chamado— escapa a todas as dimensões porque não há ainda estudos perfeitamente definidos.

Portanto, é muito provável que este problema tenha tido aí a sua origem. É que, ainda que a doença tenha sido identificada em Inglaterra há mais de 250 anos, este surto resultou, de facto, da produção de farinhas alimentares, consumidas na Inglaterra e exportadas para França e Suíça, onde deram origem a casos não autóctones mas exóctones. Ou

seja, do ponto de vista da epidemiologia, é uma situação

idêntica à do nosso país; ou melhor, no nosso país vive-se uma situação idêntica à que se viveu na Alemanha. Isto, de acordo com as informações que consegui colher.

Por coincidência, há cerca de sete anos, pela primeira vez em Coimbra, um colega neurologista, numa sessão dedicada à neuropatologia — tenho sempre interesse em assistir a estas reuniões —, referiu-se a umas infecções neurológicas: o Creutzfeldt/Jacob, dizendo que eram provocadas pelos vinis lentos. Acrescentou ainda que grande parte do trabalho básico tem sido feito pelos veterinários, ou seja, a contribuição do veterinário é muito importante, não na patologia propriamente dita, mas na patologia degenerativa, que é uma coisa completamente diferente. E que do ponto de vista antropogénico a patologia humana é uma monstruosidade e, como disse, nós, patologistas amantes, vivemos hoje uma ansiedade porque é difícil coordenar a avalanche permanente de conhecimentos de imunologia e de citogenética.

Mas, relativamente a esse aspecto, há uns quatro ou cinco anos, também surgiu em Coimbra um caso de Creutzfel-dt/Jakob, identificado na zona centro por um meu amigo e condiscípulo de curso, médico de Coimbra e que, por acaso, foi vosso colega aqui, na Assembleia da República. Refiro-me a Fernando Gomes. Discuti esse problema com ele, pois, do ponto de vista comparado, interessa-me o problema do mecanismo básico. De facto, não faço distinção entre toda esta explicação básica fundamental de informação genética.

Nos últimos três anos, tenho visto muitos trabalhos e estou já muito familiarizado com o assunto. Aliás, faço um esforço extraordinário nesse sentido, pois nos últimos cinco anos gastei cerca de 3000 contos da minha algibeira para assistir a cursos de aperfeiçoamento em Patologia Molecular, além de que, na minha estada na Faculdade de Medicina de Coimbra, fiz a minha especialização em Microscopia Electrónica e, inclusivamente, fui membro da comissão instaladora do Departamento de Microscopia Electrónica na Faculdade de Medicina de Coimbra.

Trata-se, portanto, de uma tecnologia com a qual estou perfeitamente familiarizado. No entanto, devo dizet <\ue a própria microscopia electrónica já não é suficiente para este tipo de situações.

Mas outra pessoa com quem discuti o assunto foi o meu colega Santana Maia, hoje distinto bastonário, com quem tive também o prazer de trabalhar na enfermaria do Sr. Prof. Antunes de Azevedo, em Coimbra.

Tudo isto, para vos dizer que tive — e tenho — o cuidado fundamental de dialogar e de procurar contactos com as pessoas, o que é extremamente difícil, como já vos disse, pois as pessoas atomizam aqui as suas áreas. De facto, tudo o que estamos a discutir poderia ter sido resolvido de forma muitíssimo mais simples se as pessoas falassem e se aca-