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II série -c— número 31

nós, os patologistas, consideramos que a análise histopatológica não é suficiente para as. nossas necessidades e devemos ir muito mais além. . ■ .

Por outro lado, não posso deixar de referir que a análise histopatológica mantém-se, porque um diagnósúco histopa^ tológico, do ponto de vista remunerativo, é extremamente aliciante, em virtude de uma análise histopatológica custar aproximadamente entre 7500$ e 10000$. Em muitas circuns- . tâncias, perante a identificação de determinado processo, numa determinada altura em que o processo é intersectado, essa análise é uma foto de um processo estático que está

em permanente evolução e interessa ir muito mais atrás,

dando-lhe continuidade para ter a noção da evolução gradual do processo. Ora, neste aspecto, de acordo com a minha formação, sou bastante mais exigente.

O Sr. António Murteira (PCP):—Então, nesse caso, em face do raciocínio que o Sr. Professor expressou, não se pode afirmar que em Inglaterra e em outros países comunitários, onde é praticada essa forma de diagnóstico, haja, de facto, a BSE.

O Sr. Prof. Amaral Mendes (Universidade de Évora): — Com efeito, o que sucede é que em Inglaterra, além do exame histopatológico, existe uma espécie de clínica com centenas de animais que foram atingidos, o que lhes dá uma experiência enorme ao nível epidemiológico, ao nível clínico, pois eles não se ficaram só pela histopatologia e foram mais além, foram muito mais exigentes: Não é isso que tem acontecido ho nosso país, onde o esforço desenvolvido pelos meus colegas do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, em Benfica, é, de facto, meritório — isso não se pode negar—, mas temos de fazer ainda muitíssimo mais. • Como já, há pouco, disse, não quero pôr em causa a forma como alguns documentos foram elaborados, até porque o problema em discussão não é estritamente.do âmbito veterinário, pois trata-se de um .problema biológico na sua essência e na sua filosofia, que nos interessa, porque pode ter repercussões na saúde pública.

Com efeito, discuti esse problema com alguns colegas neurologistas, como, por exemplo, o seu antigo colega e meu condiscípulo, Fernando Gomes, com o bastonário da Ordem dos Médicos, o Sr. Dr. Santana Maia, com o Dr. António Lacerda, neurologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas, pelo que eles estão a par de toda esta matéria. Inclusivamente, em Coimbra, quando foi identificado o problema do Creutzfeldt/Jacob, numa altura em que surgiu o primeiro caso, houve logo uma pessoa que' tentou relacionar uma coisa com a outra — como sabem, continúo a colaborar com a escola de Coimbra.

Sabemos que é assim! Mas a prevalência na patologia humana é «negligível». Existe a possibilidade de que este tipo de situação completamente nova, que nunca tinha sur- ~ gido, possa vir a multiplicar-se no futuro, .não digo que seja daqui a cinco anos,, mas daqui por décadas. "

Quero referir que, como patoiogista, sempre me dediqueL, e me interessei rñuito pela citogenética e quando, aqui há muitos anos, o Professor Ferreira Dias presidiu a uma con-, ferência realizada no antigo Laboratório Nacional de Investigação Veterinária e disse que tinha descoberto a vacina contra a peste suína africana,.eu limitei-me a comentar, simplesmente, que a variabilidade, genética e os conhecimentos já eram tão evidentes que, naturalmente, iria ser um falhanço estrondoso. Escrevi isto mesmo a um colega, que guardou este escrito no cofre-forte. Esta foi a minha-previsão, mas penso que para a fazer não é preciso ser bruxo nem invulgar, pois faz parte do nosso conhecimento gradual.

Com efeito, não digo que em Inglaterra não tenham identificado o processo, mas eles próprios estão insatisfeitos e a procura, em cada dia que passa, é mais difícil, uma vez que-o processo é completado com novos aspectos, cada vez mais exigentes.' E isto acontece não propriamente pelo âmbito veterinário mas porque,. do ponto de vista patológico, a comunidade e a saúde pública estão a ser ameaçadas por este problema muito mais seriamente do que pela sida, que, teoricamente, se prevê que vá ter um desenlace.

Agora para este caso, se a transmissão natural se vai fazer ou se ela pode operar através de uma intervenção de

um processo epigenético, isto é, se há uma agressão provocada por um tóxico qualquer que leva a uma alteração da

transformação daquela informação genética e que pode provocar esta situação, de facto, a comunidade internacional define já hoje o prião como um elemento e está a dar-lhe personalidade de transmissibilidade, mas há muitas contradições, tanto de um lado como do outro.

Gostava de ter conhecimento daquilo que se passa em Inglaterra, não só do ponto de vista veterinário, mas também do ponto de vista humano, pois têm sido investidas neste processo verbas muito avultadas. Foi por essa razão que conversei com o Professor Armindo Filipe, que vem acompanhando este processo há muito tempo, está devidamente mandatado no nosso Instituto Nacional, com o qual tenho colaborado, e merece-nos o maior respeito já que o Centro de Zoonoses em Águas de Moura está suficientemente equipado para responder a este tipo de solicitações.

O Sr. Deputado António Campos colocou outras questões. A doença foi declarada em Inglaterra em 1988 mas, como lhe disse, já tinha sido identificada clinicamente há 250 anos e, de um ponto de vista experimental, dá-me a impressão de que deve ter havido aquele...

Não sei o que se passou em Compton mas, relativamente à experimentação maciça em cerca de 600 animais, estou convencido de que todos os elementos da comissão da FAO que aí se deslocaram comigo podem testemunhar o que vimos nessa altura. É muito provável que a doença lenha surgido nessa zona, mas esta afirmação pode ser especulativa, embora seja um facto que os ingleses já se preocupavam bastante com a doença.

Creio já ter esclarecido a questão relativa a Omã.

Por outro lado, fui, de facto, assessor científico do Sr. Director-Geral da Pecuária, bem como dos últimos cinco, mas na área da minha competência, que é a da saúde e a da toxicologia ambientais. De resto, não me vou meter onde não sou chamado pois respeito a dignidade e a competência de cada um.

O Sr. António Campos (PS): — Sr. Professor, há um conselho técnico que, normalmente, reúne quando há problemas. Nunca foi convocado para esse conselho técnico, pois não?

O Sr. Presidente (Antunes da Silva): — Sr. Deputado António Campos, peço desculpa pela interrupção mas, como os nossos trabalhos estão a prolongar-se bastante, se vamos discutir agora aspectos que escapam à nossa audição, então, vamos demorar muito mais.

O Sr. António Campos (PS): — Nesse aspecto, estamos de acordo.:

O Sr. Presidente (Antunes da Silva): — Portanto, todos os assuntos que têm a ver com o comportamento da Direcção-Geral poderão ser apreciados noutro momento e noutra sede, pelo que pedia ao Sr. Deputado António Campos que