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II SÉRIE -C— NÚMERO 31

O Sr. António Murteira (PCP): O Sr. Professor disse que o diagnóstico de histopatologia, tal como é feito, não chega para se dizer que existe BSE. Ora, já foi dito por várias pessoas, investigadores e cientistas dessa área, que esse é o método utilizado em Inglaterra e noutros países da Comunidade. Mas, se não chega em Portugal, também não chega nesses países.

Então, pela lógica, e segundo a opinião do Sr. Professor, também não chega para os não sei quantos mil casos que foram detectados em Inglaterra. Também segundo foi aqui dito, houve cientistas portugueses que foram a Inglaterra harmonizar os procedimentos para se fazer o diagnóstico, o que dá ideia de que as situações são similares.

Ora, se se considera que em Inglaterra o diagnóstico é válido e em Portugal não é, sinceramente, não sendo cientista mas apenas um vulgar cidadão, tenho muita dificuldade em compreender este tipo de raciocínio. Mesmo que se invoquem todos os pergaminhos científicos para que se faça esse raciocínio, não compreendo!

O Sr. Presidente (Antunes da Silva): — Sr. Deputado, o Sr. Professor já se referiu a essa questão, pelo que isso está registado em acta. Não nos cabe agora a nós dizer se concordamos ou não com o Sr. Professor. O Sr. Professor é livre de expor aqui a opinião que entender sobre estas questões.

O Sr. Prof. Amaral Mendes (Universidade de Évora): — Sr. Presidente, não quero que haja mal-entendidos, porque o diagnóstico histopatológico é válido: é uma das peças, mas há mais. Devo dizer-lhe que, em Inglaterra, houve milhares de casos, houve todo um contexto epidemiológico e houve acompanhamento por veterinários qualificados, o que é uma situação completamente diferente da que existe entre nós.

Creio que temos quatro casos, mas um deles é posto em causa pelos especialistas pelo problema da recolha e outro tinha um processo que não tem nada a ver com a encefali-te. Não digo que não seja indicada ou que seja insuficiente. O que digo é que, como patologista, neste novo conceito (que é aquele por que me bato e que, tal como todos os meus colegas, estamos a tentar fazer evoluir, sobretudo do ponto de vista das situações humanas), não seria suficiente.

Quer dizer, aíém da histopatologia, teríamos de usar a microscopia electrónica, não só das fibrilhas, mas também exames muito mais detalhados, muito mais profundos, de his-toquímica. Este é um ponto de vista científico e não quer dizer que o trabalho não tenha sido válido e que não possa contribuir para que a doença seja identificada. Não fiquemos com essa ideia! Respeito o trabalho que foi feito.

O Sr. Presidente (Antunes da Silva): — Tem a palavra o Sr. Deputado José Paulo Casaca.

O Sr. José Paulo Casaca (PS): — Com efeito, ouvimos aqui uma longa intervenção, que será, com certeza, interessantíssima, sobre temas como a visão antropogénica do Sr. Prof. Amaral Mendes, sobre os níveis de radioactividade existentes em Portugal, què dariam oportunidade para outras sessões com outras temáticas e com outras ordens de trabalho. No entanto, esta audição procura esclarecer uma questão: saber se há ou não há, em Portugal, detectada, a BSE. Esta é uma questão clara e objectiva.

Devo dizer que a audição anterior, feita ao Professor Alexandre Galo, e confesso que não estive presente em todos os trabalhos, mas, de tudo o que ouvi, foi, de longe, a mais clara, inequívoca, transparente e inquestionável. Perante

esta intervenção, das duas, uma: ou o Sr. Professor Alexandre Galo sabe o que é que está a fazer e o que está a dizer, ou não sabe — a questão é esta!

Portanto, o problema central é exactamente aquele que o Sr. Deputado António Campos colocou há pouco, e que é este: se, de facto, havia tais dúvidas sobre os resultados obtidos pelo Professor Alexandre Galo, por que razão é que o Sr. Director-Geral da Pecuária não pediu a um dos seus assessores científicos (como seja o Sr. Prof. Amaral Mendes) para esclarecer inequivocamente o que é que se passava e para fazer os testes que fossem necessários? Esta é que é a questão central! E eu fico perfeitamente boquiaberto quando ouço, como resposta, o Sr. Professor dizer: «Não me vou meter onde não sou chamado!»

O Sr. Presidente (Antunes da Silva): — Sr. Deputado, hoje ainda teremos oportunidade de colocar estas questões ao Sr. Director-Geral da Pecuária. Dado o adiantado da hora, creio que pouparíamos tempo se pudéssemos prescindir dessas questões nesta fase dos trabalhos.

O Sr. José Paulo Casaca (PS): — Certamente, Sr. Presidente. Aliás, tenho observado que V. Ex.a tem sido extraordinariamente compreensivo, dado que estivemos imenso tempo a falar de coisas que não vejo que relação possam ter com esta questão! Mas, finalmente, temos aqui uma única que tem a ver e que é a questão central.

Ora, naturalmente, como estamos perante variadíssimas versões contraditórias dos mesmos acontecimentos, V. Ex.° desculpar-me-á mas eu não ficaria satisfeito por ter apenas a opinião do Sr. Director-Geral da Pecuária — que, certamente, também será solicitada — sobre este assunto. Gostaria de ter a opinião do Sr. Prof. Amaral Mendes.

Assim, para terminar, diria que a razão pela qual o Sr. Professor aqui está é porque tem a ver com o assunto. Porque, se não tivesse, não teria sido convidado para estar nesta audição. Portanto, esta é que é a questão central: como é que é possível que o Sr. Director-Geral da Pecuária, dadas as tão grandes dúvidas sobre os resultados obtidos, não tenha pedido na altura o seu parecer? E por que é que só agora é que esta questão está a ser colocada, numa altura completamente extemporânea e na qual. não faz o mínimo sentido? Porque, em minha opinião, isso só faria sentido há três anos atrás.

O Sr. Presidente (Antunes da Silva): — Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Capoulas Santos.

O Sr. Luís Capoulas Santos (PS): — Há pouco, o Sr. Prof.. Amaral Mendes referiu que uma das razões pelas quais se poderia pôr em dúvida o resultado do diagnóstico efectuado foi a da forma pela qual tinha sido abatido um dos animais — e eu vislumbrei, nesse momento, um gesto do Dr. Alexandre Galo, que me pareceu não confirmar essa sua afirmação. Tendo o Sr. Prof. Amaral Mendes trazido para aqui o rigor do cientista, era importante que esclarecesse como é que teve conhecimento da forma como foi abatido o animal, porque me parece que, nessa sua afirmação, não houve rigor, uma vez que, como disse, esse gesto do Dr. Alexandre Galo me pareceu contestar essa versão, anulando uma das dúvidas que poderiam sustentar a sua opinião sobre os resultados.

O Sr. Presidente (Antunes da Silva): — Tem a palavra o Sr. Prof. Amaral Mendes.