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19 DE JUNHO DE 1993

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se dispensasse de fazer agora e aqui referências nesse âmbito e tomava também a liberdade de solicitar ao Sr. Professor que se escusasse a responder a essas questões.

Para responder, tem a palavra o Sr. Prof. Amaral Mendes.

O Sr. Prof. Amara) Mendes (Universidade de Évora): — Mas tenho de dizer ao Sr. Deputado que, quando refiro a actuação impecável da Direcção-Geral da Pecuária, estou a pensar no seu extraordinário historial. Este país esteve isento de raiva durante uma série de anos e resolveu o problema da peripneumonia, o que foi notável.

Tendo experiência, no campo da saúde, da sanidade veterinária e humana, da actuação do Ministério da Saúde, e devo dizer-vos que a organização que havia na antiga estrutura das intendências pecuárias era soberba, muitíssimo superior à actuação das antigas delegações de saúde. Tenho de fazer esta justiça aos meus colegas veterinários que são extraordinários neste aspecto!

O Sr. António Campos (PS): — Este é que estragou tudo!

O Sr. Prof. Amaral Mendes (Universidade de Évora): — Sr. Deputado António Campos, tenho tanta consideração pelo Dr. Machado Gouveia como por si e gostaria que tudo isto não existisse. O Dr. Machado Gouveia consultou-me, na qualidade de assessor, sobre determinados problemas relativamente aos quais lhe respondi de acordo com as minhas qualificações. Sobre o resto, não posso pronunciar-me.

Parece que a França e a Suíça importaram quantidades consideráveis de rações de Inglaterra e, portanto, os casos que aí se verificam são autóctones e não exóctones. Em Portugal, os casos que estão a ser identificados assemelham--se, por exemplo, ao surgimento de paludismo oriundo de África mas ainda no outro dia, a televisão, erradamente, maltratou o Professor Braço Forte Júnior, por não referenciar a sua condição de patologista e de professor catedrático, mostrando um determinado número de vacas de norte a sul do País. Trata-se de uma doença altamente específica; não constitui um problema veterinário, mas biológico, atinge só os animais leiteiros e a transmissão natural é extremamente problemática, difícil e ainda deverá ser provada.

A situação em França e na Suíça é um pouco diferente da que se vive entre nós, porque não só registaram dezenas de casos como ainda importaram as rações. Pode dizer-se que são detalhes e, como os meus colegas especialistas veterinários são muito mais responsáveis do que eu, não gosto de me meter naquilo em que não sou chamado. Dedico-me aos aspectos básicos da investigação e tenho tentado congregar as duas áreas mas sem êxito, pelos vistos.

Não há prevenção a mais ou a menos; a prevenção tem de ser honestamente única e efectiva. Nem é de mais nem de menos.

São referidos nos documentos níveis de rigor da ordem dos 0,1%, 11,2%. Foram importados não sei quantos milhares de animais e os casos que apareceram são relativamente insignificantes e não se comparam em nada com o sucedido em Inglaterra pois todos aqueles animais foram contaminados maciça e oralmente, de uma maneira absolutamente natural. Essa situação faz parte da história e não me compete a mim estar a discutir esses aspectos.

Mas, de um ponto de vista epidemiológico e estatístico, não é comparável o que se passa em Inglaterra com o que se passa em Portugal, onde foram registados não sei se três se quatro casos... Ouvi o que o Dr. Galo disse na audição que precedeu a minha — e não quis estar a referir números,

mas é muito provável que possam vir a surgir mais casos. Creio que admitir a existência, em Portugal, de casos autóctones de animais que não foram importados é equivalente a admitir que a doença tem uma transmissibilidade biológica evidente, o que não parece ser verdade.

Falou-se no comportamento cívico da população. Penso que a população deve ser devidamente informada mas, quando passam na TV 2 programas como o que já referi, este canal presta um mau serviço não só à população mas também aos Srs. Deputados porque estão empenhados em resolver uma situação que tem de ser esclarecida e clarificada com uma linguagem acessível.

Quando estive em Inglaterra, pediam-me para ser claro, lógico e não utilizar frases de duplo sentido. Inclusivamente, nos últimos quatro anos, tenho-me dedicado à toxicologia ambiental e tenho tido, nesse âmbito, as melhores relações com o ETSDAR, em Atlanta, que é uma das agências do Ministério da Saúde dos Estados Unidos, faço a leitura dos relatórios apresentados ao Congresso e posso dizer que são autênticos modelos de didáctica científica, porque obrigatoriamente repetem-se explicando claramente aquilo que é necessário para que não haja, nas entrelinhas, a menor

dúvida. E é desta forma que temos de proceder.

A investigação de que se tem aqui falado é relativa ao sector veterinário em Inglaterra, mas a referente ao sector humano, pelo que tenho visto, está muitíssimo mais alargada, porque há justificados receios de que, de um ponto de vista teórico, este possa vir a ser um problema muito complicado.

No que respeita aos convénios internacionais...

O Sr. Presidente (Antunes da Silva): — Sr. Professor, com o devido respeito, tomava a liberdade de pedir que procurasse sintetizar as suas respostas.

O Sr. Prof. Amaral Mendes (Universidade de Évora): — Sr. Presidente, suponho que já .respondi a todas as questões colocadas.

O Sr. Presidente (Antunes da Silva): - Creio que ainda está em aberto uma questão colocada pelo Sr. Deputado António Murteira, que, se bem entendi, pretendia saber se são ou não credíveis os exames histopatológicos feitos a nível da Comunidade e, particularmente, em Portugal.

O Sr. Prof. Amaral Mendes (Universidade de Évora): — A colheita de material, sobretudo para o estudo da microscopia electrónica —estou familiarizado com qualquer uma das técnicas —, tem de ser impecável, porque exige-se que o animal seja morto em situações muito especiais. Não queria entrar em detalhes, mas, segundo me disseram, um dos animais foi abatido com a pistola de abate, o que provocou um traumatismo craniano de natureza vascular extremamente lesiva.

Portanto, a recolha de material tem de ser feita de uma maneira.muito hábil, num material fresco e tem de ser congelado; no que respeita à microscopia electrónica, c o conservante. É muitíssimo mais difícil esta tecnologia da microscopia electrónica. Nisso, tenho experiência prática e posso dizer-lhes que, conhecendo os recursos que existem lá fora, estou convencido de que os meus colegas fazem aquilo que é humanamente possível,, mas lá fora fazem muitíssimo mais.

O Sr. Presidente (Antunes da Silva): — Tem a palavra o Sr. Deputado António Murteira.