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II SÉRIE -C—NÚMERO 31
bássemos, definitivamente, com todas estas confusões, deficiências e altercações. Inclusivamente, gostaria de fazer alguns reparos em relação à má exposição do Professor Alexandre Galo, mas penso que seria injusto, uma vez que não podemos conversar com ele aqui.
Contudo, do ponto de vista de um patologista comparado e de acordo com a experiência que adquiri —que tem de ser, necessariamente, muito mais pretensiosa:—, os elementos que recolhi não são suficientes para mim.
A técnica histopatológica e a própria designação da sociedade portuguesa de anatomia patológica está hoje a ser posta em causa por colegas meus extremamente qualificados, como é o caso do Professor Sobrinho Simões, no Porto, e do Professor Jorge Soares, em Coimbra.
Desde logo, a propósito da evidência morfológica numa determinada situação, há que distinguir entre evidência morfológica óptica, feita com o microscópio normal, e evidência da microscopia èlecuónica, que exige cuidados extremamente precisos de recolha (não é só o formol, por exemplo, tem de ser o glutaldeído).
Por outro lado, o que tenho lido e visto em documentos é já muito mais complicado: há outras estruturas ao nível molecular, ao nível das membranas, mas que têm de ser procuradas «lá em baixo», com uma metodologia e uma exigência que nós — a comunidade científica — não temos. De facto, somos muito mal tratados, faltam-nos os meios, sobretudo, nos laboratórios nacionais.
Comecei a minha vida profissional no Laboratório de Investigação Veterinária, que, naquela altura, não estava vocacionado para os aspectos da saúde pública, área a que me dediquei, pelo que gostaria de lhe ter dado sempre a maior colaboração. Tal nunca foi possível, mas não por mim!
•Mas, insisto nestes aspectos de saúde e toxicologia ambientais —já-vim, inclusivamente, à Assembleia—, porque a toxicologia ambiental, de um ponto de vista ético, tem de integrar todos estes aspectos. Aliás, falei disto ao meu colega, Dr. Ferraz de Abreu, anterior presidente da Comissão de Saúde e, mais.recentemente, ao Sr. Engenheiro Macário Correia, transmitindo-lhes as minhas preocupações, pois vivo para a investigação — ela é para mim um- sacerdócio —, onde gasto tudo aquilo que é preciso. A primeira vez que ganhei uns «patacos», em vez de comprar um automóvel, comprei um computador!
A.experiência que tive, ao ver morrer dezenas de pessoas com carcinoma brônquico, com tumores cerebrais ou com o glioblastoma multiforme, fez com que ficasse, a partir daí, um pouco familiarizado com a histopatologia do cérebro.
Com isto, não quero ser pretensioso mas apenas dizer-lhe que os patologistas têm a obrigação.de integrar todos estes aspectos e, para isso, têm de criar equipas. Tem de haver diálogo, é esta a razão por que procuro sempre as pessoas.
Em relação ao problema que aqui se põe, daquilo que tenho lido e de acordo com as suas linhas gerais, entendo que se trata de um problema actual, mais da cultura biomédica e do conhecimento científico básico.
Os senhores, com certeza, têm ouvido falar da sida, dos programas, das pessoas, da dimensão e do que se gasta. Ora, o vírus da sida, propriamente, está identificado —é o caso do vírus da peste suína africana— e, apesar disso, não se consegue encontrar uma vacina. É difícil dominá-los!
Ora, o problema é. ainda mais complicado quando não se sabe Sfc o ageme è uma unidade de informação: há uma etiologia genética ou uma transmissibilidade experimental?
É, pois, necessária uma consulta permanente de bibliografia, uma vez que esta doença não está ainda perfeitamente
definida. Há aspectos mais ou menos seguros: por exemplo, a hipótese de transmissibilidade ao homem neste momento afigura-se-nos como uma possibilidade extremamente improvável. Contudo, de um ponto de vista teórico, este tipo de alteração metabólica é feita ao nível molecular, já muito abaixo, digamos, dos conceitos pasteurianos, que teremos de abandonar completamente.
Portanto, é muito provável que as gerações futuras venham a encontrar este tipo de problemas. Muito mais doenças virão, necessariamente, a ser identificadas, porque elas
apareceram, subitamente, há cerca de 20 anos,
Não queria maçá-los mais com estes aspectos técnicó--científicos, porque a maior parte deles ainda decorrem da investigação operacional, um tipo de trabalho em que a pessoa tem de ir identificando o que lhe é posto em causa com base no conhecimento adquirido.
Certamente irão colocar-me perguntas a que procurarei responder, mas o que trago aqui é, sobretudo, a minha grande experiência como patologista veterinário, que foi sempre orientada para a patologia experimental, isto é, para a reprodução correcta e rigorosa de determinados parâmetros, com base na metodologia que aprendi em Inglaterra. Isso transformou completamente a minha vida e tem-me causado grandes dificuldades, dada a muita disciplina científica de que necessitamos.
Fico completamente à vossa disposição para as questões que quiserem colocar-me mas, antes disso, quero dizer-vos que entre a documentação que me foi apresentada há uma que não posso deixar de citar.
Sei que, a certa altura, o Ministério da Saúde requereu ao Instituto Nacional de Saúde informação sobre estas doenças. Esse pedido foi transmitido a um colega meu, extremamente competente, o Professor Armindo Filipe, director do Centro de Zoonoses, em Águas de Moura, pessoa altamente qualificada ao nível internacional e que, inclusivamente, esteve indigitado para professor de Microbiologia da Faculdade de Medicina de Coimbra, sob proposta do Professor Carvalho Araújo. Ele solicitou, através do laboratório do Instituto Nacional de Saúde, autorização para importar.
Não tenho de comentar a resposta que lhe foi dada. Apenas posso assinalar tratar-se de uma pessoa que tem conhecimento desse tipo de doença. Sei-o porque tenho com ele discutido o assunto, pois é uma pessoa de que preciso para a futura organização deste departamento na Universidade de Évora, na região do Alentejo. Na realidade, queremos aí implantar, em termos da toxicologia ambiental, um sistema que possibilite dar resposta a todos os problemas que nos aparecem.
Sr. Deputado António Campos, o problema dos anaboli-zantes, que tem referido, é extremamente difícil, dado que a fraude se nos adianta, está sempre à nossa frente. Nos últimos dias...
O Sr. Presidente (Antunes da Silva): — Sr. Prof. Amaral Mendes, tomo a liberdade — e peço desculpa por isso ...
O Sr. Prof. Amaral Mendes (Universidade de Évora): — Eu termino já, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (Antunes da Silva): — Não é isso. Enfim, já agora tomava a liberdade de pedir que fosse breve, mas o que ia solicitar-lhe era que não entrasse agora em outras questões, para não prolongar os nossos trabalhos.
O Sr. Prof. Amaral Mendes (Universidade de Évora): — Acontece que este problema da BSE —ou daquilo que os