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II SÉRIE -C— NÚMERO 31

tenho dado a minha colaboração também, desde há muitos anos, ao Instituto de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina de Coimbra, no domínio da patologia experimental, nas instalações do biotério da problemática de experimentação animal — um problema que veio agora a ser posto da maneira mais acutilante — e, ao mesmo tempo, acompanhei, como médico, a patologia humana.

Um aspecto que é muito importante e que quero realçar aqui é que tenho acompanhado a grande mutação no domínio das ciências biomédicas, que é uma autêntica revolução, já que nós, patologistas, nós, médicos, encontramo-nos hoje num caos total, pois o desenvolvimento espectacular da imumologia, da biologia molecular e da citogenética é, inclusivamente, um acidente trágico.

Eu, que sou sócio, desde há 20 anos, da Sociedade Portuguesa de Anatomia Patológica, acompanhei esta modificação. Há, inclusivamente, uma coisa que é posta em cheque que é, por exemplo, a validade da iatntificação morfológica, isto é, a histopatologia/nível óptico. Há a morfologia ao nível da microscopia óptica e depois houve uma invasão pelos chamados biomédicos — indivíduos altamente qualificados e extremamente bem preparados em biologia molecular e imuno-química—, e nós, os patologistas, que temos obrigação de integrar todos esses aspectos, vimo-nos e desejamo-nos.

As licenciaturas com mais de 15 anos estão completamente ultrapassadas, quer sejam médicos ou veterinários. Por isso, torna-se necessário que haja uma reactualização de todos estes profisionais, pois uma das coisas que tenho verificado, no contacto que tenho tido com este problema especial que nos acupa aqui, é que o conceito de doença, de patologia, é levado a um ponto muito fixista que existe da época pasteuriana, não levando em linha de conta, digamos, este dinamismo tremendo que tomou todo este complexo.

Tive o cuidado, através de consulta de computador, através da Med-Line, de fazer a actualização de todos estes processos patológicos, em que se inclui esta doença ou, pelo menos, esta chamada doença — e tenho de a chamar assim, porque, a nível internacional, mesmo na área da investigação, o problema é extremamente complicado e ainda não está perfeitamente definido.

Dada a minha experiência no domínio da patologia de sanidade ambiental, fui convidado, há cerca de seis anos, para organizar no Instituto Nacional de Saúde, um departamento de saúde e toxicologia ambientais, o CESTA. Isto é, o que poderemos considerar a agressiologia da vida moderna, a agressiologia química das reduções electromagnéticas, o próprio comportamento microbiológico de toda esta problemática, que estamos a enfrentar e que tem sido exposta desta maneira tão crua e tão evidente, é um problema que tem de se levar em linha de conta.

Portanto, todos estes problemas estão completamente ultrapassados, não é um problema estritamente veterinário, não é um problema estritamente médico, é um problema de ciência básica que não pode ser só acessível a determinado tipo de área, muito sectorial, muito vectorizada.

Uma das grandes dificuldades que tenho encontrado no nosso país, dado que estou numa área multidisciplinar, tipi-, camente ecológica, é que os cientistas técnicos das diferentes áreas criam uma mentalidade reducionista, atomizam todos os problemas e só a integração transdisciplinar de colaboração de várias áreas permite que seja possível a abordagem de um determinado tipo de problemas, em que se pode incluir o problema a que chamamos, convencionalmente, a doença do BSE, aquilo que os senhores entenderem, porque, ao nível nacional, o que tenho visto é que a comunidade científica não está ainda definitivamente de acordo.

Não tive tempo suficiente de fazer a pesquisa bibliográfica, mas devo dizer que ouvi com muita atenção a exposição do meu colega veterinário, o Dr. Alexandre Galo. Aliás, já o tinha ouvido numa conferência na Faculdade de Veterinária, que apreciei bastante, porque ele está num campo extremamente actualizado — e recordo-me até que nessa conferência o director-geral de então fez-lhe um grande elogio e tem-lhe dado grande apoio, mais do que me tem dado a mim.

Nos últimos anos, tenho ensinado na Universidade de Évora, nos cursos de Engenharia Biofísica e Arquitectura Paisagística, as matérias de ecologia da poluição, toxicologia ambiental e medicina do ambiente. Pela primeira vez, consegui introduzir nas universidades portuguesas todos estes conceitos.

Inclusivamente, o director-geral da Pecuária, devido à sua compreensão, e a UNISUL (que é uma associação universidade/empresa, tal como a UNINOVA e a IDARN) assinámos um convénio em que dou a minha colaboração no sentido de montarmos na região do Alentejo, ou futura região administrativa, um laboratório de toxicologia ambiental.

Em relação a este conceito, não o confundam com a toxicologia forense, dos venenos, que se refere a situações forenses em que têm de ser julgados casos de envenenamentos, casos pontuais, portanto, é a «toxicologia dos mortos»; enquanto a toxicologia ambiental é a que está de acordo com a qualidade de vida, é a toxicologia das populações, a toxicologia da saúde e do seu estudo no sentido da prevenção.

Estamos interessados em criar condições nesse laboratório, no Alentejo, não só tecnológicas mas académicas, para o estudo de anabolizanies, pesticidas, metais, dioxinas, aditivos. Aliás, numa conversa que tive com o Sr. Deputado António Campos — que admiro pela franqueza com que enfrenta os problemas — referi que o problema é extremamente grave. Não temo o problema dos anabolizantes, dessa complexidade química toxicológica, o que temo é a ignorância, o desfasamento, a dificuldade, o equilíbrio cívico, a falta de actualização do nosso meio social. Esse é que é o nosso grande problema, o nosso grande desafio.

Já apresentei superiormente, há cerca de seis anos, um projecto de protecção toxicológica das cadeias alimentares humanas —e tenho comigo umas cópias que vos vou deixai— em que chamava a atenção para a necessidade conjuntural de os organismos do Ministério da Agricultura com o Instituto Nacional de Saúde estabelecerem um critério de fluxo, dada a agressão toxicológica que estabelece a cadeia alimentar, e que nós os humanos vamos, mais tarde, sofrer. Tem, pois, de haver uma visão antropogénica. E o facto de eu ter sido da patologia veterinária e de ter tido uma experiência como médico e como patologista dá-me, hoje, uma sensibilidade completamente diferente destes aspectos.

É evidente que respeito muito a personalidade e a competência dos seus técnicos veterinários mas devo dizer que quando comecei, há uns anos, em Benfica, onde fiz a minha especialização como anatomopatologista veterinário — em que trabalhei gratuitamente como patologista, porque nunca consegui ser contratado —, verifiquei, nessa altura, a diferença fundamental que há entre a patologia animal, na sua especificidade veterinária, que são dois aspectos completamente distintos, e a patologia humana. Há Uma coisa trágica que é o factor tempo. Só o homem envelhece e sofre a agressão e a deteriorização própria de processos degenerativos e neoplásicos. Isto é muito importante.

Mais tarde, fiz um doutoramento em radiobiología, em Londres, no Hospital de São Bartolomeu — aliás, foi o pri-