34-(8)
II SÉRIE-C — NÚMERO 7
bro do Governo do Sri Lanka e especialista nas negociações Norte-Sul. As matérias principais tratadas neste painel foram as seguintes:
Transformações na economia mundial;
Avanços tecnológicos rápidos;
Globalização dos sistemas de produção e distribuição;
Diminuição do papel do Estado;
Aparecimento de novas nações comerciais e blocos
económicos; Conceito de desenvolvimento sustentado; Dimensão social e criação de emprego.
Das intervenções iniciais dos membros do painel destacam-se as ideias força que a seguir se mencionam.
O Dr. Kenneth Dadzie, intervindo sobre os novos desafios, o potencial e as oportunidades que resultaram das profundas mudanças que a economia mundial sofreu nos últimos anos, referiu que não se deveria permitir que a nova era pós-guerra fria se tornasse numa era de conflito económico. Os governos deveriam reconhecer a necessidade de cooperação. No entanto o desafio real mantém-se, desafio esse que é de levar à prática o desejo de harmonia e fazê-lo de forma a promover o desenvolvimento, fazendo retroceder a pobreza. A forma adequada seria aliar a audácia com o realismo. Sem audácia as estruturas não mudarão. E se as políticas não forem temperadas com realismo verificar-se-ão custos excessivos. Por exemplo, é necessária coragem para regularizar o peso do endividamento que continua a asfixiar muitos países em desenvolvimento, particularmente em África. Mas, a menos que haja audácia na luta contra a deflação global, os problemas da economia mundial multiplicar-se-ão e a instabilidade minará a confiança e a segurança.
A Sr." Sylvia Ostry abordou o mesmo tema do ponto de vista do mundo desenvolvido, referindo que esta é a primeira recessão em que o desemprego afectou mais significativamente os empregados (white collar) do que os operários da indústria (blue collar). Os funcionários intermédios estão a perder os empregos à medida que a arquitectura das empresas se altera. É a primeira recessão em que o desemprego permanente tem um peso muito maior no desemprego total do que em qualquer período do pós-guerra. Os dados da América a este respeito são melhores do que na Europa: podem medir o desemprego permanente versus desemprego temporário. Está a acontecer todo o género de situações na área dó mercado do trabalho. O que se torna aparente nos Estados Unidos é que a onda de mudança tecnológica está agora a atingir o sector dos serviços. Está a atingir o retalho, o que tem efeitos devastadores em todo o nível intermédio, entre produtores e retalhistas. Está também em vias de atingir a área financeira, o que já começa a ser visível. Assim, o sector dos serviços, que servia de amortecedor quando os trabalhadores da indústria ficavam temporariamente desempregados e a produtividade da indústria subia, não desempenha agora tal função, não é amortecedor. Estes factos não atingiram ainda na Europa uma dimensão semelhante, Mas a reestruturação e os correspondentes efeitos no emprego e outros não começar a atingir a Europa nos próximos anos.
Uma consequência de tudo isto é que o desemprego leva ao proteccionismo porque os trabalhadores estão assustados, mas, também, como se vê nos Estados Unidos, a um debate crescente não sobre o desemprego, que não é tão a\to nos Estados Unidos como no resto do mundo, mas sobre as disparidades crescentes do rendimento. Os salários reais nos
Estados Unidos caíram. Não dizemos que isso seja devido ao comércio internacional, mas o sucesso das afirmações de Ross Perot sobre o México e a preocupação sobre a invasão de produtos fabricados por operários de baixos salários, embora sem bases analíticas, está a ser alimentado por estas
alterações que produzem disparidades nos rendimentos.
O Sr. Leenalanda da Silva abordou a mesma temática do ponto de vista dos países em desenvolvimento, referindo que uma das acções principais que, nos anos 60, o Norte pensava que deveria fazer pelo Sul seria o fornecimento de know how técnico, portanto não somente o apoio com capital, mas o fornecimento de técnicos para transferir o conhecimento tecnológico. A índia e a China não necessitam já deste tipo de apoios. Julga-se que outros países no mundo em desenvolvimento também já não necessitam deles.
Quando se fala da divisão Norte-Sul e da pobreza refere o facto de muitos países em desenvolvimento terem hoje um rendimento per capita de mais de US$2000. Se se visitam estes países, como a Malásia, por exemplo, ou muitas outras economias do Leste da Ásia ou mesmo alguns países da América Latina, verifica-se que quando se atingem rendimentos percapita ao nível de US$1500 a US$2000 não há muita pobreza absoluta. Por outras palavras, para abolir a pobreza absoluta não há que atingir níveis de rendimento de US$10 000 a US$15 000. Se se dispõe de rendimentos de US$2000 ou mesmo de US$1000 ter-se-á abolido provavelmente a pobreza absoluta se os mecanismos económicos e sociais estiverem a funcionar por forma a atingir um certo montante de redistribuição dos benefícios do crescimento.
Se se olhar para as médias de alguns países que se situem na ordem dos US$350 a US$400 verificamos que o crescimento para US$1000 ou US$2000 não é significativo. Se se verificarem taxas de crescimento per capita, permitindo um crescimento populacional, de cerca de 5 %, o que é atingível e muitos países conseguiram, então há boas hipóteses para abolir a pobreza absoluta num prazo de 20 a 25 anos. Nesta relação Norte-Sul a única coisa em que nos devemos centrar é na erradicação desta pobreza absoluta no prazo indicado.
O êxito do Uruguai Round é muito importante e os países em desenvolvimento devem merecer algum tipo de preferência no estabelecimento dos arranjos comerciais.
Há agora grandes diferenças dentro do próprio Sul e isso deverá ser tido em conta ao fixar estas preferências. Mas mesmo os países mais evoluídos do Sul ainda se encontram aquém dos países desenvolvidos em muitos campos, por exemplo, no sector dos serviços. Na área financeira temos que nos centrar muito mais na Assistência Oficial ao Desenvolvimento a grande número de países. Mesmo a índia e a China necessitam do acesso a financiamentos preferenciais. O objectivo que consiste em destinar 0,7 % do produto dos países desenvolvidos ao apoio aos países em desenvolvimento permitirá um forte contributo na ajuda financeira.
A sessão inaugural encerrou-se após diversos comentários produzidos pelos membros do painel no seguimento das respectivas intervenções.
2 — Sessões de trabalho
As sessões de trabalho desenvolveram-se entre o dia \o à tarde e o dia 21 de Outubro, nelas tendo participado permanente e activamente os Deputados da delegação portuguesa