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5 DE AGOSTO DE 2006 __________________________________________________________________________________________________

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A CONFAGRI/FENAFLORESTA enfatiza o facto de “a mais de 30 quilómetros de distância da central deixa de ser possível economicamente transportar a carga para a central. Portanto, temos que pensar se vamos ter capacidade e vontade, e, aí, a vontade é a vontade política, de ajudar essa biomassa a sair da floresta e ir para as centrais. Mas, nem todos os resíduos florestais são para sair da floresta porque corremos o risco de degradar o solo por provocar erosão. Temos muito medo dos incêndios, mas é uma verdade que nem tudo pode sair da floresta, existem resíduos florestais que têm de ficar.”

O Professor Hermínio Botelho refere o exemplo da Galiza - e os galegos já têm muitas centrais - “onde foram apresentados vários estudos que já demonstram que, a partir de certa altura a rentabilidade, a eficácia e eficiência económica de uma central tem muito a ver com a distância. O que pesa essencialmente é o transporte. E o que eles estão a verificar é que, a certa altura, já não têm uma quantidade de matéria-prima suficiente e, portanto, para manterem a central a funcionar, têm de avançar para o corte daquilo que não devem.”

Esta é uma das razões que leva “o Centro de Biomassa para a Energia a discordar frontal e totalmente do concurso para a construção de uma nova rede de 15 centrais.” O CBE entende que “o concurso não atendeu às existências reais de biomassa.” Mas apresenta, ainda, mais duas razões: “entendemos que o concurso público esqueceu por completo os 150 MW de potência que tinham sido concedidos a empresas privadas nos últimos dois anos. E, por outro lado, esse concurso não veio resolver os problemas de racionalidade económica que permitirão a qualquer empresa ter as atribuições de potência que lhe tinham sido concedidas. A tarifa de entrada no sistema, que é de 106 euros, é inferior às necessidades dos agentes económicos. Eles não ganharão dinheiro com essa tarifa a não ser que a central tivesse uma dimensão muito superior às existentes em Portugal.”

A ANMP também coloca em causa o concurso ao afirmar que “as centrais de biomassa são importantes, mas analisem com rigor como foi feita esta distribuição das centrais de biomassa. Por exemplo, o distrito de Coimbra, que é um dos que corre maiores riscos tem 3 Megawatts, mas que podem ser absorvidos pela Sertã. O distrito de Castelo Branco dispõe de 26 Megawatts, Vila Real de 24 Megawatts e Viseu de cerca de 15 ou 17 Megawatts. 3 Megawatts para Coimbra?! E que podem ser absorvidos por Castelo Branco? Temos muita dúvida em termos de critérios técnicos, porque entendemos que eles não existiram.”

Também a ANEFA refere que “a ideia não é má, poderia ser feito de outra maneira, na nossa opinião, mas, de facto, onde vamos arranjar produtos florestais para abastecer tudo isto, temos sérias dúvidas em relação a isso. Embora as centrais de biomassa sejam uma solução de um problema energético, estamos a criar centrais demasiado grandes. O sistema nórdico tem as mesmas centrais de biomassa a funcionar, mas são pequenas centrais que são abastecidas localmente.”

O Centro de Biomassa para a Energia salienta, quanto a isso, que “quando falamos em centrais de dimensão muito superiores isso significa que a biomassa tem de ser retirada em perímetros maiores, o que, de alguma maneira, atenua ou impede os benefícios decorrentes da utilização da biomassa para fins energéticos porque vai onerar a função de transporte obtida com combustíveis fósseis.”

Os Professores Santos Pereira e Cardoso Pereira sublinham que “a capacidade instalada vai fazer com que seja a floresta que terá de ser cortada para produzir energia e não mato, isto por uma questão de eficiência económica, ficando o mato cada vez mais longe e a floresta reduzida especificamente para a produção de energia. Além de que a eficiência energética com custos de transporte elevados é um problema complicado. Mais uma razão, para concentrar esse tipo de intervenções estrategicamente em 5 ou 10% do território onde a vocação de contenção do fogo se sobrevalorize ao efeito ambiental.”

A Pinus Verde também manifesta a sua preocupação dizendo que “parece-nos que é capaz de haver muitas centrais de biomassa para o país que somos. Por alguns cálculos que fizemos, mantendo a proporção de 60% de resíduos florestais e de 40% de resíduos industriais, poderemos estar, no espaço de três, quatro anos, sem matéria-prima disponível, inclusive se pensarmos que na nossa zona onde poderão vir a aparecer três ou quatro centrais.”

O Engenheiro Gil Patrão, representante do Centro de Biomassa para a Energia e um dos maiores especialistas na matéria, em Portugal, explica que “há três tipos de centrais distintas que devem ser contempladas em qualquer estratégia nacional:

• As centrais primárias, as que existem em centros industriais de produção ligados à indústria transformadora da madeira, desde as celuloses à indústria da trituração, grandes serrações, etc.. É aí que existem os centros de produção, onde estão montados os sistemas logísticos; e onde há algumas oportunidades de fazer a valorização conjunta do calor e da electricidade. As redes primárias estão associadas basicamente a dois sectores industriais, ao sector dos cimentos, com unidades em Loulé, Outão, Alhandra, Maceira e Souselas, e às duas centrais termoeléctricas a carvão, a de Sines e a do Pego. Depois, temos ainda mais sete unidades vocacionadas para a produção de pasta de papel, que já têm actualmente centrais de cogeração e que podem vir a incorporar resíduos florestais, e mais duas ou três unidades de fabrico de painéis.

• As centrais secundárias, essas dedicadas à valorização energética da biomassa, localizadas onde haja floresta. No instante actual, estamos a referir-nos a centrais termoeléctricas; dentro de alguns anos, provavelmente, falaremos em biocombustíveis de segunda geração, como seja o biodiesel ou o bioetanol. Essas centrais, que têm de ter uma dimensão mínima para assegurarem uma rendibilidade interna das operações, são úteis porque são capazes de ajudar a montar os mercados locais e regionais de biomassa.