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convencido de que o ouro conservar,! um valor menos variavel em relação ás outras mercadorias, pela facilidade de exploração, pelas circumstancias especiaes dos depositos em que se encontra, e por mil outras razões.

Não direi o mesmo da prata, que está hoje cara, porque a exploração dos riquissimos jasigos da America se tem difficultado muito, em consequencia das perturbações politicas, occorridas naquellas legiões, desde o principio deste seculo; mas logo que estas agitações cessem, logo que os trabalhos da exploração se possam fazer com segurança, e que se aproveitem Os immensos melhoramentos que a sciencia tem preparado, virá dos Andes e da America-Central uma chuva de prata, superior ás torrentes de ouro da Califórnia e de Australia, apesar de que havemos de vêr ainda estas torrentes de ouro reforçadas com as que se hão de descobrir no interior da Africa; e esta época não esta longe.

Resumindo digo, que a proposta, para obstar á saída da prata, no projecto do sr. Santos Monteiro é insufficiente e inefficaz; não ha grande perigo em a adoptar, porque ella é innocente; (Apoiados) mas o que não acho innocente, é que na época actual, em 1053, vá esta camara dar um documento tão flagrante de despreso pelos principios rigorosos da sciencia. Para honra da camara e do paiz desejo e peço que seja rejeitado o projecto do sr. Santos Monteiro.

O sr. Ardia: — Ouvi com muita attenção os dois illustres deputados, que sustentaram o parecer da illustre commissão de commercio e artes apesar de lerem chegado a este resultado por caminhos diametralmente oppostos, o sr. Custodio Manoel Gomes sustentando que não era uma calamidade para este paiz a expoliação da praia, e o sr. Oliveira Pimentel, e com elle toda a commissão de que é relator, sustentando precisamente o contrario, isto é, que era verdadeira calamidade essa mesma expoliação.

Estes dois illustres deputados reconhecem, nem podiam deixar de reconhecer, a existencia do mal que se está experimentando, mas têem a coragem de repellir o remedio que se offerece só porque não cura radicalmente o mesmo mal: concordam em rejeitar o projecto do sr. Santos Monteiro, mas não lhe substituem cousa alguma. Os illustres deputados recorreram aos principios da sciencia, para rejeitar o projecto, mas deviam tambem procurar nesses principios a solução das difficuldades, em que nos achamos. (Uma voz: — A reforma do systema monetario). Então porque a não propõe a illustre commissão de commercio e artes? Porque a não propõem os illustres deputados que são membros desta casa, e que lêem portanto a iniciativa? Vamos já a essa refórma. Se para fazer desapparecer os inconvenientes que hoje se soffrem, é preciso essa refórma, se não ha outro meio senão essa refórma, venha ella. Mas não propôr nada é na verdade triste resposta que se dá ás pessoas que sofrem; porque os illustres deputados não pódem negar que ha quem soffra. (Apoiados)

E não se soffre só aqui em Lisboa, soffre-se tambem nas provincias. Eu tenho recebido em todos estes correios cartas que me dizem que nas provincias não ha senão soberanos, e muito pouco cobre, e não se pódem fazer as transacções commerciaes, ainda as mais insignificantes sem grandissima difficuldade. O cobre existe, mas é insufficiente, faltando a praia, para essas transacções, e a praia tem tambem desapparecido alli. (O sr. José Estevão: — Ha de desapparecer em toda a parte). Pois se ha de desapparecer em toda a parte, e se nós ainda a não banimos do nosso systema monetario, é indispensavel evitar desde já esse desapparecimento, ou reformar o nosso systema monetario com exclusão da prata. Mas não negar II existencia do mal, e repellir os meios de remediar esse mui, ainda mesmo aquelles meios que são innocentes, isto é, que não fazem mal, como se acaba de confessar relativamente no projecto do sr. Santos Monteiro, hão do dar-me licença para lhes dizer que não esperava ver isto. Pois nem ao menos os nobres deputados podiam approvar o projecto do sr. Santos Monteiro em attenção ás razões que deu a commissão de fazenda? Dirão — é um paliativo — de accôrdo; mas votem esse paliativo, que não faz mal, e faz algum bem, em quanto não poderem propôr, o fazer votar cousa melhor. E isto o que o paiz espera dos nobres deputados: é isto o que o paiz espera da camara.

E um facto que a prata tem desapparecido da circulação, e que o ouro só se troca por prata soffrendo um desconto que já é consideravel: é pois precisamente a esse mal que é urgente pôr termo. E um facto que depois da lei de 30 de janeiro de 1851, que elevou o direito de exportação sobre o marco de prata de 100 réis a 1$000 réis, a exportação da prata quasi que cessou, e levaram-se grandes porções deste metal á casa da moeda para se cunharem. E igualmente um facto que logo que aquella lei foi revogada, a expoliação teve logar em larga escalla, e nem uma só oitava de prata foi lotada á casa da moeda para ser cunhada. Ignoro quaes fôramos motivos que teve o governo para revogar a lei de 30 de janeiro de 1851, mas intendo que esta revogação é uma das causas dos inconvenientes que se estão soffrendo.

O illustre deputado, o sr. Custodio Manoel Gomes, que ouço sempre com muita attenção, e que costuma sempre esclarecer os assumpto:, que discute, não me satisfez hoje, digo-o com franqueza, u nas observações, que apresentou á camara, pareceu-me até ver lhe tirar consequencias que se não continham nos principios, que estabeleceu. O illustre deputado sentiu até (elle depois corrigiu estas expressões, mas a idéa ficou sempre) que não fosse o governo quem tivesse joeirado os cruzados novos para tirar o partido que tira o commercio exportando-os. Eu ouvi-lhe depois dizer que o governo devia converter estes cruzados novos em corôas. A idéa é a mesma. O illustre deputado não póde ignorar, que os cruzados novos, que lêem o pezo, e que por isso são os que se exporiam depois de convertidos em barra, têem quatro oitavas e seis gráos, o as corôas estão em proporção com o pezo legal dos cruzados novos; de maneira que o interesse que póde tirar o commercio em fundir o cruzado novo e exportal-o, é o mesmo que tem para fundir as corôas, e as meias corôas. Se actualmente o commercio funde em barra um cruzado novo que tem quatro oitavas e seis grãos, e o exporia por que ganha nisto, hade ganhar o mesmo em fundir as corôas, e as meias corôas. Logo o governo não ganhava cousa alguma em converter os cruzados novos em corôas.

Sr. presidente, esta questão tem sido tractada pela camara muito placidamente, e é uma questão economica que interessa a todos: não deve nestes assum-