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estava condenado; e, Sr. Presidente, por isso, é que mostrei o meu empenho em que o Sr. Sá Cardoso não continuasse no Governo, cm vez de apelar para uma recomposição que ó apenas, creiam, uma mesinha, um remédio caseiro, que nenhum valor traz à República, que nenhuma felicidade traz .ao Pais, e que tem ainda/oa gravissima desvantagem de prender S. Ex.a às responsabilidades, que, se o não inutilizam por completo e para sempre, como homem público, porque isso, creio, nunca sucedeu em Portugal, pelo menos tornam' S. Ex.a uni valor a não aproveitar nas dificuldades sempre crescentes e progressivas na administração pública.

Mas, Sr. Presidente, Lao foi positivamente para discutir a crise nas suas origens e na sua solução, que eu pedi a palavra neste momento.

Só eu o quisesse fazer, toria muito que estranhar que o Sr. Presidente do Ministério viesse renovar, para a explicação de crises ministeriais, aquela forma comesi-nha, inteiramente banal, com que se explicavam as inexplicáveis crises da mo-^ narquia.

Era uma dor de dentes no Fontes, era uma dor de barriga no Barjoria, e é agora, na República, uma birra de três Ministros.

Veja V. Ex.a como seria fácil criticar a crise, quer nas suas origens, quer na sua solução, atentas as palavras, preten-didamente explicativas do Sr. Presidente do Ministério.

Mas não foi para isso que pedi a palavra. • Pedi a palavra por que não quero que figure perante a Câmara o sentimento, ou a suspeição de que eu tinha feito um ataque pessoal ao Sr. Presidente do Ministério, negando por umas palavras o que tinha afirmado por outras.

Se fosse certo que eu tinha feito um ataque pessoal, demonstrando menos con-sidoração por S. Ex.a, eu ter-me-ía desmentido a mini próprio, com intervalo de poucos minutos, porquanto tinha começado o meu discurso afirmando-lhe a minha consideração.

Mas cada um tem a sua sensibilidade, cada um teve o seu feitio moral, os seus pontos de honra e pundonor, e o Sr. Sá Cardoso tem-os, como poucos, em tal grau, que nas minhas palavras amistosas

Diário da Câmara dos Deputados

viu — por que sinceramente o viu, visto que o disse—intuitos de menos consideração pessoal.

Debaixo desta impressão moral é que eu não queria que a Câmara ficasse, debaixo dela é que eu não queria que ficasse o Sr. Sá Cardoso.

Pelo homem, hoje como ontem e como sempre, desde há muitos anos que eu nutro a mais inalterável consideração, pois que nenhuma razão ainda* se me apresentou para modificar os meus sentimentos nesse sentido, que mais inalteráveis ficam ; pelo político que S. Ex.a tem sido no Ministério transacto, pelo político qire S. Ex.a vai ser, e já o demonstrou, -do Ministério actual, eu não posso tor nenhuma palavra de benevolência e simpatia, não direi sequer de apoio, 'porque o não poderia dar, mas ao menos de fácil benevolência, porquanto eu estou convencido de que a solução que se deu a esta crise política vai ser o motivo e ponto de partida de uma agitação que já não deveria haver no país, a despeito dos bons intuitos do Sr. Presidente do Ministério, visto que a crise obedeceu apenas à necessidade de deitar uma tomba no Partido Democrático, para fazer com que este, ou por uma forma ou por outra, umas vezes coni violência, outras vezes com brandura, como é próprio do carácter do Sr. Sá Cardoso, constrói temente esteja no poder, pretendendo ser a própria República.

Sr. Presidente : esta hora política que pode ter consequências graves, há-dc pesar ainda na consciência do Sr. Sá Cardoso.

Mas quando S. Ex.a se arrepender de não ter apresentado a sua demissão, será já demasiadamente tarde, porque estará ligada a factor que .o" inutilizará por largo período.

Estas explicações qu.o eu queria dar, não apenas ao Sr. Sá Cardoso, que as merecia, visto que se mostrou melindrado, mas também à Câmara, que não queria que me atribuísse intuitos quo não tive, resumem duas cousas: primeira, a consideração pessoal que eu tenho pelo Sr. Sá Cardoso; segunda: a falta absoluta do confiança que eu tenho na política. (Apoiados).

Tenho dito.