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procura encontrar o verdadeiro caminho da verdade e da justiça, se lhe abrisse um abismo para ela desaparecer.

Confio em que, reentrando todos na no.ssa serenidade de legisladores,-produziremos uma obra que se imporá pela sua justiça, pela sua firmeza e pela sua perfeita harmonia com os princípios democráticos.

Tenho dito.

O discurso será publicado na integra, revisto pelo orador, quando restituir as notas taquigráficas que lhe foram enviadas.

O Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior (António Maria Baptista):— Sr. Presidente: tendo-me constado que um Sr. Deputado fizera referências ao Sr. Ministro do Comércio, tenho a declarar que S. Ex.a não se encontra em Lisboa, por motivo de serviço público, esperando, contudo, assistir à sessão de amanhã, a fim de responder a essas referências.

O Sr. Cunha Liai (para explicações):— Sr. Presidente: mais uma vez repito qne esta questão tem dois aspectos, moral e político.

Há políticos privilegiados dentro da Kepública e políticos não privilegiados dentro da República. Há políticos que podem cometer actos extraordinários, quo ninguém duvida da sua honorabilidade; há outros -em que esses actos são ogo alcunhados duma desonestidade evidente.

Falemos do primeiro caso.

Foi trazida aqui a questão do arroz, que representa a maior prova de incom' petência que um homem, no exercício do seu alto cargo, pode dar ao país. Pois nós, quando nos referimos. a esse ^homem, que connosco faz parte do Congresso da República, tivemos sempre o cuidado, ao referirmo-nos a esse facto, de abstrair por completo qualquer pensamento de desonestidade, na execução do mesmo acto. Isto representa a correcção.

A comissão de inquérito ao Ministério dos Abastecimentos VPÍO aqui dizer, por exemplo, que tinha conhecimento de factos que ela reputava incursos em determinados artigos do Código Penal, e que tinha enviado para o tribunal dois ex-

Diàrio da Câmara dos Deputados

Ministros da República, contra os quais nenhum ódio pessoal tenho, e que são os Srs. Jorge Nunes e Brito Guimarães.

Respeitando muito os melindres de consciência dessas altas individualidades, a comissão julgou do seu dever publicar nos jornais um lava-culpas, que só os tribunais deviam passar.

Tal era o melindre e o cuidado que havia em indicação de tal natureza.

Mas há mais.

O Sr. Jorge Nunes, por exemplo : era administrador delegado da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, por conta do Estado, quando veio para o Ministério, e, só passados muitos dias, é que o País teve conhecimento de que S. Ex.a ú-nha pedidox a demissão do sou lugar, de forma que neste espaço de tempo, qualquer questão que tivesse de ser resolvida com o pessoal dessa companhia, tanto podia ser tratada por S. Ex.a na qualidade de administrador, como na qualidade' de Ministro'do Comércio.

Ninguém protestou contra isso, porque todos supuseram a sua honorabilidade pessoal acima de qualquer suspeição.

Mas há mais ainda.

Na vigência do actual Ministro do Comércio, que ora director da Companhia Cintra-Oceano, foi esta autorizada por quem de direito, a aumentaras suas tarifas ao dobro, mas ninguém pôde dizer que o Sr. Ministro do Comércio cometeu um acto desonesto.

E se o1 regime de srspeições é este, se pelo facto de um galego de esquina, empurrado pelo meu merceeiro, ir afirmar um dia a uma comissão de inquérito ao Ministério dos Abastecimentos, que eu tinha cometido actos desonestos, o meu nome foi incriminado, ,; porque se não há-de citar o do Sr. Ministro do Comércio?

E j€ que estou no uso da palavra, permita-me V. Ex.a, Sr. Presidente e permi-tá-me a Câmara que eu manifeste o meu desgosto mais profundo, pela maneira como esta questão tem sido colocada.