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Sessão de 18 de Março de 1921

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o país um grande benefício, qual é o que lhe advém do desenvolvimento das nossas colónias.

O Parlamento assim o entendeu, e ficou'bem demonstrado que os representantes da Nação sabem absolutamente que as nossas colónias são a garantia do nosso futuro, e sobretudo a independência de Portugal e a afirmação da Nação forte que devemos ser.

A contribuir para a agradável comoção de que me encontro possuído, tive uma notícia, a que já houve hoje uma referência nesta Câmara, notícia que pode parecer insignificante, mas que para mim representa muito: foi a chegada a Mossá-rnedes, ao sul de Angola, de sessenta e dois portugueses, que, obrigados a sair do Brasil pelos seus sentimentos patrióticos, foram procurar numa terra portuguesa, pelo seu trabalho, o seu sustento e o de suas famílias.

Essa notícia anunciava, também que eles foram entusiasticamente recebidos e carinhosamente saudados por todos aqueles que constituem a população de Mos-sâmedes, e que são os descendentes do grupo de portugueses que em 1852 lançou nessa terra as bases da que hoje é uma das melhores cidades da costa de Angola, grupo que lançou o padrão que serviu para que a primeira tentativa de espoliação colonial de Portugal, ern 1884, não pudesse ir além dos limites do Cune-ne, porque encontrou por toda a costa abaixo, desde Mossâmedes à baía dos Tigres, esses portugueses que vieram do Brasil em 1852.

O facto, que consta da notícia a que acabo de referir-me, representa para mim qualquer cousa do prometedor, qualquer cousa de extraordinariamente grande. Eu vejo nitidamente .que ele ó o início da grande colonização que nós devemos fazer na costa sul de Angola, colonização que é a garantia segura da soberania portuguesa, que há-de continuar para sempre.

Esses 62 poveiros que desembarcaram no sul de Angola, e que, dentro em pouco, chamarão para lá as suas famílias, são o início duma grande colonização portuguesa que se vai fazer, e que estará realizada dentro de poucos anos.

Associei-me ontem às honras que se prestaram aos restos mortais de portu-

gueses que se bateram em França. Dois oficiais ali, no Arsenal de Marinha, têm depositados os seus restos. Um serviu comigo no meu Gabinete, quando tive a honra de ser Ministro da Guerra.

Era já um homem feito, chefe de família, casado, com filhos, cheio de qualidades, cheio de bravura e com carácter; o outro uma criança apenas de 23 anos, entrado há pouco na vida; e depois, ladeado talvez pelos oficiais que o comandaram, encontra-se um soldado, cujo nome desconhecemos, mas que representa essa massa heróica, esse povo magnífico, que vif embarcar no porto de Lisboa, levando na fisionomia, bem estampada, a compreensão nítida do dever patriótico que ia cumprir.

Tenho ouvido muitas vezes dizer que as classes médias, em Portugal faliram. Eu digo que não, e que? pelo contrário, elas têm a compreensão dos seus deveres. As classes médias são os bravos soldados, são sargentos e oficiais que foram para a guerra e cumpriram o seu dever, sendo elas, portanto, dignas desse povo heróico, que é o povo português. Eu, infelizmente, tenho ouvido dizer palavras que era melhor que se não dissessem, porque nós devemo-nos levantar. Não conheço heroicidade que se possa comparar à do nosso soldado que foi tomar parte na guerra da Flandres, porque a França tinha o inimigo no seu território, a Bélgica e a Inglaterra também, e, nesta última, tive ocasião de assistir, quando para lá fui desterrado, à sua passagem por cima da minha casa, lançando bombas, tendo os submarinos tocado também muitas vezes na costa dev Inglaterra. Ora o nosso soldado tinha dê atravessar distâncias enormes no Oceano, não sentindo a rudeza da guerra que lá se travava. •

Foi isto que eu senti recordar, prestando as homenagens que pude prestar aos restos mortais que se encontram na cidade de Lisboa.