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Diário da Câmara dos Deputados

o procedimento dos monárquicos e o procedimento dos homens da República.

O sentimento nacional ó a favor da amnistia e o Parlamento, votando-a, não faz mais do que consubstanciar a vontade da Nação.

Sr. Presidente: contra a amnistia aduziu-se o argumento de que ainda há pouco o Governo anunciou uma conjura monárquica.

Como tenho dito várias vezes, não tenho a esperança de que a República consiga render todos os seus inimigos à obediência constante dos seus preceitos e das suas ordens.

Não tenho mesmo a esperança de que os monárquicos se conformem com o que está estabelecido pela Constituição; mas sei que em todas as épocas se conspirou, que em todos os casos se conspirará e não é porque um reduzido número conspire que a sociedade está ameaçada.

Dizia alguém que, numa cidade onde houvesse 100:000 habitantes, sempre haveria cem que conspirassem.

O que importa é saber se essa conspiração ameaça a segurança nacional e se ela constitui um perigo para as instituições vigentes.

O Governo encarregou-se de dizer, por uma forma peremptória, que essa conjura não constitui ameaça para a República.

Sr. Presidente: se fosse de aceitar o argumento produzido pelo Sr. Cunha Leal, de que votávamos a amnistia sob uma fase revolucionária e abdicávamos por isso dos nossos princípios e da nossa própria defesa, jamais a República votaria a amnistia, porque, como muito bem disse o Sr. Presidente do Ministério, há monárquicos que não querem, a amnistia, não tendo, como não podem ter, coragem de o dizer em voz alta.

Entre esses monárquicos há emigrados políticos que levam uma vida regalada à custa de pesadas contribuições que saem do país, do bolso dos seus correligionários.

Entre eles há agitadores profissionais, conspiradores de ofício e a respeito desses não podemos ter nós nem o país a esperança de que desarmem.

O que. prejudica a República não é isso, o que prejudica a República c que a Nação se solidariza com a causa da amnistia por uma questão de sentimento ou por

uma questão de instinto e nós, com receio de meia dúzia de conspiradores, não obedecemos às indicações do país; nisso é que está o perigo fundamental, porque então o país voltar-se há contra nós porque não obedecemos a essa indicação.

Sr. Presidente: a ordem pública não ó a ordem sob o aspecto meramente policial; a ordem pública é a conjugação dos esforços de toda uma nação num certo sentido.

Justamente terminada a guerra, precisamos fazer a reconstrução ca Pátria, e isto não é uma frase banal, ostamos arrumados financeiramente, a desorientação em todas as classes é geral, precisamos dar um caminho à nossa civilização, precisamos fazer um esforço colossal para o aproveitamento do nosso domínio colonial, para o restabelecimento das nossas finanças, £ e como ó que podemos ter autoridade para nos dirigirmos ao país, quando o país nos pede ordem, paz e_ conciliação, se não realizamos um acto que o país nos pede com medo de meia dúzia de conspiradores?

Sr. Presidente: se ó necessário que nós não dêmos importância a esses conspiradores de ofício, a esses; agitadores profissionais monárquicos, também é necessário que a República não dê importância aos agitadores profissionais que há dentro da República e a amnistia, Sr. Presidente, tem servido a alguns para à custa daqueles que sofreram nas prisões se fazer uma política que, quanto a mim, não tem servido à República senão para trazer o desânimo a uns e a revolta a outros.

Sr. Presidente: nestas poucas palavras está fundamentalmente a defesa da amnistia.

Eu tenho a certeza de que, se a Câmara votar a amnistia e se amanhã se abrirem os cárceres aos presos políticos, sobre a República cairão as bênçãos do país.

Eu tenho mais receio da indignação duma mulher do que duma espada.

As manifestações que as mulheres têm feito em volta da amnistia são por demais eloquentes e devem ecoar-nos no coração.

Não é sentimentalismo piegas.