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í)iário da Câmara dos Deputados

Argumenta-se com o facto de alguns dos presos políticos não terem sido ainda enviados para o lugar de degredo a cumprir as penas a que foram condenados. E essa uma gravíssima culpa do Poder Executivo. Porque o não fizeram'? Que recearam ?

Faz-me pesar que a Eepública só demonstre e faça uso da força de que dispõe quando se sente atacada, dela se esquecendo lamentavelmente, e em seu desprestígio, quando tem de fazer cumprir as próprias leis que vota para sua defesa.

0 Sr. João Chagas, nosso ministro em Paris, poderia, se quisesse, informar o Poder Executivo, dizendo-lhe como o levaram- a África os governantes da monarquia.

Não foram, é o facto; e assim temos desacreditado as nossas leis e o prestígio das nossas autoridades.

1 Em compensação andam agora pressurosos na tarefa da votação da amnistia, e tam rapidamente o vão fazer que nem. tempo dão para serem ouvidas as vítimas, das violências infames do Aljube e do Éden; que ninguém se lembrou sequer de consultar os combatentes e os crepes negros de Monsanto!

Sr. Presidente: com infinita mágoa constato que a pouco e pouco nos vamos, deixando atacar duma incurável anemia de virilidade. Assim, caminhamos para uma morte inglória, à falta de másculas, energias, de decisão e de força de vontade. Já a vara da justiça em nossas, mãos treme e verga, como frágil vime., quando se trata de aplicar a um grande crime uma severa e rigorosa punição.

Digam o que disserem os líricos da sentimentalidade lusitana, os povos governam-se não com o coração, mas com a cabeça. Ainda não houve período nisto-rioso que a acção de um homem superior não ilustrasse, que não fosse vincado, todo ele, a golpes audazes de inflexível e perfeita justiça. Corramos os olhos sobro o passado e demoremo-nos, por instantes,

na respeitosa admiração das gigantescas figuras de Ooniwcl, Richelieu e Pombal. Todos eles castigaram com implacável dureza as vontndes criminosas que se procuravam antepor à realização gloriosa das suas obras imortais e belas. E no emtanto, Sr. Presidente, a Inglaterra, a França e Portugal erigiram-lhe monumentos que nos escondem agora a visão trágica e sangrenta dos patífculos que eles fizeram levantar.

Não quero recordar agora aqui a infinita série de crimes, alguns? bem repugnantes e impróprios do carácter da nossa raça, que os monárquicos cometeram durante o dezembrismo e durante o período chamado da Traulitânia. Muitos foram eles, mas eu só me permito referir neste momento, porque, de facto ele é a melhor resposta que se pode encontrar ao descabido argumento da oportunidade da amnistia em honra da sacrossanta memória dos nossos mortos da guerra: à porta dum edifício público do Porto — do edifício dos correios, se bem ir.e lembro — estenderam os monárquicos a bandeira nacional, obrigando assim os que entravam e saíam a manchar, com a brutalidade dos seus tacões, o escudo das nossas glórias, os castelos das nossas conquistas, as quinas da nossa tradição. E, no emtanto, à actual bandeira da Pátria nem já a consagração dos campos da batalha faltava, porque essa consagração lhe fora conquistada pelos nossos bravos soldados, que em imarcessíveis rasgos de epopeia mostraram ao mundo inteiro que as coros das suas dobras flutuantes, que os ventos da França agitarão e bateram, reproduz fielmente o verde -vivo das nossas lindas campinas e o sangue vermelho e quente dos filhos de Portugal, que, como aqueles que lá em baixo sacratissi-mamente repousam, por ela souberam morrer.

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Tavares de Carvalho: — Sr. Presidente : de harmonia com as prescrições regimentais, peço licença para ler a minha moção de ordem, que vou enviar para a Mesa:

Moção de ordem