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Sessão de 8, 11, 12'e 13 de Abril de 1921

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«Traulitânia», porquanto os pretendem reeditar, passa à ordem do dia.— Luís Tavares de Carvalho, Deputado.

Sr. Presidente: sangra-me o coração ao iniciar as minhas considerações sobre uma proposta de amnistia vinda do Senado, e sangra-me, principalmente, porque talvez um dos soldados desconhecidos, tivesse sido meu companheiro nos campos da Flaudres.

Nunca, nesta Câmara nem em parte alguma, saíram dos meus lábios palavras de ódio, e sempre, por toda a parte eu tenho anunciado a paz, sempre em todos os lugares eu tenho pedido perdão.

Hoje, ó com tristeza e com dor, e não sei ainda se com lágrimas sinceras e não fingidas, que eu terei de lembrar factos passados, esquecidos já dos meus correligionários.

E tenho pressa de o fazer tam próximo dos dois soldados desconhecidos, tendo a escutar-me, estrangeiros.

Mas as circunstâncias assim me obrigam ; e, em minha consciência, eu faltaria ao mais sagrado dever, se não levantasse a minha humilde voz, a mais humilde de todos vós, amigos e colegas, sempre calada neste cantinho obscuro.

Mas, como talvez nem todos os que me escutam se lembram dos sacrifícios por que passei, eu tenho de os lembrar, e apesar de não gostar de falar nunca de rnirn, eu tenho, no emtanto, de contar o que se passou comigo.

Com Leote do Rego e com outros pa-ladiços que se bateram pela nossa comparticipação na guerra, eu andei de terra em terra, levando a todos o incitamento, para podermos entrar na guerra, que assolava o mundo.

Procurei cumprir o meu dever, e, se não trago o peito' cheio de cruzes de guerra, não foi porque nunca me faltasse o ânimo, para combater como português ao lado dos nossos aliados.

São os azares da guerra, e com tanta sorte para mim, que nunca fui ferido.

Defensor da nossa comparticipação na guerra, ofereci-me voluntariamente, e, depois de catorze meses de trabalho insano, regressei à nossa querida pátria.

Antes tinha havido um movimento revolucionário, alcunhado de dezembrismo, e,

depois de ter sacrificado o melhor da minha existência?

NQ dia em que entrava em Portugal, no dia em que me apresentava na minha repartição, davam-me uma guia para o desterro, para Almeida, como se eu fosse um facínora, como se não acabasse de cumprir o meu dever.

E lá vou para Almeida, como os liberais de 1820, defrontar-me com aqueles rochedos inhóspitos, deixando uma família numerosa.

O beijo de Slegria que tinha dado a meus filhinhos ao entrar em casa, tive de dá-lo à noite como despedida, e uma filhi-nha minha dizia: «O pai não vai para Almeida, o pai volta novamente para a guerra».

Lá estive três meses e meio, estando o processo ainda em aberto, não me constando que tivesse havido então amnistia alguma.

Depois, Sr. Presidente, foram precisos mais oficiais da minha especialidade em França e, se bem que eu tivesse sido des-mobilizado, fui novamente chamado para ir para a França. Porém, ao ser chamado, disse que estava pronto a cumprir o meu dever, mas quo antes de eu ir teria de partir para lá o capitão Sr. Carneira, que era mais moderno e que ainda lá não tinha ido.

Não foi, Sr Presidente, preciso mais 'nada, pois que em face disto nunca mais só falou na minha pessoa; porém, mandaram-me novamente para Almeida, ten-"do eu dito então quo iria para lá, sim, numa situação militar e não na qualidade de preso.

Como, porém, eu não podia ir numa situação militar para uma terra onde não havia uma única unidade, mandaram-me então para Braga, ondo fui encontrar muitos amigos o correligionários.

Fui no dia 12 do Outubro para Braga; porém, ao sétimo dia de lá estar adoeci com uma terrível doença, a gripe pneu-mónica.

Logo no primeiro dia de convalescença recebi ordem para ir para infantaria 6, obrigando-mo a fazer o trajecto a pé, isto depois do ter estado 27 dias doente.