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Diário da Câmara dos Deputados

noção que da Justiça tenho, assim mo ordenam neste momento. Não quere dizer que me repugne inteiramente a idea dum tal acto de magnânima generosidade. Não; e tanto assim que, se ela não for votada agora pelo Parlamento, tico fazendo sinceros votos porque os presos políticos e os seus correligionários em liberdade procedam por forma a poderem merecê-la rapidamente na conveniente oportunidade que hoje. a meu ver ainda não existe.

Sr. Presidente: a todos os movimentos insurreccionais monárquicos contra a República, e muitos têm sido eles, correspondeu sempre o regime com a concessão de várias amnistias, que até aqui, que se saiba, apenas têm servido para reforçai-as fileiras dos nossos irredutíveis adversários, dando-lhes a certeza duma quási completa impunidade. As razões da sua concessão são sempre as mesmas. Se, atentamente, no« dermos ao trabalho de analisar as colunas dos jornais e os extractos parlamentares de então, facilmente encontraremos nos artigos publicados e nos discursos proferidos, quási que sem notável diferença de argumentos e mesmo de virgulaçao, as substanciosas razões que ainda agora, uma vez mais, se adu-zem a seu favor. No estafado e já ridículo realejo da nossa sentimentalidade, a ária da reconciliação da família portuguesa é sempre a, mesma. Assim, bem se podia ter dispensado o Sr. Dr. António Granjo de levantar a sua voz em defesa dos presos -políticos, tam bem conhecemos já os substanciosos motivos e os sediços argumentos dessa defesa.

Hoje como ontem, ontem como sempre, lamentavelmente se esqueceram, j quem cuida agora disso j as dores e o sangue derramado daqueles que denodadamente só bateram contra a vileza sem nome da última traição monárquica.

Mal avisados andam os republicanos que só se lembram dos amigos quando troveja e o perigo é iminente.

Sr. Presidente: fui preso por monárquicos, disfarçados em sidonistas, o mais tarde, a monte andava, quando a traição arrancou de vez, nas ruas da heróica cidade do Porto, a máscara de hipocrisia que afivelara no rosto.

Imediatamente corri à minha terra e, entretanto, os monárquicos eram glorio-

samente vencidos pelo povo republicano de Lisboa, na jornada ópica e para todo o sempre memorável da subida heróica das históricas terras do Monsanto. Pois, Sr. Presidente, logo que cheguei a il/vo-ra, durante os dois dias e as duas noites que se seguiram, todos os meios ao meu alcance empreguei, felizmente com sucesso, para evitar, como evitei, que sobre os monárquicos se exercessem qua.squer violências que deslustrassem e desprestigiassem o b o AI nome e a honra da Hepública. Perdoe V. Ex.'\ Sr. Presidente, e perdoo a Câmara, que me está escutando com amável e imerecida atenção, que eu, contra o que 6 meu costume, esteja desta vez falando demasiadamente de mira. Faço-o, porém, para poder afirmar que também eu sou homem do coração e que a minha consciência, sossegada e tranquila, me diz que nunca o meu coração t:emeu por qualquer acto mau que eu tivesse praticado.

Sim, Sr. Presidente, eu também tenho coração e é precisamente ele que me afirma que a concessão da amnistia neste momento, a quinze dias da reve.ação dum movimento monárquico fracassado, é uma inconsiderada e revoltante obra de cumplicidade com o novo movimento que, assim, forçosamente se há-de seguir; tenha ele, Sr. Presidente, a cor política ou social que tiver, porque republicana se dizia a dezembrada, e no Parque de Eduardo VII estiveram os mais intransigentes dos realistas.

Há aí corações, doentiamente sentimentalistas, que choram emocionados as amarguras dos presos políticos e as tristes desditas das suas pobres famílias, que eu sou o primeiro a lamentar; no emtanto, Sr. Presidente, esses mesmos corações encaram, pelo que se vê, com sorri ilente despreocupação, a responsabilidade grave das novas desgraças, dus uo\as dores, vítimas o lutos que vão causar.

A impunidade, mais ou meros garantida, excita à repetição dos mesmos crimes, é a história de todas as nossas amnistias que o afirma e são os dez anos de prática da nossa República que o atestam. Tam cegos somos que até a própria verdade histórica pretendemos iludir e negar.