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Sessão de 8, Í1, 12 e 13 de Abril de 1921

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voto a amnistia, e milhares dos que se têm batido pela Eepública, e o seu espírito pudesse vir aqui, repetiriam as palavras que estou pronunciando.

É que ó unui traição à República votar-se a amnistia neste momento. (Apoiados). (Não apoiados].

Tenho sempre assumido a rt sponsabi-lidade dos actos que pratico, e não temo, digo-o bem alto, os meus adversários.

E como não receio de passar ao seu lado, não me recusarei a votar a amnistia quando o mereçam. Não o merecem agora.

Como republicano, neste momento em que repousam lá em baixo as urnas de dois heróis desconhecidos, querem trazer para junto de nós o pomo do discórdia, querem fazer a nossa separação, porque isto não representa mais do que o desejo de nos sonarar, mais do que estamos separados. Eles bem sabem que quando tocam na Eepública estamos todos unidos, somos como que um só homem, assim como também sabemos que, se os deixarmos à vontade, poderemos ser vítimas e para nós não há perdão nem amnistias, porque nós também a não pedimos nem consentimos às nossas mulheres que vão rastejar junto dos nossos adversários a pedir perdão, como algumas têm vindo até junto de mim e de muitos outros republicanos.

Não tenho feito mal a pessoa alguma. Pelo contrário, em 5 de Outubro, cobri com os meus ombros muitos monárquicos ; no episódio das espadas disse a muitos dos meus camaradas: «vejam o que vão fazer»; em 14 de Maio disse apenas palavras de paz e perdão; em 13 de Fevereiro, no Porto, abri as portas do Aljube dizendo: «rapazes, não se faz mal a ninguém!» Deste facto pode ser testemunha o Sr. Conde de Mangualde, que evitei que fosse morto pelas suas vítimas, porque, sem dúvida, ele era o maior responsável de todos os crimes que se praticaram naquela cidade.

Assim, Sr. Presidente, eu não voto a amnistia e assumo inteira responsabilidade desse meu acto sem receio de ser apontado ás feras. Do mais tenho sido a elas apontado. Só o quo lamento ó que agora tantos corações, tantas boas almas existam e quando estive preso nem os meus companheiros tivessem para mim uma pa°

lavra de consolo, nem o sorriso duma senhora, nem uma palavra de amor; e, contudo, parece-me que não sou menos patriota do que os patriotas que estão presos, sendo como eles filho de Portugal. Que apontem os meus crimes, que me digam quais as minhas perseguições, que venham até mim aqueles qiie eu tenha perseguido. Nunca, em minha consciência o digo, nunca fiz -mal a ninguém.

Na vida quo enccíci tenho tido occasião de fazer mal e não o tenho feito. Limito--me a' chamai- aqueles que tenham prevaricado e depois deos ouvir admoesto-os. Nunca castiguei pessoa alguma, nem disso preciso para me fazer obedecer.

Seria eu o primeiro a abrir as portas das prisões aos monárquicos se eles merecessem que eu fizesse por eles esse sacrifício.

Mas não o merecem.

Amanhã, como ontem, como hoje, eles não agradeciam o meu gesto, porque tantas pessoas eu tenho salvo, tantos favores tenho feito, e não tenho encontrado senão ingratidões.

Fui desterrado; e doente, entre a vida e a morte, fui proso. E porque? ^Que crime é que eu cometi?

i O de ser republicano e democrático! Como se não fôssemos nós aqueles que mais força temos dado para defesa do nosso ideal, como se não fôssemos nós os que vamos na vanguarda sempre que é prociso defender a República!

E crime ser democrático?!

O que se pretende é abater essa grande força que está no coração do povo, mós enganam-se. Se alguém tiver essa intenção encontrar-nos há bem unidos para combatermos os nossos inimigos.

Vozes: —Muito bem.

O discurso será publicado na íntegra quando o orador haja devolvido as notas taquigrâficas.