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Diário da Câmara dos Deputados

Para bem se poder discutir, necessário era saber a opinião do Sr. Presidente do Ministério. Porém, pelas palavras vagas que S. Ex.* pronunciou, nada se pode concluir.

Teríamos, Sr. Presidente, de analisar o assunto sob vários aspectos, isto é, teríamos de o analisar pelo que diz respeito ao célebre Comissariado dos Abastecimentos, instituição esta criada pelo Governo do Sr. António Granjo, e bem assim a forma como as contas têm sido liquidadas.

Vejo, porém, que tal se não pode fazer, por isso que a Câmara pouca atenção está prestando ao assunto, o mesmo acontecendo com o Governo.

O Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior e, interino, da Agricultura (Bernardino Machado) : — A prova de que estou preso à discussão e às palavras de V. Ex.a, ó que não pedi dispensa à Câmara para ir à Escola Militar prestar as minhas homenagens ao general Joffre.

O Orador:—Eu creio bem que o Sr. Presidente do Ministério esteja aqui preso, pois de contrário estaria na Escola de Guerra. Mas o que é facto ó que me parece que o assunto era mais digno da. atenção da Câmara.

Eu, Sr. Presidente, devo declarar à Câmara que não desejo continuar a ser comparsa nesta questão e, assim, desejava saber se-a Moagem já pagou todos os carregamentos de trigo que recebeu.

Foi esta, Sr. Presidente, a questão que me preocupou quando fui Ministro daís Finanças, isto é, a maneira como estão organizadas as contas do Estado. E tanto assim, que tratando do assunto com o Sr. Ministro da Agricultura, ele concordou com o meu ponto de vista, isto é, que depois de feita a transacção, o dinheiro entrasse imediatamente na Caixa Geral de Depósitos.

Sr. Presidente: não merece a pena continuar, visto o enorme e geral alheamento da Câmara para este assunto. (Não apoiados).

Visto não ser como digo, continuarei.

A primeira cousa que nós deveríamos discutir era se o Estado deve ou não continuar a ser comerciante: se se continua

com a liberdade de comércio absoluta ou com restrições.

O Sr. António Granjo, estabelecendo a liberdade do comércio, causou uma enorme perturbação na vida econónvica do País. O Sr. António Granjo para a maior parte dos produtos abriu as fronteiras, donde resultou um agravamento na alta dos preços, e as muitas greves, como a dos caminhos de ferroj a dos funcionários públicos e todas as perturbações resultantes da liberdade do comércio.

Nós pregámos princípios que nos podiam conduzir à ruína.

Neste momento por todo o mundo há embaraços de ordem financeira.

A França estava sendo vítima do preço do carvão e, então, fez um depósito de carvão para seis meses, e a partir desse momento a França marcou o preço ao mercado exportador e o preço foi baixando de dia para dia. A França precisava menos comprar carvão do que a América vendê-lo. Viu-se o país exportador ficar sujeito ao preço do país importador.

Por toda a parte os embaraços financeiros são grandes.

De modo que o resultado foi o seguinte : de repente o comerciante viu-se embaraçado para fazer a sua venda. Os Bancos não lhe ofereciam os capitais necessários para poderem vender os produtos.

E dá-se então o seguinte: os preços lá fora têm ficado inferiores aos que eram antes da guerra, carvão, trigo, etc.

Em Portugal sucede que, ao passo que os preços lá fora baixaram, as nossas divisas cambiais iam para baixo, e a baixa era superior à dos preços lá fora.

Sucede que nós sentimos uma alta de preços. Mas tira-se uma conclusão perigosa: a alta não acompanhava o aumento do preço da libra. Era menor.

Os stocks existentes no mando hão de acabar, e a conclusão é que se está vendendo a preços superiores aos de antes da guerra.

Estamos em vésperas da tal catástrofe política, se não estivermos condenados a morrer de fome. (Apoiados).

Portanto será conveniente fixar ideas a este respeito. _,.,." ^