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Diário da Câmara dos Deputado»

Era preciso arrancar à política inteiramente tudo que diz respeito a subsistên-cias. Era necessário criar-se um organismo inteiramente fora da política, quer de acção parlamentar, quer de acção gover-nativa, quer de acção partidária, havendo toda a liberdade de acção no que diz respeito a subsistências.

O comerciante miliciano fora em grande parte o mal da nação. JDm cada dez propostas que apareciam no Ministério da Agricultura, para fornecimentos, uma parte delas era trazida por políticos ou patrocinada por políticos. Era absolutamente indispensável subtrair à acção política tudo que dizia respeito a subsistências. Por isso criei o comissariado das subsistências.

Singular é que, tendo o Sr. Cunha Leal feito parte de um governo anterior e desde que atribuiu a esse organismo tam graves consequências, não procurasse acabar com o Comissariado dos Abastecimentos.

O Sr. Orlando Marcai:—^E, porventura, V. Ex.a sabe se o Sr. Cunha Leal não se esforçou nesse sentido?

O Orador: — Até este momento ignoro-o.

Se a questão do comissário dos abastecimentos fosse em relação a essa matéria uma questão vital, se eu fosse Ministro, não daria solidariedade a um Govêr-no que mantivesse o Comissariado dos Abastecimentos. Não a daria então e não a daria agora.

Mas, Sr. Presidente, quando eu criei o Comissariado dos Abastecimentos, anunciei à Câmara que ia empregar todos os esforços para estabelecer a liberdade do comércio.

Fi-lo pouco a pouco, procurando resol ver, por meio de contratos, o problema de fornecimento do trigo.

No acto da posse do comissário dos abastecimentos, disse que era preciso encher a casa.

Não havendo no país as subsistências indispensáveis ao consumo público, era efectivamente necessário encher a casa e dar ao comércio português as garantias indispensáveis para ele realizar as mais largas aquisições de géneros.

Os preços nunca atingiram uma alta demasiada, mas quando se regressou ao sistema das restrições, o mercado ressentiu-

se, e agora, por exemplo, há uma grande falta de azeite, e os óleos que o podem substituir não são do agrado do público, ou então vendem-se por um preço tam exagerado que o consumidor prefere pagar o azeite por preço superior ao da tabela a ter de recorrer a. esses sucedâneos.

Só em relação ao açúcar, em que se manteve a liberdade de comércio, é que o povo português não tem sentido falta no mercado.

Com relação às subsistências, em que continuou o regime de restrições, a falta tem continuado e só se podem, adquirir os géneros clandestinamente e por preços superiores aos da tabela.

A venda clandestina com lucros fabulosos continua.

E certo, Sr. Presidente, que os jornais de grande circulação não têm feito, em relação ao estado actual, a mesma campanha que fizeram antes da constituição do meu Governo, mas nem por isso a situação deixa de ser a mesma.

Atribuo um pouco a razão deste silêncio da imprensa ao facto de, com o Comissário dos Abastecimentos trabalharem alguns elementos avançados, como o escritor operário Carlos Eates.

E é bom que assim seja para que o operariado veja que o regime do tabelamento e da restrição, é impossível para normalizar o mercado português.

Os problemas são sempre extremamente simples. Só são complicados pelos interesses dos homens e pelas conveniências dos Partidos.

Este problema, em Portugal como em toda aparte, é um problema de produção.

O que é indispensável é ordenar todas as forças produtoras de forma a alcançarmos a maior produção.