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Diário da Câmara dos Deputados
Julho de 1914, afirma que a especulação jogou nesse empréstimo um grande papel, não obstante o Govêrno ter tomado todas as precauções. E o ilustre jornalista relata no seu brilhante artigo as circunstâncias em que a especulação desenvolveu a sua acção daninha. E longo cêsse artigo do Sr. Manchez, por isso não o leio para não cansar a Câmara; mas o certo é que a afirmação, do Sr. Yves-Guyot é confirmada e explicada por outras individualidades autorizadas.
Sr. Presidente: evidentemente a hipótese em discussão não é idêntica; mas as condições em que o nosso Govêrno pretende lançar o empréstimo prestam-se sobremaneira a ama mais extraordinária especulação de que haja memória. Aflige-me só a idea, Sr. Presidente, e receio que o país não possa resistir a um embato dessa natureza, que eu antevejo inevitável.
Apoiados.
Tem-se querido justificar o empréstimo dizendo que muitos portugueses residentes no Brasil desejariam colocar as suas economias e que, por isso, era excelente a ocasião do atrair êsses capitais. Segundo explicou o Sr. Ministro das Finanças na comissão de finanças desta Câmara, está assegurada a colocação duma grande parte do empréstimo no Rio do Janeiro.
Será necessário pensar-se na colocação do empréstimo no Rio de Janeiro?
V. Ex.ª tem algumas dúvidas de que êle será totalmente coberto em Lisboa, no Terreiro do Paço?
Não tenha dúvidas, Sr. Presidente, não tenha dúvidas. Um empréstimo tal como o Govêrno deseja realizar será coberto cem vezes. E não será necessário sequer ir do Rossio ali à Praça do Rio de Janeiro.
Essa história do portugueses possuindo economias no Brasil, capazes do acudirem à nossa crise, precisa ser esclarecida, Sr. Presidente.
V. Ex.ª não ignora que, logo após o, armistício, começou-se em. toda a parte a desenvolver uma desenfreada especulação sôbre divisas estrangeiras. A especulação efectuou-se principalmente em volta das moedas depreciadas: francos, marcos, coroas austríacas, rublos e escudos.
O que se fez com os marcos é espantoso.
Num jornal alemão intitulado Industrie und Handels Zeitung, um grande industrial de Hamburgo, de nome Kruetzfeldt, escreveu há poucos meses um artigo interessante: Deutsche Kredit Not und Auslaendisches Kapital (A agonia do crédito alemão e o capital estrangeiro).
Nesse artigo, o Sr. Kruetzfeldt afirma que a Inglaterra, os Estados Unidos e a Holanda foram os principais países que assambarcaram os marcos. Êle supõe que nas mãos de todos os estrangeiros devem estar corça de 70 a 80 biliões de marcos, devendo os seus possuidores ter sofrido em Novembro ou Dezembro de 1922 uma perda de mais de 90 por cento, devida à depreciação do valor do marco.
O que se fez com os marcos, praticou-se com os escudos, é claro em muito, menor escala.
Jogou-se desenfreadamente na expectativa duma rápida melhoria nos câmbios. Todos sabem que muitos escudos foram Darar a mãos espanholas e no Brasil supõe-se que os escudos em depósito nos Bancos e na posse dos portugueses nas suas caixas devem atingir a cifra aproximada de 50:000 a 200:000 contos.
Os cálculos dos portugueses ou brasileiros que jogaram sôbre escudos em época de menor depreciação, na ânsia de lucros próximos, falharam completamente porque não contaram com o agravamento da situação portuguesa e com uma mais acentuada desvalorização da moeda.
Que fazer nestas circunstâncias?
O dilema era certo: ou continuariam a jogar sôbre as divisas estrangeiras, acompanhando a própria depreciação, para estabelecer uma média de câmbio menos ruinosa, ou liquidariam com grande prejuízo.
É claro, os possuidores dos escudos preferiram entreter e aguardar melhores dias, porventura à espera duma colocação providencial vantajosa. Os Bancos não dão no Brasil a semelhantes capitais senão um juro de 1 por cento, ou quando muito de 2 por cento!
Diz o Govêrno, Sr. Presidente, que é no Brasil que conta poder colocar a maior parte dos títulos do empréstimo. Não, Sr. Presidente, mil vezes não!
Se há portugueses emigrados no Brasil que jogaram sôbre os escudos concorrendo para a miséria do nosso povo, para