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Sessão de 21 e 22 de Março de 1923
Não temos sido nós todos parlamentares da oposição que patriòticamente temos amparado a vida quási sempre precária do Govêrno?
Eu por mim, Sr. Presidente, pessoalmente, quero ao Govêrno, onde tenho, excelentes amigos, longa permanência.
Se a preocupação do Govêrno não é apenas manter-se no Poder, mas salvar também o prestígio pessoal e as vaidades legítimas dos seus ilustres e prestantes membros, eu pregunto: que vale o prestígio das pessoas, por mais autorizadas que sejam, em face dos altos interêsses nacionais?
Se se teima na aprovação da proposta do empréstimo simplesmente porque o Govêrno encontra nisso um meio de continuar a usufruir as delícias olímpicas do Poder e para salvaguardar o imenso prestígio das pessoas que o compõem, neste caso, Sr. Presidente, não, mil vezes não; neste caso é preferível que o Govêrno se vá embora sem perda de tempo. Caía mil vezes o Govêrno, mas salve-se a Nação e evite-se que mais um factor agrave a miséria do povo.
Apoiados. Não apoiados.
A proposta do empréstimo que o Govêrno quere ver aprovada pelos representantes do povo é, Sr. Presidente, uma extraordinária lotaria. Se há aí no País e no estrangeiro possuidores de escudos depreciados, obtidos em horas alucinantes, de especulação, o Govêrno, com a sua proposta, diz-lhes:
«Dêem-me êsses escudos, pobres pedaços de papel, sem beleza e sem arte; eu lhes darei em troca títulos de valor-ouro, títulos expressos em libras esterlinas gozando todos os privilégios, todas as imunidades fiscais. A Nação que tome o compromisso da dívida de 4 milhões de libras e que as gerações futuras a paguem se o quiserem quando fôr caso disso».
É espantoso, Sr. Presidente, o que se deseja levar a efeito!
Só se tiver perdido a fala é que eu deixarei de protestar contra semelhante obstinação governamental; só se V. Ex.ª quiser fazer calar a minha apagada voz pela fôrça das baionetas da guarda do palácio do Congresso, o que não é de esperar
nem do seu inexcedível patriotismo, nem da sua alta imparcialidade, nem do seu republicanismo modelar, é que eu deixarei, coacto, de dizer tudo quanto penso da monstruosa e tenebrosa proposta do empréstimo, que eu classificarei, para finalizar a minha análise na generalidade, como o mais audacioso convite à especulação de bolsa e à especulação cambial que jamais em qualquer país se concebeu.
Muitos apoiados.
V. Ex.ª, Sr. Presidente, pode dar-me um esclarecimento?
Qual é o pensamento de V. Ex.ª acêrca do prosseguimento dos trabalhos desta Câmara visto ser já meia noite?
O Sr. Presidente: — Penso que devo continuar a sessão por mais largo tempo ainda. Tem, pois, V. Ex.ª muito tempo para falar.
O Orador: — E que me sinto um pouco fatigado e desejava descansar apenas 5 minutos para poder apreciar a outra parte da proposta do Govêrno que reputo muito importante, e que diz respeito ao novo contrato a celebrar com o Banco de Portugal e a outras diversas disposições da mesma proposta.
O Sr. Velhinho Correia: — Não pode ser. V. Ex.ª, Sr. Presidente, diz-me em que princípio regimental se funda para fazer essa concessão? Isto é uma maneira nova de fazer obstrucionismo.
Não apoiados.
O Sr. Presidente: — Perdão! Eu ainda não fiz essa concessão. Peço ao Sr. Alberto Xavier que continue as suas considerações.
O Orador: — Sr. Presidente: em vista da estranha atitude da maioria desta Câmara, eu requeiro a V. Ex.ª que a sessão seja interrompida por um quarto de hora para que possa descansar.
Vozes: — Não pode ser. Não pode ser.
O Sr. Presidente: — Peço a V. Ex.ª que retire o seu requerimento porque não poderia, deferindo-o, abrir um precedente novo.