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Diário da Câmara dos Deputados
Tenho pena de que êste golpe mais, que assim se pode chamar a um episódio que vem durando há duas semanas, venha ter o seu epílogo precisamente na hora em que as classes operárias afirmam, no 1.º de Maio, a sua solidariedade, estando nós irreflectidamente a demonstrar que não a temos nem a merecemos.
Isto é que é lamentável.
Já que enveredamos por êste caminho, de mais não será lembrar as situações políticas, em que as oposições entenderam também fazer vingar os seus pontos de vista, sem preocupação do desprestígio da República.
Já não é a primeira vez realmente; mas...
Interrupção do Sr. Cancela, de Abreu.
O Orador: — V. Ex.ª está absolutamente dentro da lógica do seu papel; quem não está dentro da lógica do seu papel é o Partido, Nacionalista, com a sua incompreensível e absurda atitude que é mais um golpe no prestígio das instituições parlamentares que nós devíamos ser os primeiros a erguer bem alto,
Apoiados.
E êsse golpe é tanto mais condenável quanto é certo que êle fere fundamente o mais alto poder do Estado no momento em que lá fora as classes trabalhadoras, comemorando o 1.º de Maio, e se unem disciplinam em volta dos seus ideais.
O Sr. Carlos Olavo: — É que o Parlamento parece desejar acompanhar no dia de hoje o movimento operário, não fazendo absolutamente nada.
Risos.
O Orador: — É preciso arrepiarmos caminho, relembrando situações anteriores, para que as lições do passado sirvam para não voltarmos a dar à República a vida turbulenta e perigosa dalgumas dessas situações.
A minoria nacionalista, se é verdade — e creio que é — o que dizem os jornais a respeito dos seus propósitos de vida política, declarou há pouco a sua intenção de intensificar a oposição ao actual Govêrno e que ia por isso adoptar atitudes mais violentas e decisivas.
Em princípio de Fevereiro começava a discutir-se o Orçamento.
Por iniciativa de um Sr. Deputado, hoje pertencente ao Partido Nacionalista e então já fazendo parte do grupo da oposição, tinha-se adoptado uma forma especial para a discussão daquele diploma; e tendo a maioria o único desejo de, para bem servir a República, ter os orçamentos votados adentro do período constitucional, viu com surpresa a oposição nacionalista pronunciar-se vivamente contra êsse processo de discussão.
Quando se assentou em que se fizesse a discussão na generalidade, foi dito das bancadas dos Srs. Deputados nacionalistas que daquele lado da Câmara apenas falariam na generalidade dois ou três Deputados, aqueles que mais habilitados estivessem para fazer essa discussão.
Mas o que se viu depois?
Viu-se que falaram sôbre a generalidade uns trinta e tantos Srs. Deputados.
Estamos no 1.º de Maio e apenas se encontra aprovado um orçamento.
Os trabalhos parlamentares são conduzidos pela minoria, nacionalista na tal sua actividade, contra o Govêrno e contra a maioria, de modo à deixar antever que não haverá meio de até o fim do ano económico votar todos os orçamentos.
Não sei se isto será uma boa política para bem servir, os interêsses do país.
Quere-me, porém, parecer que esta política não é de maneira nenhuma um direito de quem preza a República e o prestígio parlamentar.
Tenho-me alongado de mais e talvez abusasse largamente da tolerância da Câmara; termino, pois, lembrando de novo que é necessário que todos pensem em prestigiar a República e bem servir a nação.
Tenho dito.
O discurso será publicado na íntegra, revisto pelo orador, quando, nestes termos, restituir as notas taquigráficas que lhe foram enviadas.
O Sr. Nunes Loureiro: — Roqueiro que seja consultada a Câmara sôbre se permite que seja prorrogada a sessão até se votar a acta.
O Sr. Presidente: — Antes de pôr à votação o requerimento de V. Ex.ª, vou