O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

12
Diário da Câmara dos Deputados
Esqueceu-se, porém, o parecer de explicar que, por deficiências orçamentais, se não tem pago com regularidade ao pessoal do Padroado, deixando-o quási ao abandono em território estrangeiro, nas mais remotas paragens, onde só por fé e patriotismo tem continuado no seu pôsto. Ainda não há muito que nesta Câmara apresentei uma reclamação telegráfica vinda dos vigários gerais dos Gathes.
Mas, afinal, o que é o Padroado Português do Oriente?
E um quadro muito reduzido do que era, mas constituído ainda por uns mil portugueses, ao abrigo do direito internacional em virtude duma concessão especial da Santa Sé desde o século XVI, tendo por missão actuar em territórios da índia Inglesa, da China e das nossas colónias da Ásia, para impor os altos objectivos da civilização cristã e ao mesmo — tempo o pensamento, os costumes comodo de ser da nossa Pátria. Dispõe dum importante acervo de bens de raiz; cujo valor orça por uns 45. 000$; e dentro da sua organização encontram-se núcleos de população que, bem aproveitados, serviriam para dar excelentes mercados comerciais a Portugal.
Como tem funcionado, os seus fins cifram-se principalmente nos seguintes:
a) Fornecer em todos os tempos à diplomacia portuguesa os melhores meios e elementos de, acção para as suas negociações com a Ásia;
b) Sustentar e desenvolver a expansão da nossa Pátria, como o demonstram os dialectos portugueses da ilha de Ceilão e dalgumas partes do Japão e das ilhas da Oceânia;
c) Emancipar para as conquistas do trabalho e da civilização os povos indígenas que se encontram oprimidos pelo regime das castas. Ainda ontem ouvi dizer ao ilustre Deputado é distinto colonial Sr. Júlio de Abreu, insuspeito em assuntos religiosos, que a situação dos 40:000 portugueses de Bombaim, ocupando ali as mais brilhantes carreiras literárias, seria impossível sem a intervenção do catolicismo pelo Padroado;
d) Amaciar a dureza de costumes que, como na China, vão até ao sacrifício de vidas, todos os anos, de milhares de crianças. E dêste modo o Padroado vem colaborando nessa simpática organização cristã conhecida em todo o mundo pela Obra da Santa Infância.
Ainda no sentido da confirmação dêstes fins, chamo a atenção da Câmara para uma interessantíssima conferência do Sr. Bispo do Macau, D. José da Costa Nunes, o ano passado, na Sociedade de Geografia de Lisboa, sôbre o Padroado Português do Oriente; o ainda para o magnífico Boletim da Diocese de Macau em que o mesmo ilustre e venerando Prelado, zelando a fé católica, congrega ao mesmo tempo os párocos e os fiéis da sua vasta diocese para o levantamento e prestígio de Portugal; eloquentíssimo a êste respeito o inquérito a que procedeu e cujos quesitos publicou no segundo ou terceiro número daquele boletim, logo após a sua posse.
A maioria da Câmara tem também dói s testemunhos a que recorrer, fora de toda a suspeição, pois são de ilustres correligionários seus: o do Sr. Cerveira de Albuquerque, cujo relatório como Ministro das Colónias em 1912 dá valiosíssimas informações; e o Sr. Rodrigo Rodrigues, actual governador de Macau, a quem tive o prazer de ouvir referências igualmente favoráveis.
Com efeito, a política portuguesa na Ásia quási se não compreende sem o Padroado.
De lamentar é, pois, que a comissão de Orçamento das colónias, após breves considerações, não hesitasse em escrever desdenhosamente do Padroado:
«Sustentar capelães em regimentos ingleses, manter igrejas, procissões e mais actos do culto em território britânico é excentricidade um tanto anacrónica, que só um grande interêsse histórico poderia justificar».
Desculpe-me a ilustre comissão; mas acho que brinca demais com assuntos de gravidade.
O Sr. Abílio Marçal: — A comissão não brincou, e consagra ao Padroado o melhor apreço.
O Orador: — Não é o que resulta do parecer escrito. Quanto á sustentar o Pa-