O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

12
Diário da Câmara dos Deputados
de consentir depois que especulem de modo contrário.
Quem não tem dez e vende dez há-de comprar num dia para vender no outro. Esta é a regra geral, e a função do Govêrno é amortecer as especulações.
Sr. Presidente: em Portugal, o ter ideas é a característica dos tolos, há muitas pessoas que ouvem, mas não sabem compreender.
Creio que há dez meses que a moeda se encontra entre as casas de 1 e de 3. Há um ano que as condições naturais nos estão a indicar o que devemos fazer, mas o Sr. Ministro das Finanças, que não conhece dificuldades, em lugar de estudar os fenómenos como êles são, pretenda impor regras a fenómenos que estão acima dele próprio. Chega ao ponto de decretar o dia á que o câmbio há de ir a 4. Decreta tudo, isto em nome, não de um raciocínio, mas por uma questão de palpite, à vontade do Ministro.
Eu tenho, pensa o Sr. Ministro,, maneira de lhes vender as libras a 45$, êles compram e depois eu ponho a libra a 30$.
Com franqueza, então isto não é transformar a especulação em crime?
Não dissemos nós que a especulação merecia a pena de morte?
Então não é o Govêrno que vai fazer a maior especulação que tem havido em Portugal?
E aqueles que entre nós quiseram especular, para serem felizes, não precisavam mais do que seguir o Sr. Ministro das Finanças e o Sn Velhinho Correia, porque outros não eram capazes de conceber melhores ideas.
E assim se vendiam libras a 90$.
Como foram infelizes os especuladores por acreditarem no Govêrno!
Outra idea que eu disso que o Govêrno teve errada, como quási todas as que tem, é que o escudo é uma mercadoria
Quando se querem estabelecer cotações do escudo não se deve atender só ao seu. próprio factor, mas tem de se atender a muitos aspectos.
Eu tenho-o já dito muitas vezes, mas é necessário repetir, para que todos saibam as responsabilidades especiais que têm.
Imagino a Câmara que estamos em 1914 e que se não dá o cataclismo da guerra, mas que a França, por circunstâncias especiais, fecha as suas portas
aos nossos vinhos e que outros povos nos fecham as portas às nossas exportações.
O que acontece nesse momento?
A procura da divisa estrangeira torna-se muito maior.
Deminuíu-se a nossa capacidade de exportação.
Dá-se uma desvalorização na nossa moeda, visto que haverá maior procura da divisa estrangeira.
A consequência lógica será a deminuïção do valor do escudo.
A libra passa a valer mais.
A partir de certo momento vêm as dificuldades das transacções comerciais e vemos então que a moeda q u(c) existe em circulação não é bastante para as dificuldades que se apresentam e para as despesas. E então, a partir dêsse momento, nem por isso as divisas estrangeiras baratearam. Não.
O que aconteceu foi que quando os bancos começaram a ter dificuldade em descontar e. cada um começava a não encontrar aquele numerário preciso às necessidades da sua vida, efectuou-se a pressão junto dos Govêrnos para aumentar a circulação fiduciária.
Nestas circunstâncias, o aumento era um efeito da depreciação da moeda e não uma causa.
Mas ponhamos a hipótese contrária.
O nosso comércio mantinha-se na mesma situação. Todos os números da balança económica não variavam.
Mas, de repente, o Govêrno precisava de escudos, e aumentava a circulação fiduciária de 85:000 contos para 175:000.
A partir dêsse momento verificava-se que havia escudos a mais na praça. Por uma lei natural, armazenavam-se em poucas mãos, e de reponto se houvesse um pânico, uma desconfiança na vitalidade da nação, o intuito seria fazê-los transformar em divisas, estrangeiras.
Começaria então uma tentativa de emigração de capitais, tornada: segura pelo aumento imoderado da circulação fiduciária, e o fenómeno traduzir-se-ia no seguinte:
A emigração, de capitais, representando um factor importante na nossa balança económica, faria com que a procura das divisas estrangeiras fôsse superior à oferta, depreciando-se assim a moeda por virtude do excesso de notas.