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Diário da Câmara dos Deputados
Por outro lado está se reduzindo a circulação fiduciária, mas de facto o câmbio melhora? Não melhora; o que se torna é impossível realizar quaisquer, operações comerciais ou industriais.
Um comerciante, por exemplo, quere comprar arroz, vai ao Banco pedir 500 contos, mas aí respondem-lhe imediatamente que não lhe emprestam essa importância porque pode haver uma corrida no fim do mês do Julho, e o comerciante, que não pôde obter o empréstimo, vai esgotar os stocks que possui.
Eu pregunto a V. Ex.ª se por isso a vida embaratece, se por isso a cotação da libra melhora ou se, pelo contrário, não se produz um fenómeno, que é dificultar as operações comerciais e industriais.
Ás operações comerciais talvez com certo resultado até que os stocks estejam esgotados; mas quanto às operações industriais, o facto delas não se realizarem só redunda em prejuízo da nessa própria produção.
Esta tem sido a tática do Govêrno. A tática do Govêrno tem sido coroada do mau resultado, continuará a ser coroada de mau resultado, continuará indefinidamente, mas isso não impedirá nunca que o Sr. Presidente do Ministério tenha sempre o seu melhor sorriso, mas isso não impedirá nunca que S. Ex.ª tenha sempre a sua melhor esperança, mas isso não impedirá nunca que, com aquela capacidade, com aquele saber, com aquela profundeza de esperança, ali do alto da sua cadeira, em duas palavras, esmague a triste e pobre argumentação que lhe tenho estado aqui fazendo.
Ah! Mas se em matéria de política financeira o Sr. Presidente do Ministério foi profundo, como êle foi profundo em matéria de política internacional! E aqui permita-me V. Ex.ª um pequeno parêntesis:
Cuidava eu, pessoa que respeito e prezo os poderes do Estado, que os não pretendo ofender, que os pretendo sempre colocar muito alto, cuidava eu, Crepito, que a crítica exercida com razão, que a crítica feita com argumentos poderia deminuir as proporções duma individualidade política, mas nunca faria esquecer as nossas relações com os homens que ocupam aquelas cadeiras, e eu, ao iniciar a minha interpelação, sabia bem que naquelas cadeiras estava um homem que eu prezava que eu tinha obrigação de estimar, estava o Sr. Presidente do Ministério que, sejam quais forem as divergências que eu tenha tido com S. Ex.ª, nunca me encontrou em matéria de deslealdade; estava o Sr. Ministro das Finanças que, apesar de tudo, quis para meu Ministro das Finanças, pessoa que me deu toda a sua amizade e que numa hora bem grave, ao despedir-me dos meus colaboradores, me dizia o seguinte: a Cunha Leal, estimo-o como se fôsse meu irmão»; estavam ainda nas cadeiras do poder o Sr. Ministro da Justiça, o Sr. Ministro do Trabalho e o Sr. Ministro da Guerra, colaboradores leais de todas as horas, colaboradores de alma aberta, sacrificando-se a tudo, e com um dos quais, o Sr. Ministro da Guerra, numa hora de dolorosa incerteza, eu assinara uma ordem por escrito, mandando que, se tanto fôsse preciso, se afundasse um barco, facto êsse que nos poderia ter arrastado para as galés da História.
Pertenciam à maioria pessoas como o Sr. Mariano Martins, meu colaborador lealíssimo nesse Ministério, como o Sr. Rêgo Chaves, que eu estimo como um grande português, e creio que não mentirei, por um abuso de retórica, dizendo que o estimo como se fôsse realmente meu irmão.
Sempre entendi que a pessoa que é leal para com os outros, que é correcta para com os outros e que defende os outros quando estão espesinhados, esquecendo o seu próprio interêsse, tem direito a ser respeitada.
V. Ex.ª dirá que sou maçador, que os fatigo, mas tenho necessidade de falar, preciso ainda dizer o seguinte: acreditem V. Ex.ªs, por muito que os preze a todos, por muito que os respeite a todos, se amanhã a instituição parlamentar fôsse atacada pôr-me-ia ao lado do meu pior inimigo, porventura daquele a quem mais odeio.
Perdoem-me V. Ex.ªs de não ter citado há pouco êsse grande homem de bem que é o Sr. Domingos Pereira.
Um dia era eu inimigo pessoal do Sr. Norton, de Matos, estava de relações cortadas com S. Ex.ª o porque S. Ex.ª tinha proclamado a necessidade de irmos para a guerra, como bons portugueses, e que