O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

20
Diário da Câmara dos Deputados
em templos públicos o exercício do culto católico com padres excomungados e solenemente postos fora do grémio da igreja, como em Sintra, em Almeirim e nas Mouriscas (Abrantes); numa crise tremenda de falta de habitações; estão-se expulsando párocos, quási todos os dias, das residências e passais que os sacrifícios de gerações piedosas lhes legaram cuidadosamente; quando para todos os cidadãos se dizem existentes garantias constitucionais, põem-se fora da Constituïção párocos só por bem e dignamente cumprirem a sua missão apostólica, como ainda há pouco em Celorico da Beira, em condições que têm em sobressalto todos os que verdadeiramente se interessam pela ordem pública. E, todavia, o novo Govêrno não teve ao menos uma palavra de interêsse pelas liberdades religiosas do seu país!
Lamento vivamente a falta; espero, porém, que não tenha sido propositada, mas de simples descuido, e que o Govêrno a procurará suprir, mais que por palavras, por factos, que são ainda, felizmente, a melhor forma de governar.
Começou o Govêrno a sua declaração por dizer que contava com o patriotismo do Parlamento. Pode, com efeito, contar com o patriotismo da minoria católica. Êsse nunca falta, mercê de Deus, através de todas as paixões dos homens.
O Sr. Sá Pereira: — Sr. Presidente: as minhas primeiras palavras quero eu que sejam de saudação ao ilustre homem público que preside ao Ministério que hoje se apresenta a esta casa do Parlamento. Meu amigo pessoal, parlamentar dos mais brilhantes que conheço, homem, ponderado e duma vastíssima inteligência acompanhada duma grande erudição, o Partido Nacionalista foi certamente muito feliz indicando S. Ex.ª ao Sr. Presidente da República para presidir a um Govêrno saído das suas fileiras.
Não é, porém, S. Ex.ª o único amigo pessoal que tenho entre as pessoas que fazem parte do actual Govêrno; outras ali se encontram, e entre elas, por ser o mais antigo, eu cito o meu velho companheiro das lides parlamentares, o Sr. Vasconcelos e Sá, do cujas relações eu nunca me esqueci, embora S. Ex.ª se tivesse esquecido de mim, embora S. Ex.ª se tivesse esquecido de me visitar durante os 12 dias que estive a ferros do dezembrismo, embora S. Ex.ª se tivesse esquecido de pôr a sua então valiosa influência em benefício do seu antigo amigo.
Eu não tenho, no emtanto, dêsse facto o menor ressentimento e, continuando u manter com S. Ex.ª amistosas relações, nem sequer sou daqueles que põem em dúvida o seu republicanismo, porque o conheço já dos tempos do velho regime.
Devo dizer a V. Ex.ª que na ocasião em que me encontrava preso, às ordens dêsse miserável dezembrismo, lá me chegou a boa nova que, tratando-se nesta Câmara de um grande debate em que se falava de uma República nova e de uma República velha, S. Ex.ª tivera esta frase: de que para êle não havia República nova ou velha, mas só a República proclamada em 5 de Outubro de 1910.
Sr. Presidente: tenho alguns amigos pessoais nas bancadas do Poder, mas êsse facto em nada pode alterar a minha maneira do ver nem me obrigar a uma atitude e procedimento diferentes daqueles que tenho tido desde que pela primeira vez entrei nesta casa.
Em 1911 entrava aqui sem qualquer espécie de compromisso partidário.
Tinha estado filiado no Partido Socialista, fundado em 1896, que depois se transformou em dois partidos.
Tomei o caminho do possível e fiz todo o possível para que o Partido Socialista tivesse representação nesta casa.
Desliguei-me mais tarde, e amigos meus fizeram com que eu tomasse parte na Assemblea Nacional Constituinte, mas não sendo filiado em nenhum partido, e numa situação de independente.
Quando em 28 de Janeiro se deu o movimento revolucionário conhecido, eu, seguindo o Sr. Afonso Costa, fiz a declaração expressa de que jamais poderia abandonar a minha maneira de ver e de sentir, e que só daria o meu concurso político à obra de bem servir o País, sem reservas partidárias.
Fiz a declaração de que manteria a mais absoluta independência.
Quando mais tarde se formou o Partido Democrático, quiseram que eu e o Sr. Ladeira fôssemos dêsse Partido.
Aceitámos, mas fiz a declaração que jamais abandonaria os princípios que sempre tinha defendido através de tudo.