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Diário da Câmara dos Deputados
António José de Almeida, a que à crise fôsse dada essa solução.
Devo até dizer que S. Ex.ª se surpreendeu com o facto do desinteresse do meu partido ir até ao ponto de lhe oferecer todas as facilidades, incluindo a da própria dissolução, para que o Partido Liberal muito à sua vontade pudesse governar.
Disseram-me que o Presidente do Ministério seria o Sr. Barros Queiroz, por quem eu tenho a maior consideração. O Ministério constituíu-se-tal como êste se constituiu em uma má hora, porque, não obstante a austeridade do Sr. Barros Queiroz, S. Ex.ª não conseguiu fazer umas eleições que pudessem representar a vontade do sufrágio, e foi daí que se gerou aquela tragédia do 19 de Outubro. Esta é a verdade dos factos!
Após essa eleição, os meus correligionários quiseram continuar a ter uma atitude de espectativa fazendo, por assim dizer, uma obra de todos nós!
Êsse facto levou o desespero popular ao auge, o quando os parlamentos não sabem cumprir o seu dever, há sempre a intervenção da rua.
Eu quero que os Govêrnos caiam no Parlamento e não vão cair no Rossio.
Nesta hora que passa eu não quero a responsabilidade de colaborar numa situação cujas consequências podem ser mais uma vez funestas.
Lembro me bem: quando da manhã de 19 de Outubro, eu vim à rua ver o aspecto da revolta, e vi que Lisboa estava de armas na mão contra o Partido Democrático porque tinha dado apoio o vida constitucional a êsse Govêrno que a Nação não queria.
Se eu tivesse tido assento nesta Câmara, teria então procedido como procedo hoje.
Eu entendo que é preferível que os homens percam as suas situações políticas do que percam a vida.
E porque eu não quero criar, com a minha responsabilidade, uma situação idêntica à de então, é êste o motivo porque desde já declaro que da minha parte não encontrará o Govêrno qualquer espécie de facilidades.
Sr. Presidente: o Govêrno no meu Partido pediu a demissão e abandonou as cadeiras do Poder porque não encontrou nesta casa do Parlamento aquele apoio indispensável para continuar à frente dos destinos do País. O meu Partido foi chamado a constituir Ministério, e tendo nesta casa a maioria, no emtanto não quis por si só assumir essa responsabilidade. Como é então que o Partido Nacionalista, que não dispõe da maioria, pôde tomar êsse encargo?!
Lembra-se a Câmara do que sucedeu o ano passado.
Sendo Presidente do Ministério o Sr. António Maria da Silva, e realizando-se a eleição da. Mesa, S. Ex.ª, verificando que o nosso Partido tinha perdido a maioria, nesse mesmo dia se demitiu, tendo depois organizado Govêrno, mas com a cooperação dos independentes.
O que é que eu hei-de pensar, o que é que há-de pensar a opinião pública, portanto, acêrca dêste Govêrno que, não se preocupando com maiorias, vem fazer a sua apresentação ao Parlamento?
Com que é que o Govêrno conta para se manter no Poder?
Com o auxílio prestado pelo Partido Democrático?
Não pode, ser.
O meu Partido não pode prestar a êste Govêrno qualquer espécie de apoio, porque não representamos só as nossas individualidades, mas a corrente de opinião que nos elegeu.
Há quem diga: não se preocupa com o nosso apoio, porque, quando êsse apoio lhe faltar, recorrerá ao Sr. Presidente da República, solicitando-lhe os meios indispensáveis para se manter no Poder, apelando para as urnas, por intermédio duma dissolução parlamentar.
Não acredito nisso.
O chefe do Govêrno é suficientemente ponderado, republicano e patriota para sabor que se o Govêrno cometesse um acto dessa natureza, teria acarretado para o País os dias mais atribulados da sua existência.
Posso dizer isto muito à vontade, porque ainda que a dissolução parlamentar representasse a perda da minha cadeira de Deputado, isso em nada me molestaria, visto que, se acaso tivesse a vaidade de ser Deputado, em 12 anos, que são o tempo decorrido desde que sou parlamentar, teria tido tempo mais que suficiente para satisfazer essa vaidade.