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Sessão de 19 de Novembro de 1923
Nesta situação, estou filiado no Partido Democrático, defendendo o meu ideal de justiça, mas não tendo o direito de exigir que mo acompanhem no meu ponto de vista socialista.
Colocado na esquerda do meu partido, procuro todos os dias e a todas as horas lutar pelos princípios que sempre defendi.
No decorrer dos Govêrnos do Sr. António Maria da Silva algumas divergências tive com êle pelo facto de os meus pontos de vista não concordarem com os de S. Ex.ª
Se assim sucedeu com um gabinete presidido por um homem que era meu correligionário, não pode ser outra a minha atitude perante o Govêrno que hoje se apresenta ao Parlamento.
Com toda a deferência pessoal que é minha obrigação ter com os homens que se sentam na mesma bancada política, eu direi que estou um pouco em desacôrdo com o que disse o ilustre leader do meu partido, porque entendo que nos devíamos pôr desde já em profunda oposição ao Govêrno.
Se a vida dêste Govêrno dependesse do meu voto, hoje mesmo êle abandonaria as cadeiras do Poder.
Àpartes.
Sr. Presidente: naquelas cadeiras senta-se um Govêrno que vem do Partido Nacionalista, que não tem as ideas que o meu partido representa.
Àpartes.
Eu não ponho em dúvida o espírito republicano do Govêrno, mas digo que se não podia dar o meu apoio entusiástico ao Gabinete do Sr. António Maria da Silva, que era do meu partido, eu não o posso dar, por maioria de razões, a um Govêrno que sai das fileiras do Partido Nacionalista, que é conservador.
Sou esquerdista, e cada vez mais esquerdista, porque comigo dá se o contrário que se dá com as outras pessoas, que quando vão para velhas, se tornam conservadoras.
E, se o Govêrno é um Govêrno conservador, como pode elo com vantagem, especialmente neste momento, governar a Nação?
Entendo que é necessário aplicarem-se medidas de alto radicalismo, e que naquelas cadeiras se deviam sentar pessoas que constituíssem a garantia de que o Povo ia ser libertado da miséria em que tem vivido e em que está vivendo. Estou, pois, absolutamente convencido do que a acção dêste Govêrno ser á uma acção nula, e — com mágoa o digo, porque o Sr. Presidente do Ministério é um amigo meu — está destinado a sofrer um completo fracasso a breve trecho.
Tem-se dito, têm sustentado alguns jornais, que o meu partido quere estar permanentemente agarrado às cadeiras do Poder.
Tal afirmação é absolutamente destituída de fundamento.
O meu ilustre amigo, Sr. Sampaio Maia, diz-me aqui, em voz baixinha, não apoiado.
S. Ex.ª é incapaz de faltar à verdade, estando decerto convencido de que é exacta a sua afirmação, mas ou vou demonstrar-lhe que assim não é.
O meu partido, regra geral, tem estado nas cadeiras do Poder porque a isso tem sido compelido, e eu vou praticar talvez uma inconfidência para provar que são rigorosamente ditadas pela verdade as palavras que estou proferindo.
Vou contar a S. Ex.ª e, implicitamente, à Câmara que um dia, numa reunião do Grupo Parlamentar Democrático, que já vai distante, todos os meus correligionários, com excepção de Santos Graça, que, infelizmente, já não é nosso colega, mas de que decerto S. Ex.ª se recorda, e de mim, fomos em determinada altura partidários acérrimos ou, pelo menos, inclinamo-nos para que o poder fôsse confiado aos liberais.
Devo dizer que nessa época o Govêrno do meu partido não encontrava diante de si quaisquer dificuldades. Simplesmente, êsses meus correligionários entendiam, conveniente ensaiar o Partido Liberal no Govêrno para que o País pudesse ver os resultados da sua acção. Foi assim que, quando se deu o golpe militar de 21 do Maio, o caminho estava aberto para que o Partido Liberal tomasse conta da gerência dos negócios do Estado. Quando se constituiu êsse Govêrno, ou tentei realizar numa reunião do Grupo Parlamentar Democrático alguns reparos por ter sido o meu partido ou os seus representantes que nessa época aconselharam o então Presidente da República, Sr. Dr.