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Sessão de 25 de Janeiro de 1924 13

criar dificuldades ao Sr. Álvaro de Castro, quando não era, nem é êsse o meu propósito.

O caso é o seguinte: mal êste Govêrno se constituiu, começou a dizer-se que nem todos os Ministros tinham aquela alma republicana que nós exigimos que tenham os homens que se sentam naquelas cadeiras, e assim dizia-se que o Sr. Ministro da Instrução, quando oficial da marinha no tempo da monarquia, tinha quebrado a sua espada para a não pôr ao serviço da República.

Também me informaram que S. Exa. porventura dissera que não queria ser Ministro dum regime que tinha morto o seu melhor amigo, só mudando mais tarde de ideas.

Estou certo, Sr. Ministro, que lhe proporcionei o ensejo para V. Exa. perante a Câmara e o País demonstrar inteiramente a sua inquebrantável fé republicana, e dizer que está incompatível com qualquer regime, menos com- o republicano, pelo qual estará disposto a dar todo o seu esfôrço.

Apoiados da esquerda.

Tenho dito.

O discurso será publicado jia integra, revisto pelo orador, quando nestes termos, restituir as notas taquigráficas que lhe foram enviadas.

O Sr. Ministro da Instrução Pública (António Sérgio): — Sr. Presidente: no discurso do ilustre Deputado há dois pontos: um, é a continuação do caso já tratado; o outro, é uma questão pessoal que me vejo obrigado a tratar em consideração- à Câmara, e, já que V. Exas. estão aqui ao pé, o fazendo de conta que nos encontramos em família, junto à lareira, emquanto lá fora a tempestade ruge — sem metáfora — exporei o mais claramente que me fôr possível.

Disse o ilustre Deputado que eu não deixo de condenar o meu acto, por isso que prometi que êle não se repetiria, se por acaso fôsse julgado menos próprio em Portugal. Não; não é que eu condene o acto, muito pelo contrário, porque o vi praticar na republicaníssima Suíça, República pela qual tive sempre a maior admiração. Êle é dos hábitos da Suíça; está nos costumes de todos os povos estrangeiros civilizados. Mas — disse eu —

pude verificar que êle não está ainda nos costumes de Portugal. Isso não quere dizer que êle não seja de aplaudir, porque os costumes podem modificar-se, e convém até que se modifiquem para melhor.

Apoiados.

Eu, como Ministro da República, não quero praticar um acto que não esteja ainda nos nossos costumes; a modificação dos costumes compete mais, em certos casos, aos apóstolos do que aos governantes.

Disse ainda o Sr. Deputado que poderia haver qualquer coacção.

Por amor de Deus!

Eu não conheço as empregadas, nem as vi. E o caso passou-se em ponto afastado daquele em que me encontrava.

Madame Sérgio de Sousa pediu que não lhe respondessem logo, mas que lhe mandassem mais tarde os nomes dos que quisessem interessar-se pela obra. E como decerto não ia ler o Anuário para notar aquelas que não respondessem e as perseguir, cai pela base êsse argumento.

O facto de entrarem senhoras para fins de caridade em estabelecimentos públicos não é novo em Portugal. Para a Festa da Flor, organizada para fins de caridade, entraram aqui no Parlamento senhoras.

O Sr. Sá Pereira: — Isso é diferente!

O Orador: — E ainda recentemente vi entrar em repartições públicas, e até na Biblioteca Nacional, senhoras que iam angariar donativos para a Festa da Flor a favor da Cruz Vermelha.

Repito: não se trata de propaganda religiosa.

Não seria eu tam inábil que me fôsse meter em obras de propaganda religiosa. De resto, sou ateu.

Devem sabê-lo.

Que se não conheçam as opiniões políticas, religiosas ou filosóficas de um homem que não escreve, nem fala em público, bem está; mas se se desconhecem as opiniões políticas, religiosas e filosóficas de quem tem levado a vida a tratar êsses assuntos, a culpa não é dele. E eu só lamento, por mim, que alguns membros desta Câmara não tenham lido os pobres livros que escrevi.

Quanto à maneira como o acto se realizou, devo dizer que, não podendo eu