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14 Diário da Câmara dos Deputados

tratar directamente com as dactilógrafas, chamei o Secretário Geral do Ministério, Sr. Dr, João de Barros, e com êle tomei conselho.

Foi por intermédio dele que tudo se fez; eu nunca mais mo ocupei do caso.

Há o afirmar-se que a obra é de carácter cristão.

Isso levantou reparos.

No papel que eu, aliás, não li, sei que se falava em obra do protecção às raparigas.

Carácter cristão...

Vejamos.

Eu não sei se me posso chamar cristão...

O Sr. Sá -Pereira: — Se é ateu, não é cristão...

Vozes: — Ah! Ah! Essa agora!...

O Orador: — Perdão! Faço uma distinção...

Não é fácil apanhar em êrro grave um homem que tem andado toda a vida a estudar estas cousas, e que não é de todo tolo...

Há uma cousa que se chama moral cristã. É o que essencialmente se tem em vista quando se diz: espírito cristão.

Essa moral cristã domina o mundo moderno, onde é aceita e proclamada por muita gente que não aceita o Deus cristão, nem Deus algum.

Pode dizer-se que é a moral que impera nas doutrinas político-sociais dos nossos tempos. E o ideal cristão que a República afirma na triologia: liberdade, igualdade e fraternidade.

A liberdade de consciência foi uma novidade trazida à Europa pelo cristianismo.

Os pagãos — de que eu me aproximo toais em certos pontos — admitiam outrora a unidade do poder temporal e do poder espiritual.

Foi o cristianismo que fez a distinção, estabelecendo a liberdade de consciência em oposição à antiga omnipotência espiritual do Estado.

A igualdade é uma idea essencial do mesmo ideai cristão e também foi trazida à Europa pelo cristianismo

Da fraternidade só poderia dizer o mesmo.

E a nossa República, quando adoptou a fórmula «Saúde e Fraternidade», inspirou-se no ideal cristão.

«Saúde» não significa a saúde corporal ou o bom funcionamento dos órgãos, mas «salvação».

No domínio das concepções filosóficas, para mim, não aceito essa fórmula; emprego-a apenas para cumprir a lei.

Vem agora o facto de natureza particular, para o qual temos de nos considerar em família.

Saí do serviço da marinha em 1910.

Porquê?

Havia várias razões, algumas das quais pessoalíssimas, e que me vejo forçado a explicar.

Vozes: — Não é obrigado a dar semelhantes explicações!... Não pode ser!... Não apoiado!...

O Sr. Sá Pereira: — Afirmando V. Exa. que não foi por incompatibilidade que saiu...

Sussurro.

O Orador: — Eu não sei quais são para casos dêstes, os costumes actuais em Portugal.

Não sei se está nos actuais costumes parlamentares portugueses explicar estas razões pessoais. V Exas. dirão...

O Sr. António Correia: — Não, senhor!... Estávamos arranjados!...

O Sr. Sá Pereira: — Eu simplesmente desejava preguntar a S. Exa. se foi por incompatibilidade com o regime que despiu a sua farda de oficial de marinha.

S. Exa. afirma que não, e eu dou-me por satisfeito...

O Sr. António Correia: — Não se pode exigir isso!...

Há muitos republicanos depois do 5 do Outubro, e são bons republicanos!...

Sr. Ministro da Instrução: V. Exa. não tem obrigação de responder à pregunta do Sr. Sá Pereira!...

Muitos apoiados.

O Orador: — Vejo, pois, que não está nos costumes do Parlamento entrar nestes pontos...

Apoiados.