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22 Diário da Câmara dos Deputados

Todos sabem que hoje se trabalha menos.

Verifica-se que o aumento de salário do trabalhador rural anda hoje por 30 a 40 vezes mais do que era antes da guerra.

Ora o preço do custo dos produtos agrícolas, em média, não atinge nem cousa que se pareça com aquela diferença de salários.

Nestas circunstâncias, afigura-se-me errada sob o ponto de vista económico o financeiro à actualização. Todavia, como muitas palavras, embora não tenham origem numa convenção, são mais ou menos convencionais, sobretudo em tecnologia scientífica, seria bom que o Sr. Velhinho Correia nos esclareça sôbre o que entende por actualização. Talvez que depois da explicação de S. Exa. nós nos possamos entender. Mas se S. Exa. entende por actualização o que vulgarmente é entendido, afirmo que S. Exa. está assentando os seus raciocínios num 6rro fundamental.

Sr. Presidente: para a actualização ser possível era indispensável fornecer escudos, pois como diz o povo: «para se fazer fogo é necessário haver pólvora».

O Sr. Velhinho Correia, que é um dos homens que mais combatem o aumento da circulação fiduciária, tinha do começar por dar a tal pólvora para os contribuintes fazerem fogo.

Todos sabem que o aumento de circulação fiduciária não atingiu ainda o coeficiente da desvalorização da moeda.

Se S. Exa. quiser lazer entrar nos cofres do Estado as receitas de antes da guerra, expressas em escudos de hoje, tem de facilitar escudos aos contribuintes; e realmente não existem escudos bastantes para essas entradas.

Ainda sob êste aspecto, a actualização tomada como vulgarmente se toma, é impraticável. Conduzir-nos-ia ao alargamento da circulação fiduciária.

Portanto, o processo por que se pretende resolver a questão é simplesmente cómodo, pois que para pô-lo em prática basta que se saiba multiplicar. Mas os resultados são negativos; apenas se conseguirá um equilíbrio orçamental aparente.

Segundo depreendo da leitura que fiz do relatório que precede a proposta, o Sr. Velhinho Correia parte do fundamental raciocínio, a meu ver errado, de que-

o país está mais rico. Infelizmente, ao contrário do que todos nós desejaríamos, semelhante cousa não sucede.

Se realmente a riqueza do país tivesse aumentado era caso para nos regozijar, porque se teria dado então connosco o contrário do que se deu com os outros países. Teríamos então saído da guerra cheios de ouro, como se dizia que havia de acontecer quando nela entrámos.

Então eu teria todo o prazer em contrariar a afirmação fundamental do Sr. Velhinho Correia, e daria as mãos à palmatória, como vulgarmente se costuma dizer, por não ter acreditado em que tal sucedesse reconhecendo que o país estava com tanta riqueza que bastaria lançar impostos para que as arcas do Tesouro Público ficassem a abarrotar e para que um mar de felicidades nos inundasse.

Mas, infelizmente, não se dá nada disso. Digo-o com grande posar.

O que se deu foi uma deslocação de riqueza, e nunca um aumento de riqueza, embora dêle sejam as aparências.

Profundando mais as suas observações, o Sr. Velhinho Correia verificará que apenas houve, repito, uma deslocação de riqueza e que apenas há uma menor preocupação de poupar. Umas pessoas enriquecerem de repente, ao passo que outras empobreceram; e aquelas que enriqueceram dum momento para outro não têm amor ao dinheiro, gastam-no sem conta.

De resto, sempre assim sucede às criaturas que não despenderam grande esfôrço, ou nenhum, para se encontrarem com muito dinheiro.

O mesmo sucedeu às pessoas que tinham dívidas, e legítimo é tê-las no comércio e em muitos outros ramos da actividade. Muita gente as tinha. Como deviam em moeda forte, mas depois pagassem em moeda fraca, tiveram, de momento, um aumento de riqueza.

Deu-se também a valorização de muitos produtos, como se verificou com as madeiras. Num dado momento a falta de carvão provocou uma geando procura de lenhas e os pinhais atingiram um valor fabuloso.

Tem-se dado no país o que se dá mis cosas de jôgo.

Quem entra numa casa de jôgo tem a impressão de que toda a gente que ali