O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

20 Diário da Câmara aos Deputados

se verifica uma tal unanimidade de atitudes e de resoluções.

Ora precisamente as informações de que mo socorri, os factos que chegaram até mim, deram razão ao septicismo com que eu admitira a informação duma coligação realizada ao mesmo tempo e em todos os pontos do País por parte do pessoal maior dos correios e telégrafos.

Efectivamente, estou hoje convencido de que numerosíssimos elementos dêsse pessoal não só se não coligaram, mas até se insurgiram contra esta e anteriores coligações, declarando-o terminantemente às autoridades militares. E sei também que êsses funcionários nom por isso deixaram de ser coagidos a abandonar os seus postos, quer pelas autoridades militares em questão, quer por subordinados seus que o fizeram — êstes últimos — em termos violentos que me abstenho de classificar, porque não tendo pelo pessoal menor dos correios e telégrafos qualquer espécie de má vontade, antes tenho por êle muita e justificada simpatia, não o quero acusar duma atitude que só posso atribuir a um reduzido número de Digitadores profissionais.

Se assim é, se de facto nos encontramos perante uma parte do pessoal maior, porventura da maior parte dêsse pessoal, expulso violentamente dos seu cargos antes de assumir um procedimento contrário às leis e regulamentos em situação moral de não poder voltar a exercer as suas funções sem quebra da disciplina, se assim é, afigura-se-me que a questão assume um aspecto gravíssimo, e que o Parlamento não pode deixar de o apreciar,» pondo de parte sentimentalismos de qualquer ordem. Vejamos serenamente a questão.

Entre os documentos que me foram sujeitos escolho ao acaso um que é assinado pelo cheio dos Serviços do Pôrto, Sr. Domingos Tomé, tido na sua classe e fora dela como uma pessoa de bem, e que em todos os conflitos tem sido deliberadamente anti-grevista.

O pequeno relatório subscrito por êsse funcionário é suficientemente eloqüente por si, e por êste motivo desculpe-me a Câmara do tempo que vou tomar na sua leitura:

«Às 10 horas e 30 minutos do dia 9 do corrente, quando me dirigia para o Correio Geral, saiu ao meu encontro o terceiro oficial Joaquim Alves, que me informou do seguinte:

«Comunico a V. que pelas 10 horas da manhã fui expulso da secretaria por um oficial e dois soldados da guarda republicana.

Tentando saber das razões por que me era feita tal intimação, foi-me afirmado pelo referido oficial que assim procedia por ordem superior. Como V. pouco tempo devia demorar, fiz-lhe sentir a conveniência de aguardar a sua chegada, a fim de se desfazer qualquer equívoco, se porventura o havia, mas não fui atendido».

- Mas, preguntei, houve dentro do edifício qualquer incidente que justifique a intervenção da fôrça armada?

— Segundo ouvi, deu-se numa das secções postais um grave conflito entre o pessoal maior e o menor, tendo parte dêste dado vivas ao bolchevismo e a revolução social, ao mesmo tempo que um carteiro ameaçava um dos seus superiores com uma pistola.

— Bem, nesse caso aguarde-me aqui um pouco que eu vou saber do que se trata.

Chegando ao edifício não me foi permitida a entrada. Declinando a minha identidade, pedi à sentinela para me deixar avistar com o Sr. oficial que comandava a fôrça que havia tomado conta daquela repartição. Aquiesceu, mas logo outra sentinela me embargou o passo. Idêntico pedido lhe fiz, sendo-me então indicado o Sr. tenente-coronel Vieira Coelho como pessoa idónea para me dar quaisquer esclarecimentos, visto ser êle o chefe de todos os serviços. A êle me dirigi imediatamente. Declinei de novo a minha identidade e pedi-lhe para me informar das razões por que havia sido expulso da minha secretaria o funcionário a que venho de referir-me. Como resposta, e à queima-roupa, foi-me feita a seguinte pregunta:

— O senhor é grevista?

— Nunca fui, respondi; não sou, nem jamais permitirei que qualquer funcionário meu dependente se arrogue o direito de o ser, pelo menos emquanto a lei não lho reconhecer. E tanto o funcionário que foi expulso não era grevista que só sendo obrigado a entrar às 11 horas já às 10 estava, com o zelo de sempre, a trabalhar.