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24 Diário da Câmara dos Deputados

tre êstes documentos há muitos outros que tiveram o seu natural curso.

Esta já tem o n.° 31 e a data de 23 de Abril.

É da Comissão Central do Pessoal Maior, o que lhe dá a impressão de que além da Comissão Central há outras comissões subsidiárias de resistência.

Da leitura do documento conclui o orador que a vontade do Govêrno, a vontade do Parlamento, são vontades que a comissão não reconhece nem aceita como legais.

Passa a ler outro documento, que diz ser elucidativo.

Antes, porém, observa que, como a numeração fôsse naturalmente muito elevada e, enfim, desse muito trabalho escrever vários números, sé voltou ao começo, sendo esta circular a n.º 1-A, já de 3 de Maio, ou seja das vésperas do movimento e verificando-se por ela que o pessoal tem assembleas secretas, para tratar dos seus interêsses.

Para que a Câmara o aprecie vai reeditar á leitura de um documento que diz que se pode conjugar com o anterior e donde se conclui que estas instruções foram daqui emanadas.

Êsse documento é de 4 de Maio de 1924.

Quere dizer que há uma comissão de resistência com delegados cna todos os pontos do país de maneira a fazer do pessoal dos correios e telégrafos um instrumento forte de luta contra o Estado.

É claro que a estas se seguiram naturalmente outras instruções que iam das estações principais para as outras com o fim de que o movimento tivesse toda a intensidade.

Lê um telegrama que documenta esta asserção.

Para que se veja como havia o firme propósito de fazer sabotage dentro daqueles estabelecimentos, faz a leitura de mais documentos.

O orador classifica de jesuítica a maneira como está redigido um dos documentos, no qual se diz que os telégrafo-postais sê mostram dispostos a trabalhar, mas simplesmente ficando dentro das repartições sem trabalhar, porque compromissos não valem nada.

Note-se que indicam aos seus camaradas que tomam todos os compromissos

que prestam todos os juramentos, declarando que não são grevistas.

Nesta data veio do Pôrto a Lisboa um funcionário que na estação do Rossio esteve a escrever algumas cartas que lhe foram apreendidas por um oficial da Direcção Geral de Transportes, porque se sabia perfeitamente que as cartas se destinavam a ajudar a greve.

Da maneira como esta carta está redigida, conclui-se que havia um entendimento expresso entre o funcionário chegado a Lisboa e o funcionário a quem era dirigida a carta» do teor seguinte:

«Lisboa, 10-5-924. — Caro Amílcar.— Cá cheguei e a respeito de novas há o seguinte: pessoal maior todo em greve, visto atitude militares tomarem conta das secções. Administração Geral isto é, todos os chefes de divisão e director portaram-se lindamente, especialmente o Roberto que teve de ser um pouco enérgico com o irmão, chefe dos serviços, porque êste, devido à atitude pouco louvável do Sanches, o ter desorientado.

O pessoal maior apresentou-se hoje na Administração Gorai ao António Maria; Êste recebeu-o menos mal, mas fez um discurso que ninguém o entendeu. Todavia está, à hora a que te escrevo, em conferência com o Ministro do Comércio.

O pessoal menor quis ter hoje uma conferência com o pessoal maior mas êste recusou-se terminantemente.

Não há dúvida de que estão já a cortar prego.

Há mesmo grandes desinteligências entre elos.

Não devem aí retomar o serviço; esperem.

Os aparelhos telegráficos ficaram sabotados de tal forma que ninguém os conserta tam depressa, estando por isso Lisboa sem meios de comunicações telegráficas com o resto do país.

Espera todos os dias carta minha, porque te informarei de tudo o que souber.

Ainda não estive com o Roberto, espero estar com êle logo na Matinha, às 10 horas.

Desculpa ser escrita a lápis, mas é a hora da partida do comboio.

Lembranças a todos.— O teu amigo, Alberto Pontes.

P. S. Peço mandes entregar essa carta a minha mulher.