O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 30 de Maio de 1924 21

— Pois sim, será isso, mas as ordens que tenho são para mandar sair dêste edifício todos os funcionários que dentro dele se encontrem, sejam quais forem os lugares que ocupem.

Nesse caso lavro o meu protesto e vou apresentar-me na Administração Geral, a fim do mo queixar o pedir instruções.

Permite-me, porém, que vá ao meu gabinete buscar uma pasta que lá tenho?

— Sim, senhor.

Segui nesse mesmo dia para a capital, apresentando-me no dia seguinte a S. Exa. o Sr. Administrador Geral, a quem narrei o que comigo se tinha passado.

Três dias depois regressei ao Pôrto, a fim de reassumir as minhas funções, caso isso mo fôsse permitido. Quando ali cheguei já encontrei quási todas as estações telégrafo-postais minhas dependentes ocupadas militarmentc, não obstante todo o pessoal maior se encontrar, como sempre, nos seus postos e fiel ao cumprimento dos seus deveres.

Soube também que a direcção do serviço da estação de Am arame havia sido assumida por um rural supranumerário, depois de ter insultado todos os seus superiores, quando êstes oram expulsos da repartição, o que o chefe da de Vila Nova de Gaia, porque não quis responder a uma pregunta que lhe foi formulada, em nome do comando militar, por dois serventes da central do Pôrto, tinha sido igualmente expulso do seu lugar.

Ante êste estado de cousas impossível me era ocupar o meu lugar. Apresentei-me, no emtanto, ao Sr. tenente-coronel Vieira Coelho e fiz-lhe sentir que nada ali podia fazer, por isso que o pessoal militar não me devia obediência; mas que iria para o meu gabinete aguardar que o meu pessoal fôsse reconduzido nos seus lugares, caso isso mo fôsse permitido, ou então que iria ao concelho do Penafiel proceder a unias averiguações, como me tinha sido ordenado superiormente. Para provar o que afirmava mostrei-lhe o oficio que tinha recebido nesse sentido. A isto respondeu o referido oficial:

— Não, não vá. Convém que se não ausente do Pôrto, a fim de evitar que o pessoal menor o aponte como um dos fomentadores da greve.

— Ninguém poderia afirmar similhante absurdo, pois todos sabem quanto sou inimigo de greves. E nesse caso também não convém a minha presença dentro dêste edifício, o por isso melhor será que V. Exa. me manda chamar quando o serviço reclamo a minha presença.

— Sim, senhor. Deixe-me a sua morada para êsse fim.

No dia seguinte, ou dois dias depois, mandou-me chamar para lhe entregar a chave do meu gabinete, a fim do ali instalar um oficial que desempenha as funções de tesoureiro.

Eis muito lacònicarnente o que comigo se passou; mas o que deixo dito é mais que suficiente para demonstrar o enxovalho do que ou e todo o meu pessoal fomos vítimas, bem como a afrontosa importância que no Pôrto se está dando ao pessoal menor, com grave prejuízo da disciplina e assaz atentatória da autoridade inerente ao lugar que me confiaram.

Lisboa, 30 de Maio do 1924.— O chefe dos serviços, Domingos Tomé.

Sr. Presidente: o documento que a Câmara acaba de ouvir ler traduz, em relação ao Pôrto, uma situação do facto, que só deu em muitos pontos do país, como Viana do Castelo, Évora, Braga, Portalegre, etc.

O Sr. Tôrres Garcia (interrompendo): — A quem foi dirigido êsse documento?

O Orador: — Êste documento foi-me fornecido para meu uso.

O Sr. Tôrres Garcia: — Então não é um documento; é uma simples informação particular.

O Orador: — Sr. Presidente: não sei a diferença que existo entre um documento e uma informação.

Eu não estou aqui com o intuito de agravar o conflito, mas apenas com o fim de procurar uma maneira de êle terminar para bem dos serviços e do país, sem nenosprezo da dignidade do Poder.