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Sessão de 26 de Junho de 1924 15

de compreender as cousas e outros conservam-se indiferentes.

Não pode ser indiferente a saída do Sr. Ministro do Comércio e não pode o Parlamento estar numa atitude que parece estar à espora de ordens de Paris.«.

Pois, nestas condições, porque não diz o Govêrno o seu pensamento?

Na situação actual o, caminho que o Govêrno tinha a seguir era deixar o caminho aberto a outro. Mas, longe disso, o Govêrno pretende continuar sem fazer cousa alguma.

S. Exa. o Sr. Presidente do Ministério, na sua proposta que ultimamente apresentou, cita números, que são vagos, porque não se fundam em cousa nenhuma.

S.Exa. quere com a sua proposta colocar o Parlamento numa situação de subserviência.

Mas não haverá um mau português que nesta hora se preste a acompanhar semelhante injustiça.

Todos sabem qual tem sido a situação do Govêrno.

Eu anunciei um negócio urgente sôbre a questão do pagamento dos juros da dívida externa o vieram-me pedir que não o realizasse porque o Govêrno seria derrubado.

Declarei que insistia; mas, por motivo dos meus sentimentos como português, não insisti.

No dia seguinte apresentei um novo negócio urgente; e de novo me vieram pedir que não tratasse também dessa questão.

Tudo isto que se tem passado é extraordinário.

O único caminho que o Govêrno tinha, a seguir — digo-o com lealdade — seria afastar-se das cadeiras do Poder.

O Govêrno tem vivido de artifícios; mas é bom não permanecer nos artifícios.

S. Exa. o Sr. Presidente do Ministério conhece-me e pode acreditar que não estou fazendo uma especulação política. Digo o que sinto, para honra e interêsse da República.

O Partido Democrático que tome as suas responsabilidades e que dê o seu apoio ao Govêrno.

Está no Poder quem tem maioria, e são as maiorias que sustentam os govêrnos.

Se o Govêrno tem fôrça e entende que o Parlamento não serve, dissolva o Parlamento.

Outra cousa seria uma miséria moral da política.

Se amanhã a Nação nos tiver de condenar, e se, porventura, a sua condenação nos tiver de atingir, que a nossa consciência esteja tranqüila.

Repito: continuando esta ficção, a consciência de V. Exa. amanhã não poderá 6otar tranqüila.

O homem da Serra que venha governar isto.

O Sr. Vergílio Costa (em àparte): — O Senhor da Serra!....

O Orador: — E se o homem de Paris não o quiser fazer, então que governe o Partido Democrático. V. Exa. está servindo de muleta; e na hora em que essa muleta não fôr útil, V. Exa. será atirado pela janela fora, sem sequer ter a consciência de ter prestado um serviço à Nação. Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Presidente, do Ministério e Ministro das Finanças (Álvaro de Castro): — Sr. Presidente: pedi a palavra para responder às considerações do Sr. Cunha Leal.

Inicio as minhas, agradecendo os termos de gentileza que teve a amabilidade de me dirigir, para lhe dizer que, em todos os actos e palavras que aqui vejo e ouço, tenho deles um sentimento de sinceridade, podendo, porventura, discordar das palavras pronunciadas e dos gestos feitos.

Sr. Presidente: nós estamos dentro duma democracia parlamentar. O Govêrno, ao constituir-se, fez a declaração formal de que queria viver com o Parlamento e suas indicações.

Está ainda hoje dentro dêste ponto de vista; e até agora o Parlamento não teve um voto que significasse ao Govêrno que devia retirar-se destas cadeiras.

O Sr. Cunha Leal (interrompendo): — V. Exa. dá-me licença?

Mas então peço-lhe uma cousa. Que recomende aos seus colegas e a V. Exa. também, que não se queixem do Parlamento como o têm feito.