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Sessão de 26 de Junho de 1924 27

e ainda mais pela dignidade própria de homens livres, que nos prezamos de ser.

Tais são as considerações que tinha a fazer para justificar a moção que mando para a Mesa.

O orador não reviu.

Foi admitida e entra em discussão.

O Sr. Vasco Borges: — Sr. Presidente: tentar iludir os factos, sobretudo tentar iludir as circunstâncias políticas, é sempre trabalho baldado, trabalho inútil, quando não redunda em origem de males para a República.

Sr. Presidente: encontramo-nos em face duma situação desta natureza:

O esfôrço que se emprega em dar vida a êste Govêrno, não é mais do que tentar iludir as circunstâncias.

Com êste debate vão certamente surgir várias moções de desconfiança ao Govêrno.

Mas a primeira moção de desconfiança apresentou-a um próprio membro do Govêrno, o Sr. Nuno Simões, Ministro do Comércio, ao abandonar o Poder. Esta é que foi a verdadeira moção de desconfiança.

O que neste momento se está passando nesta Câmara não pode constituir surpresa para ninguém, porque se trata de um acontecimento previsto e que todos aguardavam.

Acaso já foi explicada pelo Govêrno a razão da saída do Sr. Ministro do Comércio?

Até êste momento não foi pronunciada a tal respeito qualquer palavra para esclarecer a Câmara.

Todavia alguma cousa temos. Temos as explicações dadas pelo Sr. Nuno Simões no jornal A Pátria.

Dessas explicações resulta a conclusão de que S. Exa. abandonou a pasta do Comércio por julgar ineficaz e inviável a acção do Govêrno.

Sr. Presidente: como se vê, chegou a hora de o Govêrno se ir embora.

Não nos iludamos. É certo que o Govêrno tem obtido votações favoráveis.

Mas só quem tem o propósito de se iludir poderá deixar de dar a essas votações o seu verdadeiro significado — tam fracas, duvidosas e deminutivas elas foram.

Nessas votações foi muitas vezes uma indicação insofismável desta Câmara...

O Sr. Presidente do Ministério e Ministro das Finanças (Álvaro de Castro): — Não apoiado!

O Orador: — V. Exa. diz: não apoiado. Mas a verdade é que se o Govêrno de V. Exa. não sofreu há dias um cheque nesta Câmara, isso se deve ao facto de alguns membros do Govêrno votarem uma moção de confiança.

Apoiados.

O Sr. Presidente do Ministério e Ministro das Finanças (Álvaro de Castro): — Não se trata de um facto novo no Parlamento Português.

O Orador: — Eu não compreendo que o Poder Executivo possa ser, ao mesmo tempo, Poder Legislativo.

O que se tem feito é iludir as circunstâncias e os facto», e isso só pode trazer más conseqüências para o País. Não quero negar ao Govêrno patriotismo, boas intenções e desejo de acertar; mas o que é verdade é que o seu esfôrço nem sempre alcançou o que tinha em mim e assim a obra do Govêrno foi precipitada, tumultuaria, por vezes, e desconexa. E o Parlamento tem o direito de manifestar ao Sr. Álvaro de Castro a sua estranheza, até mesmo a sua frieza, porque, com efeito, o Govêrno passou constante-mente por cima do Parlamento.

O Sr. Velhinho Correia: — Felizmente!

O Orador: — Um Deputado da Nação não tem o direito de desejar uma tal felicidade.

O Sr. Velhinho Correia: — Estamos já no fim de Junho e ainda não se discutiram, os orçamentos.

O Sr. Pedro Pita: — £ Mas se o Parlamento não cumpre a sua missão, para que faz V. Exa. parte dele?

O Sr. Velhinho Correia: — Para poder protestar.

Vozes: — Tem graça!

O Orador: — O Govêrno nem sequer teve em conta o crédito externo da Nação.