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20 Diário da Câmara dos Deputados

cialistas a nela também emitirem a sua opinião, ao menos para protestarem contra a forma como ela decorre.

Sr. Presidente; à Câmara cansará uma certa estranheza o lacto de eu entrar na apreciação dum orçamento para a qual não estou habilitado; porém, segando a proposta ontem aqui apresentada, vejo-me na necessidade de apresentar a minha opinião. Tendo-se realizado determinadas economias num determinado Ministério, não compreendo que se apresente agora uma proposta cujo fim único é torpedear essas economias.

Sr. Presidente: tenho ouvido dizer a toda a gente que as escolas de ensino primário superior falharam por completo à sua missão; tenho ouvido dizer a toda a gente que a maioria dos seus elementos não está em condições de exercer o magistério, como é absolutamente indispensável e com aqueles conhecimentos a que se referiu, e muito bem, o Sr. João Camoesas.

Interrupção do Sr. João Camoesas que não se ouviu.

O Orador: — Claro está que eu não me estou referindo a toda a gente, mas sim a uma parte dêsses professores; haja vista a reorganização feita pelo Sr. João Camoesas, que tem, na verdade, uma grande competência e grandes conhecimentos para entrar na apreciação dos mais altos problemas sôbre instrução pública. S. Exa. apresentou a esta Câmara uma proposta de lei sôbre a reorganização do ensino primário superior em Portugal, proposta que tem por fim colocar êsse ensino à altura devida, de forma a que se possa ir preparando a mentalidade daqueles que amanhã hão-de dirigir a sociedade portuguesa.

O Sr. João Camoesas, que tem uma altíssima competência no assunto, certamente em breve me dará um apoiado vibrante, quando me referir a alguns pontos, do seu vasto plano.

É claro que toda a terra provinciana, com mais ou menos habitantes, tem o desejo de possuir um liceu. Eu lembro-me, a propósito, dum governador lá da minha província, o Sr. D. Bernardo de Mesquitela, pessoa que tem espírito. Na Ilha de Santo Antão, creio bem, foi-lhe uma vez oferecido um banquete, No final resolveu S. Exa. atender as pretensões dos grandes influentes locais, e, acompanhado do seu inseparável secretário, Sr. D. Caetano de Bragança, começou a tomar nota dessas pretensões. Vinha um e pedia-lhe uma estrada.

— Tenho as minhas, propriedades dispersas e não posso exercer a minha actividade em toda a parte, resultando daí uma péssima administração.

E logo o Sr. D. Bernardo, voltando-se para o seu secretário, ordenava:

— D. Caetano, tome nota. Uma estrada para o Sr. F.

Vinha outro e alegava:

— Sr. governador, tenho tantos filhos, as escolas são muito poucas e dispersas. Veja V. Exa. se pode dar-me um remédio para esta situação, a fim de que os meus filhos possam fazer o seu curso.

E o Sr. governador mandava:

— D. Caetano, resolva de vez o assunto: um liceu para o Sr. F.

Assim, foram estradas, foram liceus, foram caminhos de ferro - tudo foi anotado no livro de lembranças do Sr. D. Caetano. Estamos agora na mesma situação. Todos os Srs. Deputados querem um liceu para a sua terra. É uma questão de tomar nota e nada mais porque, como dinheiro não há, é natural que se não possam realizar os intuitos eleitorais dos Srs. Deputados.

Quanto às escolas primárias superiores, é claro que toda a gente as quere. Onde não há um liceu deve haver, pelo menos, uma escola primária superior.

Um àparte.

O Orador: — Não sei se o Sr. João Camoesas, no seu largo plano de elevação da mentalidade portuguesa pela instrução, se lembrou de extinguir os liceus. Se o tivesse feito mereceria uma estátua, e certamente a posteridade a iria cobrir de flores em todos os dias do aniversário dêsse notável feito, porque todos nós que freqüentamos os liceus temos de concluir que a educação que nesses estabelecimentos se ministra é absolutamente, inútil para a vida prática. Os métodos de ensino são antiquados, os professores ainda consubstanciam todo o saber num exercício de memória e o material escolar é deficiente, ainda que tenhamos de reconhecer que alguma cousa se tem feito a êste respeito.