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Sessão de 17 de Novembro de 1924 17

ser transformada de um dia para outro nesse Eldorado salvador do País.

Mas, Sr. Presidente, em Angola havia uma imprensa, havia uma opinião pública e havia funcionários, alguns deles muito competentes.

Existia um Conselho Legislativo, representando toda a província, distrito por distrito. Pois bem! de nenhum dêstes elementos partiu qualquer movimento de protesto ou manifestação de desacordo com a acção do Alto Comissário. Estavam todos de acordo com os planos dêsse Alto Comissário que foram sempre aplaudidos pelo Conselho Legislativo e, portanto, se houve erros, há muita gente que neles tem a sua cota parte de responsabilidade; se houve crimes, há muito e muito cúmplice.

Não se compreende que, agora, todos êsses que aplaudiam se ponham ao largo, e, renegando todas as afirmações feitas quer nos jornais, quer em cartas para a metrópole, quer em festas oferecidas ao Alto Comissário digam: «esse homem é um inepto! êsse homem é um criminoso!»

Isto é demais. Não estou a defender o Sr. Norton de Matos.

S. Exa. não está em Angola, onde devia estar, porque não quis voltar para lá; e, se quisesse defender-se, tinha aqui, nesta Câmara, o seu lugar para o poder fazer.

O que eu quero é acentuar que a autonomia financeira das colónias tal como está não é nada.

Não é autonomia das colónias, mas porventura um processo de criar tiranetes no meio de uma multidão de irresponsáveis.

Se queremos continuar a ter colónias, e se pretendemos administrá-las convenientemente, é indispensável que o regime em que actualmente se encontram seja modificado por forma a que não seja possível darem-se cousas como aquelas de que ultimamente nos temos ocupado em relação a Angola. Se tanto fôr necessário volte-se à forma primitiva.

Sr. Presidente: a política que Angola seguiu, sob a acção do seu ex-Alto Comissário, foi a que, naturalmente, agradava a toda a província. Gastava-se muito dinheiro, mas todos aproveitavam alguma cousa com isso.

Mas fez-se alguma cousa?

Fez-se realmente; iniciou-se pelo menos ama obra de fomento.

Não cabia, é certo, na capacidade financeira da província e do nosso crédito e por êsse motivo no dia em que chegaram os primeiros vencimentos a honrar no estrangeiro, e tendo sido esgotadas todas as coberturas que a província tinha na metrópole e no estrangeiro, houve a falência, vieram as letras protestadas e a província não pôde continuar a sua obra. Mas, seja como fôr, alguma cousa ficou feita: há muitas estradas, muito material de caminhos de ferro, estudos de vários trabalhos a realizar, emfim, chamaram-se fortemente as atenções do País e do estrangeiro para Angola.

Posso afirmar que o potencial económico de Angola aumentou extraordinariamente.

Entretanto Sr. Presidente, que se passara na metrópole?

Já sabemos que na província, a imprensa, a opinião pública e o Conselho Legislativo não impediram, antes apoiaram sempre a administração, que hoje todos dizem mal orientada, feita pelo Alto Comissário; mas por seu lado qual foi a atitude do Ministério das Colónias?

Em boa verdade, não posso deixar de fazer esta pregunta, de estudar êste aspecto da questão.

Não me refiro aos Ministros que têm passado pela pasta das Colónias, nem ao actual Sr. Ministro. Refiro-me à entidade Ministério das Colónias.

Que organismo é êsse que após dois anos dessa tam reclamada obra de Angola, e no dia em que aparecem letras protestadas para se pagarem, não tem elementos que habilitem o Govêrno a expor claramente ao País a situação financeira da província?

Como é que isto pode suceder?

Sucede porque não há no Ministério das Colónias uma única repartição que se interêsse, que esteja, a par do que se passa nas colónias. Parece incrível, mas é assim. Até mesmo nem um único jornal da África do Sul ali se encontra!

Se a Câmara me permite, eu abusarei um pouco mais da sua atenção para lhe contar um caso que se passou comigo há muitos anos.

Regressando de Moçambique depois de ter percorrido toda a região da África do