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Sessão de 18 de Novembro de 1924 19

mostrou claramente que nunca esteve nas colónias. S. Exa. não avalia quanto elas são ciosas da sua autonomia e como é difícil exercer aquela fiscalização minuciosa que vários parlamentares me têm exigido.

Sr. Presidente: o debate já vai longo, a discussão está já esgotada e eu terminaria imediatamente se não desejasse referir-me ainda à província de Moçambique.

O Sr. Ginestal Machado estranhou a demora do Alto Comissário de Moçambique em Londres, e preguntou se o Ministro das Colónias se havia alheado do caso. Não alheou.

Em devido tempo eu preguntei ao Sr. Alto Comissário se não podia abreviar a sua partida para Moçambique, visto a sua permanência em Londres ter começado a ser notada.

S. Exa. respondeu-me satisfatoriamente, apontando as razões dessa permanência. Eu não podia, pois, tomar outra atitude que não fôsse aquela que tomei.

Quanto às questões de Moçambique devo dizer que efectivamente existe uma política da República: a de não ceder uma polegada dos nossos territórios ou dos nossos direitos ao estrangeiro.

Quais as instruções que se deram ao Alto Comissário? As mesmas que tinham sido dadas anteriormente: não ceder nada, absolutamente nada, em questão de soberania, nem ultimar quaisquer negociações. E, neste ponto, eu peço licença para não ir mais além.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Ginestal Machado: — Sr. Presidente: duas palavras apenas para explicar as minhas de ontem, que me parece não terem sido ouvidas pelo Sr. Ministro das Colónias ou que não foram compreendidas no seu verdadeiro sentido; e outras duas também para agradecer a S. Exa. os seus cumprimentos.

Mas S. Exa. não se esqueceu de dizer que bem se via pelo meu discurso, embora floreado, que eu nunca tinha estado nas colónias.

Em bom português, quis dizer S. Exa.: muita parras pouca uva.

O Sr. Ministro das Colónias (Bulhão Pato): — Eu quis apenas dizer que V. Exa.
não sente aquele aspecto cheio de calor que têm as colónias, e que se caracteriza num grande desejo de autonomia.

O Orador: — Sr. Presidente: também o Ministro das Colónias se enganou convencendo-se de que eu nunca tinha estado nas colónias. Já lá estive um ano e tanto. De resto, é possível que eu, com efeito, me tenha esquecido de tal calor que por lá se sente.

Sr. Presidente: Disse S. Exa. que eu queria que o Govêrno e o Ministro das Colónias interferissem nos pormenores da vida das nossas possessões e que assim se extinguisse a autonomia relativa de que elas gozam.

Mas eu não disse nada disso.

Certamente a distância que nos separa e as más condições acústicas desta sala fizeram com que chegasse apenas aos ouvidos do Sr. Ministro das Colónias uma parte das minhas considerações.

Se chegassem todas eu faço inteira justiça à inteligência de S. Exa. a elas seriam, por certo, compreendidas no seu verdadeiro sentido.

Só estranhei que o Sr. Ministro das Colónias, quando lhe chegou o conhecimento ao seu Ministério de que letras estavam apontadas para protesto — e S. Exa. acaba de relembrar a tradição que existe de Portugal honrar os seus compromissos — só estranhei, dizia eu, que, dadas as condições apontadas, S. Exa. não procedesse a um inquérito à administração de Angola.

Quanto a autonomia, eu disse que seria necessário, todavia, não cair no extremo do retirar a autonomia de que gozam as colónias. Era preciso que adoptássemos o meio termo.

Não quis dizer nem defender a volta à centralização e à intervenção demasiada do Terreiro do Paço.

Eu julgo — e a Câmara julgá-lo há também — que o Govêrno vai fazer agora — e já o podia ter feito há três meses, quando ao seu conhecimento chegou, a notícia de que as cousas não corriam devidamente em Angola — um rigoroso inquérito à administração nessa província.

Quanto à palavra «ingénuo» ela não tem, na verdade, uma significação pejorativa.

«Ingénuo» quere dizer cheio de ilusões.