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Sessão de 18 de Novembro de 1924 39

rante dois anos — julgava eu que, como sucedia noutros tempos, um homem que tam caro tivesse custado ao seu país não tivesse a coragem de se levantar do seu lugar como um acusador. Não, S. Exa. não é um acusador. Um homem que permite na pasta das Colónias que a província de Angola chegue à situação a que chegou, que permite todo o descalabro que a Câmara acaba de conhecer pelas palavras do actual Alta Comissário, não tem o direito de se levantar daquelas cadeiras como juiz. Não! S. Exa. é réu!

Hora a hora, nós vemos na República que os homens que aplicam as medidas mais prejudiciais ao país longo de serem afastados dos seus lugares, ainda pelo contrário são premiados cora nomeações e escolhas, como o Sr. Rodrigues Gaspar que foi escolhido, para Presidente do Ministério.

Mas o Sr. Presidente do Ministério veio dizer que a prova de que a administração da República é sã, é que o Sr. Ministro das Colónias não teve dúvidas em abrir as portas do seu Ministério para irmos lá ver aquele documento a que aqui se fez referência. Pois pregunto a S. Exa. e ao Sr. Ministro dos Estrangeiros por que razão não tem sido fornecida a êste lado da Câmara uma nota dos abonos em ouro que têm sido concedidos aos funcionários de toda a ordem que andam lá fora em regabofes, quando o país tem as suas finanças tam avariadas.

Nunca daqui alguém fez afirmações sem provas. Nós levamos o nosso cuidado ao ponto do Sr. Morais de Carvalho dizer que não fazia comentários ao documento referido porque êle estava sujeito a um inquérito. Mas é ou não verdade que se vê a província de Angola e conseqüentemente a metrópole em grave situação financeira, devida à acção perniciosa do Sr. Presidente do Ministério?

Ninguém o pode contestar. Como é então que os homens que defendem os que como o Sr. Norton de Matos, acarretam ao país prejuízos de centenas de milhares de contos, têm o arrojo de aqui usar da palavra para acusar aqueles que aqui estão a cumprir o seu dever de oposição verdadeira a tudo o que é ruinoso para a Nação?!

Ao Sr. Rodrigues Gaspar não serviu de emenda a sua atitude durante os dois
anos em que foi Ministro das Colónias, negando os factos que se passavam em Angola e defendendo o Alto Comissário, Sr. Norton de Matos. Não lhe serviu de emenda, porque, depois de conhecidas as conseqüências da ruinosa administração do Sr. Norton de Matos, S. Exa. ainda insiste nessa desastrada defesa, para mais marcar as responsabilidades que o ligam ao desastre que se deu em Angola.

Não quer abusar da atenção da Câmara, tanto mais que estou no uso da palavra para explicações; mas devo frisar a circunstância de que o Sr. Rodrigues Gaspar nem uma palavra disse acerca das suas responsabilidades como Ministro das Colónias. S. Exa. é um dos homens mais caros que tem havido no nosso país.

O Sr. Rodrigues Gaspar, querendo defender a moral.do regime, afirmou que os tão abertas as portas das repartições para vermos os documentos.

Pois bom: faça o Sr. Rodrigues Gaspar, faça o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros com que nos sejam fornecidos imediatamente os documentos que, há dois anos, vimos pedindo e nos são negados; e depois diremos se há ou não escândalos. Mandem-nos as contas do fundo de maneio dos cambiais, que a lei manda que sejam publicadas semestralmente o que há dois anos se não publicam. Mandem-nos as contas do pão político. Peguem nesse relatório do Conselho Superior Judiciário, que diz haver já mais de cem processos instaurados por causa dos Transportes Marítimos do Estado, e façam seguir todos êsses processos. Depois - de fazerem tudo isso, têm direito a falar; mas, emquanto o não fizerem, não podem dizer uma palavra, porque são réus e réus de crimes graves contra a Nação.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Sá Cardoso (para explicações): — Sr. Presidente: a duas cousas o Sr. Presidente do Ministério se referiu que mo obrigam a de novo usar da palavra. A uma delas, de somenos importância, vou desde já aludir. Disse S. Exa. que, quando tomou conta do Ministério do Interior, o foi encontrar cheio do dívidas, não tendo sequer papel para escrever nem quem o fiasse.