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10 Diário da Câmara dos Deputados

Publiquei até uma portaria proibindo que os funcionários públicos pudessem receber donativos dos chineses da colónia.

E sabem V. Exas. como é que isso apareceu nos jornais da Metrópole?

Isto só serve para indicar a boa vontade com que se procede no Ministério das Colónias contra mim.

Disse-se nos jornais que o Ministro tinha dado ordens para que o governador não recebesse presentes da população de Macau, como se isto pudesse ser, o não fôsse antes um enxovalho dirigido àqueles que lá representam a colónia nacional.

Aproveito a ocasião para expor perante a Câmara o facto.

A Câmara conhecerá, apreciará o julgará como entender.

É costume em Macau, e no Oriente em geral, por ocasião das festividades do Ano Novo china, enviarem-se presentes às autoridades.

Eu, que não conhecia êsse costume, fiquei admirado de ver entrar no palácio do Govêrno presentes valiosos, não de amigos moas, que os não tenho lá, mas das companhias concessionárias, que são as que constituem, quási, a única fonte do riqueza da colónia.

Comecei a ver entrar êsses presentes no palácio. Preguntei o que isso queria dizer; e explicaram-mo:

"É costume na China enviarem-se, pelo Ano Novo, êstes presentes valiosos ao governador".

Respondi;

"Diga lá à porta que o governador actual não recebe presentes de nenhuma natureza, senão dos seus amigos mais íntimos".

Estranhou-se que eu tivesse feito isso.

Fiz uma portaria e levei-a ao Conselho Legislativo. Mas, antes, fui procurar nas ordenanças inglesas o que se fazia na vizinha colónia de Hong-Kong.

Aí é proibido aos funcionários, e pessoas de suas famílias, receberem qualquer cousa da população chinesa da colónia de Hong-Kong.

Levei, portanto, ao Conselho Legislativo o facto.

Disseram-me ainda:

"Isso é ir contra os costumes seculares. Os portugueses sempre receberam o toda a gente recebe presentes. De maneira que a população chinesa vai ficar muito desgostosa".

Mas, objectei, se a colónia inglesa procede assim porque não havemos nós de o fazer?

Pedias ordenanças inglesas, mostrei-as, e assim ficou demonstrado não haver mais razão para o não fazer.

O mais interessante e que, há dias, lendo parte da história de Macau, encontrei, numa data não muito longínqua, que por aquela colónia passou um governador que teve o mesmo gesto. A diferença está em que portaria? desta natureza depressa se esquecem; e por isso mesmo ninguém a conhece, já.

Entretanto, nós continuamos a ter presentes dos chineses.

Não esqueçamos que estamos lá por razão de vária ordem, todos dignos da nacionalidade a que pertencemos.

Criei muitos inimigos em pouco tempo, com o que muito me honro, porque, hoje, quem tem tantos inimigos é porque segue uma linha de conduta recta e honesta, há alguma cousa de honroso.

Apoiados.

Portanto, não é porque eu não tenha a dignidade do lugar que estava desempenhando; não é porque não tivesse dado ao lugar que desempenhei todo o prestígio que devia ter quem quere bem ocupar um lugar desta natureza, que eu fui exonerado.

Julgo, porém, que grande honra, a maior de todas, é termos a aureolar-nos a grandeza do nosso poder moral.

Apoiados.

Na ordem que S. Exa. seguiu sôbre os actos do má administração do governador demitido, ou tenho de saltar um pouco, tratando com antecipação de um assunto que já aqui foi tratado: é o caso das corridas de cavalos.

O Sr. Ministro, ontem, disse aqui, perante a Câmara, que o meu desvairamento e desregramento administrativo era de tal natureza, que não tive dúvidas em apresentar ao Conselho Legislativo uma proposta para a abertura dum crédito de