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14 Diário da Câmara dos Deputados

Também não posso deixar de dizer que do lado outros republicanos que têm praça assente do Partido Democrático, e com os quais eu, porventura dentro de poucas horas, vou votar para derrubar o Govêrno, existia o propósito firme da vingança política contra o adversário leal que nunca andou pelas alfurjas a pedir a morte de quem quer que fôsse.

Apoiados.

Infelizmente as circunstâncias políticas podem forçar-me, e forçam-me, a estar nesta hora ao lado de uns contra outros; mas um dever de lealdade se impõe à minha consciência : é afirmar a minha consideração por aqueles que acreditaram na minha palavra de honra, e a minha irredutibilidade política com aqueles que vou acompanhar na votação contra o Govêrno.

Homem de honra, entendo que aqueles que em certa altura zelam pela minha honra merecem, embora meus adversários, levados cada um por um sentimento político diverso, mas adversários que eu considero e respeito, a minha considera cão pessoal, a minha gratidão pessoal gratidão dum homem que em circunstância nenhuma da vida pode deixar de aprestar.

Não posso esquecer os benefícios que me fazem, nem os ultrajes que me impõem.

Apoiados.

Mas os nossos sentimentos, pessoalmente, nada têm com as condições de vida política.

Ainda não tive ocasião de encontrar os interêsses do partido em colisão com os interêsses da República. Por isso sirvo a República acima do nosso sentimento pessoal, acima dos nossos sentimentos mais íntimos, para cumprir o nosso dever.

Então os adversários políticos, em vez do terem razão para continuar lá fora uma vida de lata, em que o ódio aponte às multidões o nome do inimigo, têm apenas de fazer respeitar-nos, mesmo quando não destruam o seu ódio.

Para nós marcarmos a nossa posição política neste momento é preciso fazer um bocadinho de história, e é preciso saber como se gerou a crise política do Govêrno Vitorino Guimarães.

O Sr. Vitorino Guimarães, com uma enorme arrogância e com uma intransigência extraordinária, pôs nitidamente à Câmara êste problema: ou a Câmara, desmentindo-se a si própria, votava seis duodécimos, e elo poderia depois livremente fechar a Câmara e fazer o que muito bem entendesse, ou então sairia,

O problema político, pôsto com esta rigidez e intransigência, exige da parte de quem o pôs um pensamento definido.

O político é um ser essencialmente maleável.

Torna-se intransigente quando não tem ideas políticas ou quando quere praticar qualquer acto propositado.

Qual foi o pensamento do Sr. Vitorino Guimarães ao pôr por uma forma tam inflexível, iam pouco maleável, o problema político?

Porque é que o Sr. Vitorino Guimarães quis enxertar uma questão de confiança na proposta dos duodécimos?

Eu não vejo senão duas hipóteses possíveis para explicar uma tam estranha intransigência.

O Sr. Vitorino Guimarães sabia que no dia 29 do mós passado o seu feliz ex-Ministro do Interior havia de ser, por vontade do Go\0rno, principal accionista da Companhia Portuguesa dos Caminhos de Ferro, nomeado administrador da referida Companhia, exemplo único na nossa vida política, (Apoiados) porque nunca foi possível conceber até hoje que um Ministro pudesse usar da sua influência do membro do Poder Executivo para a pôr ao serviço das suas conveniências particulares.

Apoiados.

Já quem pertencia a maioria de votos? Ao Govêrno, ao Govêrno que impôs que ela se empregasse em favor de um dos seus membros. Exemplo máximo de dissolução moral que nunca se viu, nem na República, nem na Monarquia.

Apoiados.

A própria Constituição, que parece não existir já, não esquece as cautelas suficientes para impedir semelhantes factos. Um Deputado não pode ser eleito para membro dum conselho de administração que tenha interêsses ligados ao Estado.

Isto diz a Constituição, mas, mesmo que o não dissesse, o facto seria tam monstruoso que ninguém que tivesse um são conceito da moralidade o cometeria.

Apoiados.