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Sessão de 16 de Maio de 1924

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£ Jornalista e parlamentar que sou, fazendo uma vida que não poupa sequer os amigos, é por isso que eu sou um mau cidadão ?

Não está certo, Sr. Presidente.

As questões administrativas tratam-se como questões administrativas; não comportam insinuações, não comportam senão acusações terminantes, claras e em termos de não andarmos a enxovalhar-nos uns aos outros.

Sr. Presidente: para chegar a Ministro do Comércio não solicitei favores de ninguém, nem para desempenhar as funções que me têm sido incumbidas, preciso também desse favor.

Eu não tenho clientelas interesseiras; dou a minha actividade até onde posso dá-la, mas nunca me esqueço de .que há uma natural divisória onde acabam os interesses do Estado e começam os particulares. .

Apoiados.

Diga-se o que se quiser dizer, mas diga-se com provas, para se ver até que ponto eu desmereço daquilo que a mim mesmo devo.

Eu sei, Sr. Presidente, que sou uma pessoa modesta, que não tenho a glória que tem o ilustre Senador Sr. Ernesto Navarro, de ser filho de um dos mais ilustres homens deste . país; mas não é por isso que deixo de usar um nome honrado, que foi a única herança que tive. •,

A minha responsabilidade não é menor do que a sua.

Contra mim, como em geral, contra as pessoas que em Portugal procuram sempre, através de tudo, fazer a sua obrigação, levantam-se campanhas.

Estou a senti-las; de vez em quando vêm em certas gazetas cartinhas, em que se mo fazem acusações várias.

Não sei de onde elas surgem, mas devem por certo partir de almas muito generosas, tara generosas que até escondem o nome, para que ninguém lhes possa agradecer.

. Quando na Câmara dos Deputados levantei a questão dos tabacos, também essas campanhas surgiram contra mim, na hora em que eu, que ainda não era Ministro, cumpria inalteràvelmente o de-. ver, que tem todo o parlamentar, de zelar pelo interesse público.

O Sr., Ernesto Navarro acusa-mo de

lhe ter má vontade pessoal e de me ter servido para o meu caso da minha imprensa.

-Oh! Sr. Presidente! A minha imprensa é tam restrita que não vejo razão para que se preocupem com ela.

Eu bem sei, Sr. Presidente, que a imprensa se dirige ao grande público, mas o que é verdade é que o jornal de que estou afastado desde que entrei para o Ministério, se tem coibido de estar a dizer sobre este ou sobre outros assuntos, mais do que aquelas palavras de esclarecimento que reputa indispensáveis.

Sr. Presidente: eu não tenho qualquer espécie 'de má vontade ao Sr. Ernesto Navarro, que declarou ter posto nas minhas mãos a sua demissão, no acto da minha posse.

Já tive «ocasião de informar o Senado da que eu não tive acto 'de posse, e, portanto, S. Ex.a não tinha de me pôr nas mãos a sua demissão.

Uma vez, num despacho meu, encontrou o Sr. Ernesto Navarro uni motivo de dúvida. Pediu-me, por intermédio de dois amigos meus, .que retirasse uma palavra que tinha escrito. S. Ex;a sabe que eu retirei essa palavra.

Nessa altura falou-me em demissão; mas como eu não tinha a intenção de o demitir, acedi aos seus desejos com esforço.

Os efeitos políticos que S. Ex.a procurou tirar da interpelação não me podem • atingir, nem conseguirão prejudicar a marcha do processo disciplinar que está correndo, porque .na hipótese de eu sair deste lugar, em que não tenho nenhum interesse, o magistrado incumbido da elaboração do processo elaborá-lo há com a mesma sinceridade que neste momento está empregando, de modo a manter o prestígio do poder contra todas as más vontade.

Julgo ter respondido a tudo o que o Sr. Ernesto Navarro aduziu contra mim e ainda a quantas afirmações se fizeram e não reputo dignas do Senado, para não dizer que o não são de quem as fez.

O orador não reviu.