O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Diário das Senões do Senado

j Estou a ver o sorriso que há de ir pela. tface glalira dos ingleses ao terem de tratar coiu o nosso representante!

Sr. Presidente: u nossa situação de Angola, que chega a tomar proporções trágicas, cooo ontem foi desvendado pelo Alto Comissário, íSr. Rego Chaves, na Câmara dos Deputados, com .ima dívida •que vai a. mais de 3 milhões dá libras, e xiom uma receita apenas idealizada peio Sr. Norton de Matos, coloca, seia dú\ida, •este homem numa situação-bastante grave para poder estar à vontade em Londres.

• Eu julguei que o Sr. Nortoi: de Matos «rã um homem prático, na boa acepção da palavra, sem sonhos, sem idealismos, apenas coo ânimo iorte e energia decidida, que eram aliás os predicados que os seus admiradores lhe atribuíam, tan':o pelo que fez para a nossa intervenção na guerra, como pelo que se dizia estar rea-

.lizando ern Angola. Afinal não é nada disso.

Vejo que S. Ex.a sofre ca mesma doença que afecta tantos portugueses, daquele sentimento de aventura quo foi sempre peculiar ao nosso povo e que ó simplesmente louvável e apreciável quando serve de estímulo para grandes acções. Bom disso o Sr. Rodrigues Gaspar quando como simples Deputado fez uma larga dissertação sobre aventureiros que vinham por tim a cair nos sanatórios da Loncres para se curarem das suas doenças morais.

Sr. Presidente: perante uma situação destas não faz sentido que continue em Londres o Sr. Norton de Matos.

Há grandes ambições à volto das nossas colónias e nomeadamente da rica província de Angola.

E precise, pois, que junto da nossa se-

• cular aliada alguém nos represente com indiscutível autoridade para defender absolutamente o nosso património colonial.

Não me parece que essa pessoa idónea e competente seja o Sr. Norton de Matos, e o qua eu sinto sente-o também a consciência nacional.

Quem representa o país tem de estar absolutamente isento de quaisquer suspeitas. Deve impor-se por si próprio, pelas suas qualidades pessoais por unia autoridade correspondente à do país que re-presenta e à razão e direito das suas reclamações, u£.o abstraindo daquela máxi-

ma de Talleyraud tani conveniente, quando dela se não abuse, em diplomacia e nào esquecendo também que a. energia oportuna tantas vezes resolve definitivamente, fazendo cessar todas as oposições.

^ Mas Sr. Presidente, em tal conjuntura, que Deus afaste1., será o Sr. Norton de Matos a pessoa capaz de usar dessa energia,? Evidentemente que não. O Sr. •Norton de Matos desmereceu no conceito do país e isso sabe-o bem a Inglaterra. .O Sr. Ministro dos Estrangeiros fará muito bern mandando-o vir de Londres, não em passeio, como sucedeu com o Sr. Veiga Simões, mas fazendo-o regressar ao Liais definitivamente. Como está é que se não compreende que continue.

Eu não entendo nada disto, Sr. Presidente, porqne já me habituei a não querer entender.

Risos,

O Sr. Norton de Matos quererá ser o .Noli me tangere, mas o brio e a dignidade nacional, obrigam a tocar-se no ídolo.

Há muitos ídolos é certo, no país, mas tenho visto infelizmente, que todos eles têm pés de barro.

Pausa.

Sr. Presidente : cansei muito a atenção da Câmara e do Sr. Ministro dos Estrangeiros, demais a mais tendo-se-me permitido o uso da palavra' depois da hora regimental. Tinha mais • assuntos a tratar, mas vou terminar. Fico com a certeza de que o Sr. Vitorino Grodinho não se irá embora da cadeira de Ministro que. presentemente ocupa, tam depressa' como muitas pessoas da sua amizade politíca de: sejam, e então espero que S. Ex.a terá a bondade de novamente me escutar.

Os pontos principais, como referi, são agora dois. Um deles refere-se ao Sr. Norton de Matos e à delimitação do sul de Angola. E se possível fosse, (compreendo todas as reservas neste assunto), o Sr. 'Ministro dizer alguma cousa a respeito da situação de Angola e Moçambique perante o estrangeiro, muito útil e conveniente seria para elucidação do país.